As conferências sobre a mudança climática da ONU são um cenário anual de duras negociações diplomáticas e discursos ecologistas dramáticos, mas, além do evento principal, dezenas de países apresentam em um grande pavilhão seus progressos na área ambiental.
No espaço, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera que é parte da solução, e não do problema.
"Está muito claro que o Brasil está empenhado em eliminar a questão do desmatamento ilegal. No setor agropecuário brasileiro, está muito claro que o crescimento da produção de alimentos no Brasil não está relacionado ao desmatamento, e sim à incorporação de novas tecnologias, ao aumento de produtividade e à verticalização de produção", disse esta semana à AFP o vice-presidente da delegação da CNA, Muni Lourenço Silva.
O desmatamento da Amazônia passou da média anual de 6.500 km2 na década passada para quase 10.000 km2 sob a presidência de Bolsonaro.
Em 2019, um ano especialmente alarmante pelo número de incêndios, a superfície queimada em todo bioma amazônico dobrou na comparação com 2012, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Rafael de Oliveira Silva, professor da Universidade de Edimburgo, afirma que os dados escondem uma realidade complexa.
"Se você olha os dados dos pastos, não aumentaram. O desmatamento ocorre por vários motivos, como a mineração, a especulação da terra", explicou Rafael, em uma entrevista à AFP, após uma apresentação no pavilhão brasileiro.
"O desmatamento ocorre, em sua maioria, em terras privadas" na Amazônia, completou.
O Código Florestal brasileiro obriga o proprietário a preservar 80% de suas terras. Em outras palavras: não tem o direito de queimar a área para plantar, ou para a pastagem de gado. Apesar disso, as queimadas prosseguem na região.
"Aproximadamente 50% da terra, uma vez desmatada, é simplesmente abandonada. É, basicamente, especulação. Esperam vendê-la", declara Oliveira.
"Às vezes não conseguem, às vezes a lei é aplicada, e eles não podem mais utilizar a terra", que fica estéril, explica.
"Nós temos a visão de que a questão do desmatamento não pode estar baseada somente na punição, que é importante. Mas também é muito importante que outras políticas públicas sejam realizadas, como, por exemplo, a questão da regularização fundiária, a questão do ordenamento territorial e a titulação das terras", opina Muni Lourenço.
- A visão indígena -
Txai Suruí, do estado de Rondônia, denunciou à AFP uma situação radicalmente diferente: invasões de terra para o gado, assédio e assassinato de ativistas ambientaiseio ambiente.
"O governo brasileiro pratica uma política assassina", declarou à AFP.
São dois países radicalmente diferentes exibidos na COP26.
A CNA apresentou o caso da fazenda Santa Bárbara, no sul do país. No local, são plantados eucaliptos, as vacas pastam de maneira tranquila à sombra, a produção de leite aumenta, e não há necessidade de queimar nada.
Se alguma medida deve ser adotada, pede com firmeza Muni Lourenço, são as ajudas do exterior, mas para garantir a sustentabilidade de todo este complexo ecossistema.
"Isto está sendo discutido aqui na COP26: fundos que podem apoiar a aceleração do processo. Massificar a assistência técnica, pagamentos por serviços ambientais", explica.
ONGs e organizações indígenas afirmam que elas devem receber as ajudas, porque, também com dados nas mãos, ressaltam que são as que preservam a floresta amazônica.
O governo Bolsonaro anunciou em Glasgow que está disposto a acabar com o desmatamento ilegal até 2028, dois anos antes do previsto.
"Temos, aqui nesta conferência, este conceito de responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Entendemos que temos dentro do Brasil várias partes diferentes. Temos nossa própria conferência das partes, tantas regiões, tantos biomas diferentes, e realidades, e níveis de desenvolvimento. Temos um monte de brasileiros... Quase um monte de países juntos", declarou o secretário adjunto de Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire, à AFP.
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