Em uma rodovia mexicana, agentes encontram um grupo de migrantes para oferecer-lhes residência temporária, caso abandonem uma caravana, com a qual pretendem chegar aos Estados Unidos sem visto.
Exaustos, alguns aceitam; outros, desconfiados, continuam a caminhada.
"Convidamos vocês a se aproximarem para que possam receber um cartão!", anuncia pelo alto-falante o funcionário de um posto de controle de imigração na cidade de Suchilapan, no estado de Veracruz, no sudeste do país.
Dezenas de agentes explicam aos migrantes, com mais de 500 km de caminhada pela frente, que o documento vai permitir que eles permaneçam no país por pelo menos um ano por motivos humanitários.
Se aceitarem, devem entrar em um ônibus e ir para um abrigo para receber a credencial. Depois disso, podem até viajar por conta própria para a fronteira com os Estados Unidos, garantem funcionários do Instituto Nacional de Migração (INM).
Cerca de 1.500 pessoas concordaram, segundo a agência, o que reduziu consideravelmente a caravana desde que ela deixou Tapachula, na fronteira sul com a Guatemala, em 23 de outubro.
Outras 800 pessoas seguiram viagem. A maioria delas são centro-americanos que dizem fugir da violência e da pobreza em seus países.
O trabalho convincente dos agentes chega a vincular sua oferta à reunião que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, terá nesta quinta-feira, em Washington, D.C., com seus homólogos mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e canadense, Justin Trudeau.
"Será mais fácil ter residência permanente com os presidentes do México e dos Estados Unidos em acordo", garante um migrante em um posto de controle em Nuevo Morelos, no estado de Veracruz.
- Ato de fé -
Nesse ponto, alguns funcionários diminuem o tom, ao perceberem a proximidade da imprensa.
Em Suchilapan, a resposta é direta.
"Mentira, vão deportar a gente!", gritam homens e mulheres indignados. Alguns dizem que colegas que aceitaram essa opção acabaram detidos em postos de imigração.
A hondurenha Elena Raudales mostra à AFP o "cartão de visitante por motivos humanitários" com seu nome e fotografia.
"Vence em abril do ano que vem e, mesmo assim, me prenderam há dois meses e me mandaram de volta (mais perto da fronteira com a Guatemala). Não vamos acreditar em mais nada", disse ela, em Nuevo Morelos.
Irineo Mujica, líder da organização Pueblos Unidos Migrantes, que acompanha a caravana, adverte que o cartão não é válido para trabalhar.
Com o passar dos dias, as condições se tornam mais difíceis, já que as autoridades proíbem os motoristas de veículos de carga de darem carona aos imigrantes.
O fluxo de imigrantes sem documentos se multiplicou, coincidindo com a chegada de Biden à Casa Branca, após uma campanha na qual prometeu adotar um tratamento mais humano.
Mais de 190.000 deles foram detectados pelas autoridades mexicanas entre janeiro e setembro, um número três vezes maior do que em 2020. Destes,cerca de 74.300 foram deportados.
Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, os Estados Unidos registraram o ingresso em seu território, pela fronteira mexicana, de 1,7 milhão de pessoas em condições ilegais - um recorde histórico.