A decisão remove as barreiras processuais que até agora impediram os juízes federais de bloquear a legislação estadual, apesar de violar a jurisprudência da máxima corte.
A decisão foi saudada por opositores ao aborto, que ficaram satisfeitos com a continuidade da lei neste estado conservador do sul dos Estados Unidos, como o procurador-geral do Texas, o republicano Ken Paxton, que tuitou: "GRANDE VITÓRIA".
"É uma vitória para o Texas e o movimento pró-vida", comemorou o senador republicano texano Ted Cruz.
No entanto, o presidente democrata, Joe Biden, "está muito preocupado com a decisão da Suprema Corte de dar continuidade à lei, levando em consideração suas consequências para as mulheres do Texas, para o país e para o Estado de direito", declarou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
"Sempre apoiarei as mulheres para proteger e defender seu direito constitucional reconhecido há muito tempo", garantiu mais tarde o presidente em comunicado.
A decisão, segundo a ativista Amy Hagstrom Miller, é "cruel, injusta, desumana".
"Nossas equipes estão desesperadas, assustadas, desanimadas" e "nossas pacientes não entendem por que estão sendo negados os cuidados de que precisam", completou durante uma coletiva de imprensa a ativista, presidente do Centro de Direitos Reprodutivos do Texas.
- Uma lei muito particular -
O texto, em vigor desde 1º de setembro, proíbe às mulheres no Texas fazerem um aborto após seis semanas de gestação, mesmo em caso de incesto ou estupro.
A Suprema Corte reconheceu em 1973, e manteve em 1992, o direito das mulheres americanas de fazerem um aborto enquanto o feto não fosse viável, ou seja, entre as 22 e as 24 semanas de gravidez.
Mas a legislação do Texas apresenta um dispositivo excepcional, que até agora complicou a intervenção da justiça federal.
A lei texana confia "exclusivamente" aos cidadãos a tarefa de aplicar a proibição do aborto após seis semanas, encorajando-os a tomar ações civis contra indivíduos e organizações que ajudam mulheres a interromper a gravidez, prometendo em troca uma compensação de 10.000 dólares.
Chamada a se pronunciar sobre o assunto quando a lei entrou em vigor, a Suprema Corte, de maioria conservadora, refugiou-se nessas "novas questões processuais" para se recusar a intervir.
Sua inação, vista como um sinal da influência dos três juízes nomeados pelo ex-presidente republicano Donald Trump, foi duramente criticada pela esquerda.
- "Efeitos sinistros" -
Mas, desde então, a batalha jurídica se intensificou, obrigando a mais alta corte a assumir o caso.
Durante uma audiência em 1º de novembro, os juízes da Suprema Corte se mostraram, em sua maioria, céticos sobre a mecânica da lei do Texas.
Por fim, nesta sexta-feira, "oito membros da Corte concordam que" o princípio que protege a soberania dos 50 estados "não impede processos nos tribunais federais", segundo sua decisão, que só não teve o apoio do juiz conservador Clarence Thomas.
O presidente da Corte, John Roberts, e os três magistrados progressistas, acrescentaram, em um texto em separado, o seu desejo de que os tribunais bloqueiem rapidamente esta lei, "dados seus efeitos sinistros e persistentes".
Por mais de três meses, "as mulheres grávidas no Texas tiveram o acesso ao aborto negado em seu próprio estado após seis semanas de gravidez. Algumas exerceram seus direitos viajando para estados vizinhos, mas muitas outras não", observou a juíza progressista Sonia Sotomayor.
"O Tribunal deveria ter posto fim nesta loucura há vários meses", continuou a magistrada, que considerou que "era errado naquela época e ainda é errado hoje".
- "Encantados" -
"Mais uma vez, a Suprema Corte renunciou ao dever de proteger a Constituição permitindo que a lei texana, a mais radical e inédita do país, continue em vigor", denunciou a organização feminista Women's March.
No entanto, "não vamos parar de lutar", respondeu em sua conta no Twitter a organização Whole Woman's Health, que opera quatro clínicas no Texas e já tomou medidas legais contra a lei. "Já vencemos casos que pareciam impossíveis e sabemos que vamos fazer de novo", acrescentou.
Enquanto isso, os opositores do direito ao aborto comemoram ter ganhado tempo. "Estamos muito satisfeitos que a lei do Texas sobre batimentos cardíacos continue em vigor e salve a vida de bebês em gestação", disse Marjorie Dannenfelser, presidente do grupo Susan B. Anthony List.
"E estamos aguardando ansiosamente a decisão do tribunal" sobre uma lei que proíbe o aborto no estado de Mississípi, no sul do país, após 15 semanas de gravidez, acrescentou.
WASHINGTON