Jornal Estado de Minas

EL MOZOTE

Massacre de El Mozote em El Salvador: quatro décadas de impunidade

O massacre de El Mozote, cidade onde o exército de El Salvador assassinou sem piedade 988 civis, metade deles crianças, durante a guerra civil (1980-1992), completa 40 anos sem ver justiça.



Veja, a seguir, alguns dos principais fatos sobre o maior massacre cometido na América Latina nas últimas décadas:

1. - O que aconteceu?

Entre 9 e 13 de dezembro de 1981, diferentes unidades do Exército do governo, lideradas pelo batalhão contra-insurgente Atlacatl - treinado pelos Estados Unidos -, lançou a denominada "Operação Resgate" contra a população civil do nordeste do departamento de Morazán, ceca de 200 km ao nordeste de San Salvador.

O massacre começou na cidade de El Mozote e continuou em La Joya, Ranchería, Los Toriles, Jocote Amarillo, Cerro Pando e Cerro Ortiz. Também houve mortes seletivas no povoado de Arambala.

Os civis foram acusados de colaborar com a guerrilha esquerdista que havia se estabelecido na região.

2. - Número de vítimas

Um censo do governo realizado em 2017 estabeleceu que ao menos 988 pessoas, entre elas 558 crianças, foram assassinadas em El Mozote e nas comunidades adjacentes.

Outras 712 pessoas sobreviveram ao ataque, abandonaram a área e se juntaram aos milhares de deslocados da guerra civil, a qual deixou um saldo total de mais de 75.000 mortos e ao menos 7.000 desaparecidos.



3.- Ocultar

O massacre foi negado pelo governo cívico militar da época, presidido pelo democrata cristão José Napoleón Duarte, já falecido.

A especialista americana da Universidade de Stanford, Terry Lynn Karl, disse em abril, durante uma audiência contra os militares, que o massacre teve um uma operação sofisticada para ocultar por parte dos Estados Unidos e de El Salvador.

Karl afirmou que um assessor militar americano, Allam Bruce Hazelwood, acompanhou no terreno do massacre o falecido coronel salvadorenho Domingo Monterrosa, chefe do esquadrão Atlacatl.

4.- Início das exumações

Depois de superar uma série de obstáculos, as exumações forenses começaram no destruído convento de El Mozote, em novembro de 1992. Foram lideradas pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) formada por Patricia Bernardi, Luis Fondebrider e Mercedes Doretti.

A etapa de laboratório foi dirigida por especialistas dos Estados Unidos: Clyde Snow e Robert Kirshner, com o apoio de Douglas Dowell Scott (antropólogo e especialista em balística) e Jonh Joseph Fitzpatrick (radiologista).

As primeiras descobertas no convento comprovaram a realização do massacre. Dos 146 esqueletos, 140 eram de crianças.



5.- Relatório e decisão da Corte Interamericana

Em 1993, uma comissão criada pela ONU para investigar crimes de guerra concluiu que o assassinato em massa estava "plenamente comprovado".

A comissão culpou um grupo de militares, do qual faziam parte o coronel Domingo Monterrosa e seu chefe de operações Armando Azmitia. Ambos morreram em outubro de 1984, quando seu helicóptero foi sabotado pela guerrilha a cerca de 5 km de El Mozote.

Em 2012, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte-IDH) condenou o Estado salvadorenho pelo massacre e ordenou medidas de reparação.

6.- Julgamento contra militares

Em 2016, a Suprema Corte de Justiça declarou inconstitucional uma lei de anistia que desde 1993 havia perdoado os crimes de guerra. As vítimas exigiram a reabertura do caso em um tribunal de San Francisco Gotera, Morazán.

Dos 20 militares processados, 17 estão vivos, mas o juiz Jorge Guzmán, que abordava o caso, impediu o acesso aos arquivos dos quartéis.

Os militares são acusados de: assassinato, estupro com agravante, privação de liberdade agravada, roubo, danos agravados, invasão de moradia, devastações especiais, atos de terrorismo, deslocamento forçado, tortura e desaparecimento, entre outros.

Em setembro deste ano, em meio a uma reforma polêmica que expurgou juízes, Guzmán cessou suas funções em solidariedade aos seus colegas.

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