Os quase 200 países presentes na COP26 de Glasgow aprovaram neste sábado (13) um texto para acelerar a luta contra a mudança climática e esboçar as bases de um futuro financiamento do plano, mas sem garantir o objetivo de limitar o aumento de temperatura mundial em 1,5º C.
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Países em desenvolvimento aceitam projeto da COP26 sobre perdas e danos climáticosCOP26 representa momento da verdade para o planeta, afirma presidente da reuniãoEntenda quais pautas climáticas avançaram na COP-26COP-26 é onde apontam problema para outros resolverem, reclama BolsonaroA aprovação do acordo correu risco devido à oposição no último minuto de Índia e China, contrárias ao parágrafo sobre a necessidade de eliminar a dependência do carvão e ao fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.
Com 24 horas de atraso em relação à agenda oficial, a COP26 aprovou um texto que possibilita consultas formais para criar fundos estáveis para a mitigação e a adaptação e para estudar os pedidos de indenizações por danos e perdas dos países mais vulneráveis a médio prazo.
O documento não define uma data exata, nem valores. "O que este texto está tentando fazer é tapar buracos e iniciar um processo", especialmente em relação às finanças para adaptação, ou seja, para se precaver diante do que pode acontecer no futuro, explicou Helen Mountford, do World Resources Institute.
O texto "é tímido, é fraco e a meta de 1,5ºC mal está viva, mas dá um sinal de que a era do carvão está acabando. E isso é importante", reagiu Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace.
Com unhas e dentes
Os países em desenvolvimento, os mais afetados pelo aquecimento global, brigaram até o fim com unhas e dentes para garantir avanços financeiros, com um resultado discreto.
As decisões da COP exigem consenso, e Glasgow não foi exceção, com negociações exaustivas até o último minuto na mesma sala onde ocorreu a assembleia geral, com os delegados em pé, documento em mãos.
O enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry, seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, iam e vinham, pulavam de um grupo a outro, discutindo um esboço de texto que, após os discursos, foi aceito praticamente por unanimidade, embora com duras críticas da Índia.
Aspectos polêmicos
O pacto "urge os países desenvolvidos a no mínimo duplicar suas contribuições coletivas para a adaptação dos países em desenvolvimento, com base os níveis de 2019, até 2025".
Os bancos multilaterais deverão colaborar com a missão, e o texto também pede "políticas inovadoras" para atrair capital privado.
Mas os países ricos não conseguiram regularizar os US$ 100 bilhões anuais que os países vulneráveis supostamente tinham que receber desde 2020. E esse número era apenas uma base.
O texto reconhece e "lamenta profundamente" esta situação, que necessita urgentemente ser corrigida até 2025.
Os países em desenvolvimento querem que o dinheiro a receber a partir de agora seja, de um modo geral, compartilhado igualmente na mitigação das mudanças climáticas (redução das emissões de gases de efeito estufa) e na adaptação ao que está por vir (por exemplo, por meio de represas, diques nas costas, etc.).
"Pela primeira vez, uma meta de financiamento para a adaptação foi acordada", comemorou Gabriela Bucher, da Oxfam.
Alarmismo dos cientistas
As indenizações por perdas e danos são um capítulo especialmente polêmico porque envolvem Estados, grandes multinacionais (como as petroleiras) e seguradoras.
O pacto "decide estabelecer o Diálogo de Glasgow (...) para discutir os preparativos para financiar atividades a fim de evitar, minimizar e reparar danos e perdas". Esse diálogo deve culminar em 2024.
Por fim, nos debates sobre os combustíveis fósseis, que nunca foram denunciados explicitamente nos documentos oficiais dessas conferências, o fim foi polêmico.
O ministro indiano do Meio Ambiente, Bhupender Yadav, argumentou que as nações menos industrializadas, com pouca responsabilidade histórica pelo aquecimento global, têm "direito a sua parte justa do orçamento global de carbono e têm direito ao uso responsável de combustíveis fósseis".
"Como os países em desenvolvimento podem fazer promessas para eliminar os subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis?", questionou.
Como proposto pela Índia, o texto finalmente menciona a necessidade de acabar com os "subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis", mas, novamente, com atenção às "circunstâncias nacionais particulares".
Desde o Acordo de Paris de 2015, o alarmismo cresceu e o mundo segue rumo a uma situação "catastrófica" caso não sejam adotadas medidas drásticas, insistem os cientistas.
O objetivo fixado em Paris há seis anos era que o aumento da temperatura média global não superasse +2 ºC, e de maneira ideal 1,5 ºC.