Jornal Estado de Minas

ADIS ABEBA

Etiópia detém 72 motoristas do PMA no norte do país em guerra

A Etiópia detém 72 motoristas do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em uma cidade do norte do país, localizada na única rodovia que permite o acesso de ajuda humanitária à conturbada região de Tigré, afirmou a ONU, em meio aos esforços diplomáticos para tentar acabar com o conflito.



A notícia, divulgada um dia depois de a ONU informar a detenção de 22 funcionários na capital Adis Abeba, ameaça aumentar a tensão com o governo, que em setembro ordenou a expulsão de sete altos funcionários das Nações Unidas, acusados de "interferir" em assuntos do país.

"Confirmamos que 72 motoristas contratados pelo PMA estão detidos em Semera. Estamos em contato com o governo etíope para compreender as razões da detenção", afirmou um porta-voz das Nações Unidas.

"Solicitamos ao governo que garanta sua segurança e proteção, assim como seus direitos legais e humanos", acrescentou.

Inicialmente não se revelou a etnia dos motoristas detidos em Semera, mas no passado a ONU contratou pessoas de Tigré para transportar alimentos e outros produtos até a região do norte do país.

As autoridades anunciaram na semana passada um estado de emergência de seis meses, em meio aos temores de que os combatentes dos grupos rebeldes Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF) e Exército de Libertação Oromo (OLA) avancem até a capital, Adis Abeba.



Advogados denunciaram que desde então aumentaram as detenções arbitrárias de moradores de Tigré, com novas medidas governamentais que permitem a prisão de qualquer pessoa suspeita de apoiar "grupos terroristas".

As forças de segurança afirmam que as detenções integram a batalha contra TPLF e o OLA.

A ONU anunciou na terça-feira a detenção de 22 funcionários etíopes da organização: seis foram liberados e 16 permaneceram em custódia durante a noite, informou o porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou tropas a Tigré em novembro de 2020 para derrotar a TPLF, que controla a região, em resposta aos ataques rebeldes a acampamentos militares.

Desde então, os combates entre o exército e os rebeldes de Tigré provocaram milhares de mortes e o deslocamento forçado de dois milhões de pessoas, enquanto a comunidade internacional atua para tentar acabar com o conflito.

Apesar do anúncio do primeiro-ministro Ahmed, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2019, de uma vitória rápida, a TPLF se reagrupou em junho e recuperou a maior parte da região, incluindo a capital Mekele.

Atualmente, Tigré enfrenta o que a ONU considera um bloqueio humanitário de fato.

Apenas 15% da ajuda necessária conseguiu passar de Semera a Tigré desde meados de julho, com centenas de milhares de pessoas vivendo em condições próximas da fome, segundo a ONU.

Na semana passada, a ONU informou que nenhum caminhão de ajuda consegue entrar no norte da Etiópia desde 18 de outubro.



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