- Dividir para conquistar -
O partido do presidente Nicolás Maduro venceu em Caracas, o principal município, e os governos de 20 de 23 estados, segundo um primeiro boletim oficial. Dezoito já lhe foram atribuídos e resta confirmar dois, segundo o informe, divulgado nesta segunda-feira (22).
O processo eleitoral foi marcado pela decisão do 'G4' (os quatro maiores partidos da oposição) de retomar o voto após se negarem a participar das eleições presidenciais de 2018, nas quais Maduro foi reeleito, e as legislativas de 2020, nas quais o chavismo recuperou o Parlamento, denunciando-as como "fraudulentas".
As divisões da oposição, no entanto, tornaram previsível esta derrota, segundo especialistas consultados pela AFP.
"Dividir para conquistar (...) Boa parte dos estados se perdem por divisão e falta de reconhecimento às lideranças emergentes", afirma o colunista e professor universitário Pedro Benítez.
A oposição disputou as regionais rachada em dois blocos principais: a Mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão que arrasou nas parlamentares de 2015, e a Aliança Democrática, integrada por elementos afastados do G4, que romperam os boicotes de 2018 e 2020.
"A oposição que volta (às urnas) o faz para enfrentar a oposição que nunca se ausentou", em uma disputa para reposicionar lideranças, explica o cientista político Jesús Castillo Molleda.
Nem toda a oposição, além disso, aderiu ao apelo para votar nestas eleições em que estavam convocados a votar 21 milhões dos 30 milhões de venezuelanos.
Líder reconhecido desde 2019 como presidente interino da Venezuela por dezenas de países sem ter tirado Maduro do poder, Juan Guaidó denunciou mais uma vez falta de condições, embora tenha dito respeitar quem decidiu participar.
Com uma abstenção de 42,6% segundo o novo boletim, o chavismo abocanhou sozinho o apoio de 18% do colégio eleitoral, destaca Benítez.
- "Decepcionados" -
"Há um tremendo fracasso da oposição como um todo e das diferentes 'oposições' em particular porque não conseguiram articular uma proposta suficientemente atraente para gerar mobilização", diz o doutor em ciência política Daniel Varnagy.
E um dos objetivos da oposição era precisamente recuperar, de olho no futuro, a mobilização perdida devido ao naufrágio da estratégia do "governo interino" de Guaidó.
O ocorrido torna "evidente" a "necessidade de reunificação" nas fileiras opositoras, disse nesta segunda-feira Guaidó durante uma coletiva de imprensa.
Uma reunificação "parece bonita no papel, mas como consegui-la?", pergunta-se o cientista político Ricardo Sucre. "Domina (na oposição) um discurso construído em termos morais, 'você é um vendido' (...), e isso, se não mudar, não torna possível a coordenação estratégica".
Os eleitores, por sua vez, "estão decepcionados com a classe política, cansados", afirma Castillo Molleda.
Sucre aponta que, de fato, há um público "que não se mobilizou ao se sentir traído" diante da promessa não cumprida de mudanças, embora considere a abstenção "como ator político", um sinal de descontentamento para a oposição... E o governo: "é um partido político invisível, um candidato invisível".
- "O teu voto não serve" -
O poder de fato do chavismo, com apoio dos militares, é outro fator fundamental.
A MUD, nascida em 2008, esteve três anos proibida e apenas cinco meses antes das eleições regionais deste domingo foi reabilitada. Isso depois que a justiça entregou a direção de partidos tradicionais a opositores distanciados de Guaidó.
Muitos dos que receberam estas organizações romperam com o G4 e seus aliados depois de ter sido vinculados com o empresário colombiano Alex Saab, próximo a Maduro, extraditado aos Estados Unidos após ter sido detido em Cabo Verde por acusações de corrupção.
E a situação, embora tenha admitido derrotas no passado, "esvaziou" o voto, segundo Benítez.
Na prática, desconheceu o Parlamento opositor (2016-2021), pois todas as suas decisões foram anuladas pela justiça, e Maduro nomeou em regiões que não controlava "protetores", figuras às quais deu atribuições de governadores.
"A mensagem foi clara: o teu voto não serve", disse Benítez. "Isso colou, as pessoas perderam fé no voto e a oposição contribuiu com sua linha errática".
audima