Um ano após um confronto com soldados chineses, a Índia reforça sua defesa na fronteira ao longo da maior cordilheira do planeta, um foco de conflito constante entre os dois países.
O estado de Arunachal Pradesh fica em uma parte do Himalaia na fronteira com o Tibete e compartilha uma herança cultural budista com seus vizinhos do norte.
O dalai lama fugiu por este estado em 1959 após uma revolta fracassada contra o governo chinês no Tibete, e desde então vive na Índia.
Pequim também reclama a soberania de Arunachal Pradesh, que chama de Tibete do Sul, e ocupou a região por três anos após a saída do líder budista, em uma guerra curta mas violenta.
A tensão retornou em meados de 2020, quando tropas dos dois países se enfrentaram ao longo da fronteira comum em Ladakh, um confronto que matou pelo menos 20 soldados indianos e quatro chineses.
Cada lado envia patrulhas a zonas reclamadas ou controladas pelo outro país. A Índia acusa a China de estabelecer assentamentos permanentes perto da fronteira.
"Observamos algum desenvolvimento de infraestrutura no lado chinês", afirmou o tenente general Manoj Pande em outubro.
"Isto motivou o aumento do número de soldados na região", completou.
Nova Délhi respondeu com o reforço da defesa em Arunachal Pradesh, com o envio de helicópteros de transporte Chinook e drones construídos em Israel.
- Terreno perigoso -
Autoridades na região afirmam que o confronto do ano passado evidenciou a necessidade urgente de fortalecer a presença militar fronteiriça, após negociações infrutíferas com Pequim para aliviar a tensão.
A temperatura ao redor do vilarejo estratégico de Tawang, uma das localidades mais próximas do Tibete, frequentemente fica abaixo de zero e o ar nessa altitude é rarefeito.
Postos militares na zona podem ficar isolados durante semanas no inverno.
"A geografia da região é desumana", declarou à AFP um brigadeiro do exército indiano. "Pode ser fatal se você não está em plenas condições, treinado ou aclimatado".
Os engenheiros militares estão construindo um grande túnel rodoviário 4.000 metros acima do nível do mar, que deve ser inaugurado no próximo ano, para ligar a área às estradas mais ao sul e ampliar o alcance dos soldados.
"O túnel... dará conectividade em qualquer clima aos moradores locais e às forças de segurança em Tawang", explicou o coronel Parikshit Mehra, diretor do projeto.
Uma iniciativa semelhante está em curso em Ladakh, sob o terreno rochoso da passagem montanhosa de Zojila, intransitável no inverno, que ajudará as tropas em uma rápida mobilização na fronteira a a partir da guarnição indiana na Caxemira.
Uma estátua de Buda domina o planalto onde Tawang foi construída, um sinal da população de maioria budista da região.
Os moradores elogiam a atenção de Nova Délhi e temem novas incursões chinesas, levando em consideração a tentativa de Pequim de suprimir o budismo na fronteira.
O governo chinês, oficialmente ateu, deixou claro que pode buscar um sucessor para o dalai lama, de 86 anos, líder espiritual dos budistas tibetanos e figura venerada em Tawang.
"Compartilhamos nossa cultura com o Tibete, mas a China está modificando o budismo a sua vontade", reclamou Dondup Gyaltsen, um vendedor de sapatos no principal mercado de Tawang.
Monpa Golang, gerente de uma farmácia, disse que a Índia deve permanecer firme contra "as táticas de pressão chinesas".
"Nosso governo deve deixar claro que nenhum budista aceitará alguém imposto pela China depois do dalai lama", disse o homem de 75 anos. "Ele parece humano, mas é nosso deus".
TAWANG TOWN