Um americano que matou dois homens em meio aos protestos por justiça racial que varreram os Estados Unidos em 2020 foi considerado inocente pelo tribunal do júri no início da tarde desta sexta (19/11).
Os jurados acataram a tese dos advogados de Kyle Rittenhouse, com 17 anos à época do crime, de que ele havia atirado em 3 pessoas — 2 delas fatalmente — por legítima defesa.
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O episódio aconteceu nas ruas de Kenosha, Wisconsin, em 25 de agosto de 2020. Era o terceiro dia de grandes protestos detonados depois que um policial branco baleou Jacob Blake, um morador negro da cidade, poucos meses depois que George Floyd havia sido assassinado por um oficial branco que ajoelhou em seu pescoço por mais de 9 minutos, em Minneapolis.
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Embora as manifestações fossem pacíficas em sua maioria, episódios de saques e queima de veículos serviram de estopim para que parte dos moradores da região de Kenosha se organizassem em grupos privados — e ideologicamente conservadores — de vigilância de propriedades privadas durante os protestos.
Rittenhouse, que não era morador de Kenosha, partiu de Illinois para o Wisconsin munido de um fuzil semi-automático e um kit de primeiros socorros para participar desses atos.
Naquela noite, segundo testemunhas que depuseram ao longo dos 3 dias de julgamento, Rittenhouse teria sido ameaçado de morte por uma das vítimas, Joseph Rosenbaum, de 36 anos, que se manifestava em favor de justiça racial.
Horas mais tarde, de acordo com imagens mostradas no tribunal, Rosenbaum teria perseguido o adolescente em um estacionamento. Ele estava desarmado e tinha recém-saído do hospital, onde recebera medicação psiquiátrica.
Nesse momento, o adolescente atira e mata Rosenbaum. Ao tentar fugir da cena do crime, Rittenhouse atirou em mais dois homens: Anthony Huber, de 26 anos, que morreu, e Gaige Grosskreutz, que sobreviveu e contou que perseguiu Rittenhouse acreditando se tratar de um atirador em massa.
Os promotores do caso tentaram caracterizar Rittenhouse como um agitador em busca de violência e caos, por ter se deslocado de sua cidade até Kenosha e ido armado ao local do protesto.
A defesa afirmou que ele só atirou quando sentiu que a própria morte era um desfecho provável. A lei do estado do Wisconsin permite o uso de força letal por qualquer pessoa desde que "ela tenha motivos razoáveis para acreditar que sua morte ou grave ameaça dela é iminente e para prevenir tal desfecho".
Os 12 jurados — 7 mulheres e 5 homens — que deliberaram sobre o caso por mais de 26 horas se alinharam completamente aos argumentos da defesa.
Batalha política
O caso se converteu em um símbolo de uma disputa política entre conservadores e movimentos pró-armas, que ajudaram a financiar a defesa de Rittenhouse, e ativistas pelos direitos antirracismo.
Os dois grupos acompanharam o decorrer do julgamento ao lado de fora do tribunal. A Força Nacional foi chamada para garantir a ordem em Kenosha.
A repercussão nacional do caso foi catapultada pela eleição presidencial. Tanto o então presidente, o republicano Donald Trump, quanto o atual - e então candidato democrata -, Joe Biden, se posicionaram sobre o assunto.
À época do crime, Trump se recusou a condenar as ações de Rittenhouse. "Ele estava tentando fugir deles, me parece. Ele estava em uma situação difícil, provavelmente teria sido morto", comentou Trump, que visitou a cidade na sequência para mostrar apoio aos policiais e não falou com a família de Jacob Blake.
Já Biden foi à cidade para encontrar com familiares de Blake e falou com o próprio, que está paraplégico, pelo telefone. O candidato prometia aumentar o grau de justiça racial no país durante sua campanha.
Ao ouvir o veredicto nesta sexta, Rittenhouse caiu em prantos e foi carregado por seus defensores. A família de Blake acusou os jurados de racismo.
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