Menos de um ano depois, Joe Biden passa pelo que parece ser seu pior momento desde que chegou à Casa Branca.
A queda da popularidade e o triunfo do candidato republicano nas eleições para governador da Virgínia dispararam alarmes na equipe do presidente dos Estados Unidos e seus apoiadores.
Também no Estado de New Jersey, onde o governador democrata, Phil Murphy, obteve resultado bem abaixo do esperado, embora a imprensa finalmente o tenha projetado como vencedor da reeleição.
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O ex-presidente Donald Trump continua totalmente envolvido na política e flerta para concorrer novamente às eleições presidenciais a serem realizadas no final de 2024.
Há um longo caminho a percorrer e os especialistas concordam que as tendências podem ser revertidas, mas a realidade hoje é que Biden está perdendo fôlego.
O que está acontecendo
As pesquisas vinham alertando nos últimos meses para um declínio na popularidade de Biden, que no início de novembro atingiu um nível de reprovação de 51%.
O triunfo imprevisível do republicano Glenn Youngkin na Virgínia, um Estado em que Biden claramente prevaleceu nas eleições presidenciais de um ano atrás, e o atrito do democrata Murphy em Nova Jersey confirmaram essa tendência.
De acordo com Anthony Zurcher, correspondente da BBC na América do Norte, "a política nos EUA segue um padrão conhecido" .
"Um novo presidente é eleito e, depois de uma onda de popularidade inicial, suas tentativas de fazer avançar sua agenda política se deparam com um vento contrário. O partido que perdeu o poder, instigado por sua recente derrota e irritado com as ações do governo rival, recupera a unidade na oposição, enquanto o partido no poder sofre com divisões internas."
Já aconteceu com os presidentes Bill Clinton, Barack Obama e o próprio Trump, assim como no segundo mandato de George W. Bush.
Biden agora sofre as consequências dessa divisão e paga o preço pela falta de acordo dos democratas no Congresso para aprovar suas principais propostas: vários pacotes de gastos com serviços sociais, luta contra as mudanças climáticas e infraestrutura avaliada em trilhões de dólares.
Enquanto os parlamentares democratas mais radicais consideram as medidas insuficientes, outros mais moderados as rejeitam como excessivas, e nesse cabo de guerra as iniciativas seguem estagnadas há meses.
Soma-se a isso a memória da retirada caótica das tropas americanas do Afeganistão em agosto. As pesquisas mostraram que a opinião pública criticou como isso foi feito.
E quanto a Trump e os republicanos
Dez meses depois que os apoiadores de Trump invadiram o Capitólio de Washington DC para evitar a proclamação de Biden e o escândalo que se seguiu, os republicanos recuperaram sua imagem diante do eleitorado.
Trump, que não parou de insistir sem provas de que a eleição de Biden foi "um roubo" e continua na arena política, flerta com a ideia de concorrer à presidência novamente em 2024.
Poucos no Partido Republicano ousaram confrontar abertamente o ex-presidente, talvez por medo de incomodar seus eleitores.
No entanto, embora os candidatos republicanos tenham repetido algumas das mensagens de Trump, como sua denúncia de uma "crise migratória" na fronteira com o México ou sua rejeição dos regulamentos que obrigam o uso de máscaras para conter a propagação do covid-19, alguns começaram a se distanciar.
Youngkin evitou aparecer com Trump em sua campanha de sucesso para se tornar governador da Virgínia e se concentrou em criticar a gestão de Biden, com ênfase particular nos problemas de uma economia com crescimento mais fraco e inflação mais alta do que o esperado, e na defesa do direito dos pais de decidir sobre a educação de seus filhos.
Sem o ex-presidente como protagonista da campanha, os democratas tiveram mais dificuldade em mobilizar muitos eleitores que, acima de tudo, rejeitavam o polêmico magnata de Nova York.
A jornalista da BBC Tara McKelvey diz "Youngkin confiou em um programa de lei e ordem e se opôs às máscaras obrigatórias, ecoando as mensagens que Trump usa, mas manteve distância dele. Ele apelou aos eleitores. Aqueles que gostam da postura de Trump, mas se sentem desconfortáveis com sua figura."
McKelvey diz acreditar que essa pode se tornar uma receita repetida por outros candidatos republicanos. "Sua vitória provavelmente guiará outros conservadores na campanha eleitoral de meio de mandato."
Será "o roteiro Trump sem Trump".
O que pode acontecer agora
Falta ainda um ano para as eleições que serão decididas pelo Congresso e muito mais para o início de uma nova disputa pela Casa Branca.
Além disso, é comum que o partido que atualmente ocupa a presidência sofra com a menor participação que costuma ocorrer em eleições em que não se decide quem será o presidente.
Mas o que aconteceu já abriu o debate interno do lado democrata e não faltam vozes exigindo maior diversidade na escolha de seus candidatos para mobilizar o eleitor afro-americano.
Nem os que exigem que se cheguem a um acordo de uma vez por todas no Congresso para aprovar as medidas que Biden prometeu a seus eleitores.
Zurcher acredita que "os maus presságios de uma derrota nas eleições de meio de mandato vão desencadear o pânico entre os congressistas democratas e talvez empurrá-los para a ação" para que o presidente e os candidatos de seu partido tenham algo a vender ao eleitorado.
Não há outra maneira pela qual eles possam manter sua maioria parlamentar mínima.
Trump, por sua vez, acompanhará tudo de perto, pesando suas opções para concorrer novamente. E outros republicanos vão analisar as suas para desafiá-lo nas primárias.
Existem muitas incógnitas e muito poucas certezas. A única, talvez, é que, como diz Zurcher, "os EUA foram e continuam a ser um país altamente polarizado e politicamente dividido" e "não há maiorias governamentais permanentes".
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