Jornal Estado de Minas

PARIS

Da periferia ao Palais de Tokyo: Maxwell Alexandre e a 'nova consciência negra'

Ele cresceu na maior favela do Rio de Janeiro, a Rocinha, onde pinta, animado por uma "nova consciência negra": o artista brasileiro Maxwell Alexandre, de 31 anos, expõe a partir desta sexta-feira (26) no Palais de Tokyo.



"Não faz muito tempo que consegui me identificar como negro e é um grande passo", confidencia à AFP, em plena instalação de suas gigantescas pinturas, realizadas em papel "pardo", uma referência direta à cor de sua pele e ao lugar dos mestiços e negros na sociedade brasileira.

Entre elas, um autorretrato, uma silhueta toda negra sobre um fundo gigantesco, reconhecível por seus dreads e seu moletom, e testemunho direto de sua "nova consciência negra".

Ele explica: "No Brasil existe o termo 'pardo', quer dizer 'mais ou menos branco' e isso é problemático". Por ser a tradução de uma "política de inclusão social dos negros" que de fato atesta o racismo comum, denuncia.

"Morei 31 anos na Rocinha, um lugar muito intenso, muito contrastado, também conhecido como a maior favela da América Latina (...). Venho de onde venho e isso continua me afetando, mas é redutor tomar esse único fio condutor para descrever minha pintura", diz, apontando que é igualmente influenciado pelo cotidiano da favela quanto "pelos mangás, os filmes, o hip-hop dos EUA ou a moda na Europa".



Intitulada "New Power" (Novo Poder), título de seu amigo rapper BK, sua exposição em Paris, que permanecerá aberta até 20 de março, fala da arte "como uma nova ferramenta de promoção social para os negros".

Faz parte da temporada "Seis continentes e mais" do Palais de Tokyo, que apresenta vários artistas com compromisso anticolonial e antirracista.

- "Recuperar poder" -

Poderia ser futebol, música. "Para mim é a arte, a liberdade num domínio exclusivo, numa comunidade que não convive com a arte contemporânea (...). Quando descobri e compreendi a arte pude entrar numa narrativa, minha e de pessoas negras".

Nascido em 1990, Maxwell Alexandre formou-se pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Organizou seu batismo artístico em 2018 no Rio com uma exposição que mesclou pintura e performances, ao lado de BK, que atuou como mestre de cerimônia. E isto o levou a ser notado.



Uma primeira mostra fora do Brasil foi apresentada no Musée d'art contemporain de Lyon onde fez residência em 2019. Na época, sua obra, muito colorida, preenchia todos os cantos do suporte em papel, evocando assim a densidade humana das megalópoles da América Latina e reproduzindo cenas do cotidiano, com os moradores, a polícia e os ícones da cultura afro-americana.

Este trabalho, disse ele, era sobre "como a comunidade negra recupera seu poder; mostra aviões, dinheiro, carros", todos os símbolos externos de riqueza.

"Desta vez é a mesma coisa, mas no contexto da arte contemporânea: as figuras negras ocupam o 'white cube' (cubo branco), símbolo de um saber acadêmico das instituições artísticas", diz, com o olhar fixo, sentado ereto sobre um banquinho, diante de um imenso lençol branco, vazio, ladeado por uma grande moldura dourada.

Seus personagens, pintados em tamanho natural, isolados ou em grupo, não têm olhos, boca, nariz. Aparecem no meio de quadrados marrons e brancos, que recortam como um labirinto o espaço da folha de papel e da sala expositiva, captando de passagem o visitante, com referência à sua própria imagem, à sua identidade e à sua alteridade.

"Ele defende seu tema abrindo as portas da frente e convida os cariocas ao museu, lugar de poder do 'white cube'". Nome de uma famosa galeria internacional de arte contemporânea, essa expressão "globalizada" também significa a rejeição da onipotência do poder branco na arte, comenta Hugo Vitrani, curador da mostra.

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