Representantes de aproximadamente 200 países estão reunidos em Glasgow, na Escócia, desde domingo (31/10), na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26) para discutir ações que possam fortalecer o combate ao aquecimento global com base nas metas do Acordo de Paris, assinado em 2015.
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COP26 deve agir para 'salvar humanidade', diz secretário da ONUOs últimos sete anos foram provavelmente os mais quentes já registrados (ONU)Pressão aumenta sobre líderes do G20 a horas da cúpula da ONU sobre o climaCOP26 é 'um fracasso', diz Greta Thunberg durante protesto em GlasgowEventos climáticos extremos - como secas, inundações e ondas de calor - têm sido cada vez mais frequentes. O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), mostrou este ano que o planeta deve ficar 1,5ºC mais quente do que na era pré-industrial já na década de 2030, dez anos antes do previsto inicialmente.
Por isso, decisões políticas tomadas pelos líderes ao longo da conferência são determinantes para o planeta.
O relatório anual sobre Lacuna de Emissões lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que mensura a diferença entre as emissões previstas e aquelas consistentes com o controle de aumento da temperatura previsto no acordo de Paris, foi lançado esta semana. O documento revelou que as metas atualizadas dos países apenas reduzem a previsão de emissões para 2030 em 7,5%, quando comparadas com os compromissos prévios.
Se o ritmo continuar assim ao longo deste século, isso poderia gerar um aquecimento de 2,7ºC, ligeiramente abaixo dos 3ºC previstos pelo Pnuma no relatório anterior. É necessária uma redução de 30% nas emissões para que a temperatura seja contida em 2ºC; e de 55% para que ela chegue a apenas 1,5ºC.
O presidente britânico da COP-26, Alok Sharma, disse esperar que o poder do carvão seja definitivamente abandonado nesta edição da conferência. A ONU tem pedido que o carvão acabe até 2030 nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Corte de emissões de gases do efeito estufa
Na segunda-feira (1°/11), o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciaram aumento da meta climática do país em discursos transmitidos no pavilhão do Brasil na COP-26. Segundo o anúncio do governo federal, a nova previsão é cortar 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 - antes, esse patamar era de 43%. O governo também anunciou que vai antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028, e alcançar uma redução de 50% até 2027.
A decisão vem após a gestão Bolsonaro promover uma mudança que tem sido chamada por ambientalistas de "pedalada climática", já que a meta de 43% de cortes nas emissões até 2030 tinha como base os lançamentos de gases de efeito estufa na atmosfera em 2005.
Mas o governo federal fez um novo cálculo da base de emissões, o que aumentou essa quantidade de gases emitidos em 2005. Assim, ainda que a meta de corte não tenha sido alterada, o ponto de partida das emissões ficou maior, fazendo com que o corte de 43% ficasse menos ambicioso do que na versão original.
Bolsonaro destacou a necessidade de esforços para a conservação da floresta e para a criação de "empregos verdes". Já Leite defendeu que estados mais ricos sejam "mais ambiciosos" em suas metas para reduzir a poluição atmosférica.
Redução do desmatamento em 2030
Mais de cem líderes mundiais se comprometeram nessa terça-feira (2/11) a deter e reverter o desmatamento em 2030 com medidas apoiadas por US$ 19 bilhões de fundos públicos e privados, que serão investidos na proteção e restauração das florestas. O Brasil faz parte da lista.
Serão US$ 12 bilhões de dólares de dinheiro público, aportado por 12 países entre 2021 e 2025, além de US$ 7,2 bilhões de investimento privado de mais de 30 instituições financeiras mundiais.
O dinheiro deve apoiar principalmente atividades em países em desenvolvimento, como a restauração de terras degradadas, a luta contra os incêndios florestais e a defesa dos direitos das comunidades indígenas.
As florestas absorvem cerca de 30% das emissões de dióxido de carbono, de acordo com a ONG World Resource Institute (WRI). Mas, a proteção natural climática está desaparecendo. O planeta perdeu 258 mil quilômetros quadrados de floresta no ano passado, segundo acompanhamento do desmatamento do WRI, a Global Forest Watch. A área é maior do que o Reino Unido.
Comércio sustentável
Mais de 30 instituições financeiras se comprometeram a eliminar o investimento em atividades vinculadas ao desmatamento. Juntas, essas instituições administram US$ 8,7 trilhões em ativos.
