Meninas do ensino médio estão em casa em quase todos os lugares do Afeganistão, proibidas de assistir às aulas pelo Taleban. Mas há uma grande exceção. Durante semanas, as garotas da Província de Herat voltaram às salas de aula - fruto de um esforço único e coordenado de professores e pais para persuadir os administradores locais a permitir a reabertura. Fadieh Ismailzadeh, uma jovem de 14 anos, disse que chorou de felicidade com a notícia. "Havíamos perdido as esperanças de que as escolas fossem reabertas."
Funcionários do Taleban nunca aprovaram formalmente a retomada das aulas após a campanha, mas também não a impediram quando professores e pais começaram as aulas por conta própria, no início de outubro. "Pais, alunos e professores se uniram para fazer isso", disse Mohamed Saber Meshaal, chefe do sindicato de professores de Herat, que ajudou a organizar a campanha. "Este é o único lugar onde ativistas comunitários e professores correram o risco de conversar com o Taleban."
O sucesso em Herat destaca uma diferença significativa no atual governo do Taleban em relação ao anterior, no final da década de 1990. Naquela época, os militantes eram intransigentes em sua ideologia linha-dura, banindo as mulheres da vida pública e do trabalho e proibindo todas as meninas de estudar. Eles usaram a força e as punições brutais para fazer cumprir as regras.
Mudança
Desta vez, eles parecem reconhecer que não podem ser tão cruéis em um Afeganistão que mudou drasticamente nos últimos 20 anos. Eles impuseram algumas regras antigas, mas foram ambíguos sobre o que é permitido e o que não é. A ambiguidade pode ter como objetivo evitar a alienação do público, enquanto o Taleban luta contra um colapso econômico quase total, a paralisação do financiamento internacional, o aumento alarmante da fome e uma insurgência perigosa de militantes do Estado Islâmico. Isso deixou pequenas margens onde os afegãos podem avançar.
Quando o Taleban tomou o poder, em agosto, a maioria das escolas foi fechada em razão da covid-19. Sob forte pressão internacional, o Taleban logo reabriu escolas para meninas da 1.ª à 6.ª séries, assim como para meninos em todos os níveis.
No entanto, eles não permitiram que as meninas do ensino médio voltassem, dizendo que, primeiro, eles devem garantir que as aulas sejam ministradas de "maneira islâmica". Quando os professores e pais de Herat pediram a reabertura, os funcionários do Taleban hesitaram, alegando que precisavam de uma autorização do governo em Cabul.
Em outubro, os professores sentiram que tinham o acordo tácito do Taleban de não atrapalhar. Os professores começaram a espalhar a notícia em páginas do Facebook e aplicativos de mensagens, anunciando que as escolas de ensino médio para meninas reabririam em 3 de outubro.
Resistência
Nem todas as alunas apareceram quando as escolas reabriram em Tajrobawai. Mas, à medida que os pais ficavam mais confiantes, as salas de aula foram preenchidas após alguns dias. Meshaal destaca que houve mudanças no Taleban e algumas facções são mais abertas. "Eles entendem que as pessoas resistirão na questão da educação."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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