Jornal Estado de Minas

PARIS

Um ano de vacinas e de desinformação sobre a covid-19

As campanhas de vacinação contra a covid-19 alimentam um fluxo incessante de desinformação na internet e redes sociais, rumores que exageram ou inventam efeitos colaterais dos imunizantes até tornar o produto pior do que a doença.



- A distorção de números -

Desde o início das campanhas de vacinação, a farmacovigilância (ramo científico encarregado de detectar os efeitos colaterais dos medicamentos) tem servido de instrumento para alarmar a opinião pública.

Na maioria dos países, quando uma pessoa ou profissionais da saúde detectam efeitos desconhecidos após uma vacinação, podem relatar às autoridades, e esses registros geralmente são públicos.

Cabe às autoridades de saúde determinar se são efeitos colaterais.

As mortes também são incluídas nesses registros. Mas o fato de uma pessoa vacinada ter morrido não significa de forma alguma que a causa tenha sido o fármaco.

Os efeitos indesejáveis das vacinas anticovid, como miocardite, pericardite ou trombose arterial, têm sido muito raros, com base em bilhões de doses injetadas em todo o mundo.

E, apesar disso, as redes sociais têm divulgado um grande número de mensagens sobre "milhares de mortes" que as vacinas supostamente causaram, incluindo screenshots com números desses registros públicos.

No início de novembro, em países como Taiwan ou Austrália, foi detectado um grande fluxo de informações nas redes sobre mais mortes por vacinas do que por vírus.



- Especulações sem fundamento científico -

Um boato recorrente nas redes sociais é que a vacinação causa esterilidade. A AFP dedicou vários artigos de verificação a esse respeito que negam essa teoria.

Outro falso perigo: a droga causa Alzheimer. Outra especulação infundada, que foi escrita por um militante antivacinas.

Assim que o método de RNA mensageiro começou a ser discutido, circulou a teoria de que esse tipo de vacina modifica o genoma humano. Mas o RNA mensageiro da vacina não chega ao núcleo da célula, onde se encontra o nosso DNA.

- Vacina que te torna magnético -

Inúmeros vídeos no TikTok circularam este ano sobre a possibilidade da vacina de RNA mensageiro "magnetizar" seu corpo, ou seja, torná-lo um ímã.

As imagens mostravam colheres, ímãs "presos" na pele...

Esse boato é baseado em duas falsas teorias: por um lado, que as vacinas contêm chips informáticos ou substâncias metálicas, e por outro, que usam uma técnica conhecida como magnetofecção, que usa a química de nanopartículas magnéticas e campos magnéticos para concentrar partículas que contêm ácido nucleico.



Outra especulação relacionada a essas teorias é que as vacinas contêm grafeno, algo totalmente falso.

- Os mortos vacinados célebres -

O ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, morreu em outubro passado aos 84 anos, de complicações relacionadas à covid, apesar de ter sido vacinado.

Isso gerou uma avalanche de comentários sobre a alegada ineficácia das vacinas contra o coronavírus. Mas essas alegações deixaram de fora duas doenças importantes de que Powell sofria: mieloma múltiplo, um câncer no sangue que afeta o sistema imunológico, e Parkinson.

Fabricantes e cientistas explicaram inúmeras vezes que a eficácia das vacinas diminui entre os idosos e pessoas que sofrem de outras doenças, porque o sistema imunológico dessas pessoas é mais fraco.

Este também é o caso de um famoso músico da ilha francesa de Guadalupe, Jacob Desvarieux, 65.

Ele morreu em julho de covid, apesar de ter sido vacinado, alimentando rumores em uma ilha onde a oposição à vacinação é muito forte.

Porém, as pseudonotícias esqueceram um detalhe importante: o músico havia passado por um transplante de rim recente.

audima