Ela apresentou uma investigação conjunta da ONU e da comissão etíope dos direitos humanos - criada pelo governo de Adis Abeba - sobre o conflito que assola o país há um ano.
"Existem motivos razoáveis para acreditar que todas as partes (...) cometeram violações do direito internacional, dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e do direito internacional dos refugiados, algumas das quais podem constituir crimes de guerra e contra a humanidade", conclui o relatório.
Em sua apresentação em Genebra, Bachelet afirmou que "a gravidade das violações e as agressões que registramos apontam a necessidade de responsabilizar os autores, independentemente de seu lado".
"Esta investigação é a oportunidade para que todas as partes reconheçam suas responsabilidades, comprometam-se a adotar medidas concretas em termos de responsabilidade e reparação às vítimas e encontrar uma solução sustentável para acabar com o sofrimento de milhões de pessoas", afirmou o presidente da Comissão Etíope, Daniel Bekele, citado em um comunicado do Alto Comissariado.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, afirmou que o documento "demonstra claramente que as acusações de genocídio são falsas e não têm nenhuma base", segundo um comunicado do governo. Além disso, afirmou que acaba com as acusações de que matou a população civil de fome.
O documento envolve o período de 3 de novembro de 2020, data em que o primeiro-ministro e Nobel da Paz Ahmed iniciou a ofensiva contra os dirigentes dissidentes de Tigré, até 28 de junho, quando o governo declarou um cessar-fogo unilateral.
Desde então, a situação na região mudou consideravelmente, a ponto de o governo etíope declarar na terça-feira estado de emergência no país, diante do avanço da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF) rumo à capital.
Bachelet disse que está "profundamente preocupada" com a declaração do estado de emergência, "que corre o risco de agravar ainda mais a situação dos direito humanos no país", enquanto as novas restrições ao acesso à ajuda internacional "podem piorar uma situação humanitária já extremamente difícil", segundo o comunicado.
Também denunciou novos abusos cometidos desde 28 de junho.
Apresentado simultânea, mas não conjuntamente na Etiópia por Bekele, o relatório tem como base uma investigação no país, 269 entrevistas confidenciais e reuniões com autoridades locais e federais, com representantes de ONGs e com profissionais da área da saúde.
- Obstáculos -
A equipe de investigação enfrentou obstáculos e não conseguiu fazer todas as visitas previstas em algumas partes de Tigré, destaca o comunicado do Alto Comissariado.
O relatório levantou dúvidas sobre sua imparcialidade, porque um dos investigadores do Alto Comissariado foi expulso da Etiópia pelas autoridades, ao lado de outros seis funcionários da ONU.
A TPLF criticou o documento, alegando que sua "metodologia tendenciosa mancha a reputação" do Alto Comissariado.
O governo considera que sua colaboração com a instituição é "a demonstração da seriedade", com a qual aborda o respeito aos direitos humanos.
Com base em testemunhas, o relatório denuncia ataques indiscriminados contra civis, execuções extrajudiciais, tortura, sequestros, detenções arbitrárias, estupros e saques.
Os investigadores se reuniram com mulheres sobreviventes - metade delas foi vítima de estupros coletivos - e também foram registrados atos de violência sexual contra homens.
A tortura é endêmica, com "vítimas agredidas com fios elétricos e barras de ferro, detidas em sigilo, ameaçadas com armas de fogo na cabeça e privadas de comida, ou água".
O texto também relata massacres que mataram centenas de civis e acusa todas as partes de ataques contra escolas, hospitais e locais religiosos.
audima