Castro, de 62 anos e membro do partido de esquerda Liberdade e Refundação (Livre), disse à AFP que buscará eliminar as regulamentações que, em sua opinião, "encobriram toda a corrupção" nos últimos anos, aludindo ao governo de seu antecessor, Juan Orlando Hernández.
Honduras "precisa do coração de uma mulher para governar este país, de uma mãe que sinta as necessidades que o povo tem", frisou.
A esposa do presidente destituído Manuel Zelaya (2006-2009) respondeu a perguntas da AFP por meio de áudios no WhatsApp. Mas se absteve de comentar sobre o possível restabelecimento das relações com a China - Honduras atualmente reconhece Taiwan - e sobre seus laços com a esquerda.
1.- Migração e pobreza:
Cerca de 59% dos 10 milhões de habitantes de Honduras vivem na pobreza. E, desde 2018, milhares de pessoas partiram em caravanas para os Estados Unidos, em busca de emprego.
"Nosso compromisso é garantir que em Honduras, em sua pátria, tenham condições de uma vida digna. Educação universal gratuita para todas as crianças e todos os jovens. Ter saúde universal gratuita", promete Castro, sem maiores detalhes por enquanto.
2.- Luta contra a corrupção:
Em 2016, após questionamentos ao presidente Hernández, que utilizou em sua campanha fundos públicos, uma Missão de Apoio à Corrupção e à Impunidade (MACCIH), patrocinada pela OEA, entrou no país, mas saiu em janeiro de 2020 devido a desentendimentos.
Alguns réus argumentaram violação do princípio de inocência. Castro quer reativar essa missão ao mais alto nível.
A futuro presidente confirmou "aproximações com as Nações Unidas para conseguir a instalação da CICIH (Comissão Internacional contra a Impunidade em Honduras), para nos ajudar a combater a corrupção".
Também anunciou que seu governo enviará "uma iniciativa ao Congresso para revogar as leis que sustentaram a ditadura", como se refere ao governo Hernández.
Essas normas são chamadas de "leis da impunidade" pelo Conselho Anticorrupção.
Entre elas, mencionou a "lei de segredos" que classifica as informações sobre compras do Estado, "com a qual encobriram toda a corrupção". A reforma do Código Penal que reduziu as penalidades para a lavagem de dinheiro também é questionada.
3.- Relação com os EUA:
Washington pediu eleições "transparentes e pacíficas" e acompanhou de perto o processo. Tem uma base militar em Honduras desde os anos 1980. O secretário de Estado, Antony Blinken, já mostrou disposição de trabalhar com Castro.
Xiomara disse que "a relação com os Estados Unidos é uma relação cordial".
"Uma das principais questões é a migração. A defesa dos direitos humanos, a segurança dos migrantes, especialmente das crianças e de suas famílias, é fundamental", afirmou.
4.- Luta contra o narcotráfico:
O tráfico de drogas se infiltrou nos escalões mais altos do país, respingando inclusive no presidente. O irmão do presidente, "Tony" Hernández, cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos por narcotráfico. O presidente nega as acusações.
"Nossa luta será frontal contra o narcotráfico. Vamos garantir a segurança de nossas fronteiras, tanto aéreas quanto marítimas, para que tanto o narcotráfico quanto o de armas não ocorram", disse Castro.
5.- Revogar as ZEDE:
Em 2013, o governante Partido Nacional promoveu a criação no Congresso das Zonas Especiais de Desenvolvimento Econômico (ZEDE), territórios autorizados a funcionar autonomamente dentro do Estado de Honduras.
Seu objetivo é promover o investimento, mas a sociedade civil os considera inconstitucionais, "Estados dentro do próprio Estado" e que podem se tornar um refúgio para pessoas extraditáveis.
A ONU pediu a Honduras para "revisar" sua compatibilidade.
6.- Seu marido, o "melhor conselheiro":
Depois de ser eleito pelo Partido Liberal (PL, direita), o governo de seu marido Manuel Zelaya virou à esquerda, ligando-se a Hugo Chávez (Venezuela) e Daniel Ortega (Nicarágua), e foi derrubado em 2009 por uma aliança cívico-militar. Depois de um tempo no exílio, voltou ao país em 2011.
Durante a campanha, Castro garantiu que seu governo será de "socialismo democrático". Não se referiu às suas afiliações ideológicas.
Como a primeira mulher a governar Honduras, "tenho o compromisso de garantir que os direitos das mulheres sejam respeitados", disse.
E destacou as conquistas do governo de seu marido na luta contra a pobreza. "Nesse novo governo (...) terei o melhor assessor na casa presidencial", comentou.
7.- "Reajustar" a dívida:
Com uma dívida de quase 17 bilhões de dólares -11 bilhões de dívida externa-, uma das "primeiras ações que faremos será reajustar essa dívida".
"Não vamos impor novos impostos", afirmou, em um momento em que analistas preveem dificuldades nas finanças por conta da dívida e do déficit fiscal.
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