Líderes e representantes de 196 países reunidos na Escócia para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26) discutiram entre o fim de outubro e esta semana metas e ações que afetarão a sociedade, o meio ambiente e a economia mundial nos próximos anos. Fizemos este vídeo #PraEntender quais pautas climáticas avançaram em Glasgow.
Mais de 100 chefes de Estado e de governo se comprometeram a cessar o desmatamento até 2030, apesar de muitos não detalharem como isso seria possível e as ações ficarem apenas no campo das promessas. Também foram anunciados planos para emitir 30% menos metano, o segundo gás responsável pelo efeito estufa, atrás apenas do CO2.
Quase 50 países prometeram parar de usar carvão para produzir energia elétrica e centenas de entidades financeiras privadas ofereceram bilhões de dólares em créditos. O encontro era para ter ocorrido em novembro de 2020, mas devido ao aumento de casos de COVID-19 na Europa, a COP-26 foi remarcada para este ano.
Discurso x realidade no Brasil
O governo brasileiro assinou acordos multilaterais na COP-26 contra o devastação da floresta, prometeu zerar o desmate ilegal até 2028 e reduzir as emissões de metano. Mas o discurso segue na contramão da realidade ambiental. O Brasil continua a bater recordes nos índices de desmatamento da Amazônia.
Dados divulgados nessa sexta (12/11) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia, apontam que a área de alertas de desmatamento de outubro foi a maior para o mês nos últimos sete anos.
Foram 877 quilômetros quadrados de devastação da floresta na Amazônia, um aumento de 5% em relação a outubro de 2020 e o maior índice no mês em toda a série histórica do Deter, sistema de alertas do Inpe, iniciado em 2016.
Última oportunidade
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, acredita que o encontro deste ano tenha sido a última oportunidade para “virar a maré”. O trocadilho usado por Guterres diz respeito ao aumento no nível do mar devido ao derretimento das calotas polares. Uma consequência, já comprovada, do aumento da temperatura do planeta, o que pode gerar inundações em muitos países.
O relatório divulgado em 9 de agosto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostrou que a temperatura da superfície global da Terra subiu 1,09 %u2103 entre o período de 1850 a 2010, o que é 0,29 %u2103 mais quente do que o constatado no estudo anterior do IPCC, divulgado em 2013.
Na última semana de outubro, foi divulgado um outro alerta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O relatório de 2021 sobre a Lacuna de Emissões mostrou que as novas promessas climáticas apresentadas pelos países, combinadas com outras medidas de mitigação, não seriam suficientes para o quadro atual de emergência e não evitariam um aumento da temperatura global de 2,7°C até o fim do século.
Segundo as Nações Unidas, um aumento de temperaturas dessa magnitude pode significar um aumento de 62% nas áreas queimadas por incêndios florestais no Hemisfério Norte durante o verão, a perda de habitat de um terço dos mamíferos no mundo e secas mais frequentes, durando entre quatro e 10 meses.
Críticas aos participantes
Apesar das conversas entre os líderes mundiais, a ativista sueca Greta Thunberg criticou a cúpula, dizendo que cortes “imediatos e drásticos” nas emissões de carbono são necessários. “Não é segredo que a COP-26 é um fracasso, deveria ser óbvio que não podemos solucionar uma crise com os mesmos métodos que nos colocaram nessa situação. E cada vez mais pessoas estão percebendo isso”, disse Thunberg em uma manifestação em Glasgow.
Txai Suruí, de 24 anos, foi a única indígena da América Latina e única brasileira a discursar na abertura da COP-26. Filha do cacique Almir Suruí e da indigenista Neidinha Suruí, a jovem nasceu em Rondônia e destacou em seu discurso no evento de Glasgow a necessidade dos povos originários do Brasil participarem das decisões sobre mudanças climáticas. “Os líderes precisam saber que o que estamos vivendo na Amazônia também é responsabilidade deles”, afirmou.
Promessas de pouco impacto
A ONU avaliou que os novos compromissos de combate às mudanças climáticas anunciados na COP dificilmente mudam a trajetória atual do planeta. Segundo a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, apesar de algumas contribuições, como a promessa de diminuição de gases de efeito estufa, a realidade é que o esforço é pouco frente ao necessário para o planeta.