Dezenas de milhões de diabéticos não conseguem obter a insulina de que precisam, alertou a OMS nesta sexta-feira (12), pedindo preços mais baixos e melhor acesso.
Atualmente, mais de 420 milhões de pessoas sofrem de diabetes em todo o mundo, número que quase quadruplicou nos últimos 40 anos, lembra a Organização Mundial de Saúde.
Apesar da oferta abundante "há problemas de acesso aos cuidados de saúde no mundo e principalmente nos países de baixa renda", disse Kiu Siang Tay, que trabalha diretamente com o tema na OMS, durante uma coletiva de imprensa.
Os preços altos impedem que muitos diabéticos tenham acesso ao valioso hormônio para controlar sua doença, especialmente em países de baixa e média renda, mas também onde os preços são mal regulamentados, como nos Estados Unidos.
A insulina é um hormônio que regula os níveis de glicose (açúcar) no corpo e é o principal tratamento para o diabetes tipo 1 (devido a uma deficiência na produção de hormônios no pâncreas) ou tipo 2, geralmente em pessoas com sobrepeso.
A insulina, descoberta há um século por pesquisadores canadenses, permite que 9 milhões de portadores do tipo 1 controlem uma doença que já foi fatal e 60 milhões de pessoas com tipo 2 reduzam os riscos de cegueira e amputação.
Os descobridores da insulina, Frederick Banting e John Macleod, venderam seus direitos por um dólar canadense para facilitar o acesso.
"Infelizmente, este gesto de solidariedade foi substituído por uma indústria de bilhões de dólares e que criou os obstáculos de acesso", sublinhou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Embora os 9 milhões de pacientes do tipo 1, cuja sobrevivência depende da insulina, tenham acesso ao hormônio, apenas metade dos 63 milhões de pacientes do tipo 2 conseguem medicamento.
A OMS identificou vários obstáculos, como a mudança para a insulina sintética, que é pelo menos 1,5 vezes mais cara do que a insulina humana. Além disso, 90% do mercado é controlado por apenas três grupos farmacêuticos (Eli Lilly, Novo Nordisk e Sanofi).
Os preços são mal regulados e não são transparentes. As redes de abastecimento são frágeis e as infraestruturas de saúde são frequentemente mal adaptadas.
As pesquisas também estão mais focadas em mercados ricos, quando 80% dos diabéticos estão em países de baixa ou média renda.
A OMS recomenda que a produção de insulina de origem humana seja aumentada, assim como o número de produtores de equivalentes sintéticos. Desta forma, seria possível reduzir os preços.
As Nações Unidas também recomendam a regulamentação dos preços, a fabricação local em regiões de menor atendimento e facilitação do acesso a ferramentas de diagnóstico e medição da glicose no sangue.