A líder conservadora, que por apenas nove dias não bateu o recorde de longevidade no poder de Helmut Kohl, recebeu seu sucessor na chancelaria e pediu a ele que "trabalhe pelo bem da Alemanha".
Todos os deputados, exceto os da extrema direita, deram-lhe uma longa ovação. Em resposta, Merkel, em um terno azul marinho, acenou para eles.
Scholz a homenageou por "tudo o que fez" pelo país e prometeu "um novo começo".
O social-democrata, de 63 anos, recebeu 395 votos a favor dos 736 deputados do Bundestag, que foram eleitos na votação de 26 de setembro.
Scholf prestou juramento, ao lado dos ministros, diante dos deputados e leu o artigo 56 da Lei Fundamental, no qual promete "dedicar suas forças ao bem do povo alemão".
Sua eleição como o nono chanceler da Alemanha após a guerra não era objeto de dúvidas, pois o Partido Social-Democrata (SPD) venceu as legislativas com 206 deputados eleitos, contra 197 do partido conservador União Democrata Cristã de Merkel.
Scholz é apoiado pelo Partido Verde (118 cadeiras) e o Partido Democrático Liberal (FDP, 92), que integram a nova coalizão de governo.
Com uma reputação de tranquilidade, o novo chanceler estava sorridente ao receber as felicitações e posar para fotografias.
Seu pai, de 86 anos, afirmou que seu fulho, uma espécie de "senhor sabe-tudo" quando criança, previu aos 12 anos que seria chanceler.
- Governo paritário -
Feminista convicto, Scholz vai liderar um governo integrado pela primeira vez na Alemanha pelo mesmo número de homens e mulheres.
Três mulheres comandarão ministérios cruciais: a ecologista Annalena Baerbock será a titular das Relações Exteriores e as social-democratas Christine Lambrecht e Nancy Faeser estarão à frente das pastas da Defesa e Interior, respectivamente.
Também pela primeira vez desde os anos 1950, o ministério alemão terá nomes de três partidos.
Apesar dos programas eleitorais muitas vezes divergentes, SPD, Verdes e FDP conseguiram estabelecer uma agenda que se concentra na proteção do clima, no rigor orçamentário e na questões da Europa.
Christian Lindner, líder dos liberais e defensor da austeridade orçamentária, vai comandar o ministério das Finanças.
A nova coalizão terá que enfrentar a crise de saúde provocada pela covid-19, com os hospitais sob forte pressão.
A onda de contágios levou o governo a adotar restrições severas para os não vacinados, que não podem entrar em restaurantes, locais culturais e, em algumas regiões como Berlim, nas lojas.
Scholz terá a "grande responsabilidade" de lutar contra a pandemia, afirmou o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier nesta quarta-feira.
"Não deixemos que a pandemia nos divida", insistiu o presidente, em um contexto de mobilização, especialmente da extrema dirieta, contra as restrições sanitárias.
A estratégia do novo Executivo passa pela obrigatoriedade da vacina, desejada por Scholz e que pode ser adotada a partir de fevereiro ou março.
O líder social-democrata, ex-prefeito de Hamburgo, designou como ministro da Saúde Karl Lauterbach, médico de formação e partidário de medidas restritivas.
- Uma agenda movimentada no exterior -
Após a eleição de Scholz no Parlamento, a presidente da Comissão Europeia, Ursuya von der Leyen, afirmou que deseja trabalhar com ele "por uma Europa forte", enquanto a Rússia declarou que espera manter com o novo chanceler "uma relação construtiva", em um momento de grande tensão entre UE e Moscou.
"Não há outra alternativa que o diálogo para resolver as divergências mais graves", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Defensor da interrupção do projeto de energia Nord Stream 2, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que deseja desenvolver "relações fortes" entre Washington e Berlim para "fazer avançar os desafios globais de hoje".
Em Pequim, o presidente chinês Xi Jinping afirmou que seu país está disposto "a consolidar e a aprofundar a confiança mútua política, a aumentar os negócios e a cooperação em diferentes âmbitos com a Alemanha".
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, declarou-se "impaciente" para trabalhar com Scholz, cujo país é um "aliado fiel" do Reino Unido.
Scholz não comentou até o momento o "boicote diplomático" anunciado pelos Estados Unidos contra os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022, mas a nova chefe da diplomacia não descarta seguir os passos de Washington.
Annalena Baerbock prometeu adotar um tom mais firme que o governo anterior com a Rússia, que reforçou a presença de tropas na fronteira com a Ucrânia e provoca o medo de uma possível invasão.
Para seguir a tradição, o novo chanceler alemão vai inaugurar a agenda no exterior com uma viagem a Paris na sexta-feira, seguida por uma visita a Bruxelas para encontros com os dirigentes da UE e preparar a reunião de cúpula europeia da próxima semana.
BERLIM