Também foram anunciadas mudanças no comércio sustentável de commodities florestais e agrícolas, além de ações de apoio aos povos indígenas e comunidades locais. “O objetivo é se distanciar de portfólios que investem em cadeias de suprimentos de commodities agrícolas com alto risco de desmatamento e buscar uma produção sustentável”, informou o Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra), do Reino Unido, sede do evento.
“Isso fornecerá financiamento para países que reduzirem com sucesso as emissões do desmatamento, desde que essas reduções tenham sido verificadas e confirmadas de forma independente”, completou.
A agência britânica acrescentou que o financiamento será fornecido apenas por empresas já comprometidas com os cortes de emissões em suas próprias cadeias de abastecimento.
A iniciativa batizada de Finanças Inovadoras para a Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC, na sigla em inglês) anunciará US$ 3 bilhões para acelerar o combate ao desmatamento e a soja livre de conversão.
Um novo roteiro de transações sustentáveis foi divulgado para quebrar o vínculo entre o desmatamento e as commodities agrícolas. O manifesto foi lançado por 28 países produtores e consumidores, incluindo Indonésia, Brasil, Colômbia, os da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos.
A transição global para um sistema sustentável de uso da terra e alimentos pode fornecer 4,5 trilhões de libras por ano de novas oportunidades de negócios até 2030, segundo o Defra. “Na última década, cerca de 40 vezes mais montantes em financiamento fluíram para práticas destrutivas de uso da terra, em vez de proteção florestal, conservação e agricultura sustentável”, apontou o comunicado.
O departamento explicou que esses investimentos e transações serão apoiados por uma declaração conjunta de nove bancos multilaterais de desenvolvimento - incluindo o Banco Mundial - que os compromete a integrar a natureza em seus investimentos e no diálogo político com os países.
Redução das emissões de metano
Outro compromisso global assinado por cem países, na terça-feira (2/11), prevê reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, ante os níveis do ano passado. O pacto foi liderado pelos Estados Unidos e a União Europeia e teve a adesão do Brasil, um dos cinco principais emissores de metano do planeta. Três membros do grupo de maiores emissores de metano - China, Rússia e Índia - ficaram fora da lista.
Embora desapareça mais rápido da atmosfera que o gás carbônico, o metano tem um potencial de aquecimento cerca de 80 vezes maior. Assim, reduzir a liberação desse poluente é considerada uma estratégia para acelerar o combate às mudanças climáticas. Depois do gás carbônico, o metano é o segundo maior poluente do planeta.
“Juntos, estamos nos comprometendo coletivamente a reduzir o metano em 30%. E penso que podemos ir além”, disse o presidente americano, Joe Biden.
A meta é coletiva, mas não há especificações para os países - a não ser que eles anunciem planos próprios. Os Estados Unidos, por exemplo, tem uma previsão nacional de corte de 30%. Já o Brasil, segundo apurou o Estadão/Broadcast, não tem a intenção de criar uma nova previsão em relação a esse poluente.
A meta apresentada pelo governo brasileiro para reduzir emissões é calculada em “gás carbônico equivalente”. Isso inclui todos os Gases de Efeito Estufa (GEE), como dióxido de carbono, ozônio, vapor de água, ozônio, óxido nitroso, clorofluorcarbonos e o próprio metano.
Uma das preocupações do Brasil em se comprometer com o metano é a atividade agropecuária, que tem grande importância econômica para o país. No mundo, quase um terço (27%) das emissões provenientes da atividade humana está ligada à criação de animais.
A Argentina, signatária do pacto, enfatizou "o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas" entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. "O aporte da nossa agroindústria para a segurança alimentar mundial não deve ser excluído das negociações climáticas para não gerar novas formas de protecionismo", defendeu o presidente Alberto Fernández.
Segundo o anúncio, as nações que aderiram ao plano representam 70% das emissões de metano no planeta. Por outro lado, as ausências de China, Rússia e Índia expõem as dificuldades de chegar a acordos mais ambiciosos na conferência.
Neutralidade de emissões até 2050
Outra meta anunciada pelo governo brasileiro na segunda-feira foi de atingir a neutralidade (saldo zero) de emissões até 2050 – compensar cada tonelada de carbono com algum tipo de absorção, como o reflorestamento.
A neutralidade também dividiu os emergentes. Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia pressionaram pela data de 2050. China e Rússia optaram pela década seguinte. Já a Índia deixa para 2070.
(com informações Estadão Conteúdo)
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria