Jornal Estado de Minas

LONDRES

Após renúncia de ministro do Brexit, Reino Unido nomeia chefe da diplomacia para o cargo

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, nomeou neste domingo (9) a ministra de Relações Exteriores, Liz Truss, para assumir os assuntos pós-Brexit após a renúncia do negociador David Frost no sábado, em uma dura semana para o líder conservador.



Truss, de 46 anos, chefe da diplomacia britânica desde setembro, vai liderar as negociações com a União Europeia sobre o polêmico protocolo que rege os acordos aduaneiros especiais com a Irlanda do Norte, segundo um comunicado do governo.

"Liz Truss assumirá a responsabilidade ministerial pelas relações com a União Europeia com efeito imediato", diz a nota.

Após o anúncio, o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, indicou no Twitter que "seguiria cooperando com o Reino Unido no mesmo espírito construtivo".

Após inicialmente defender a permanência na União Europeia durante o referendo de 2016, a ex-ministra de Comércio Exterior mudou de opinião, explicando que via o Brexit como uma fonte de oportunidades econômicas.

Truss é uma figura popular nas fileiras da maioria conservadora. Seu nome aparece regularmente como uma possível sucessora de Johnson.

Dizendo não concordar com a direção tomada pelo governo de Boris Johnson, o secretário do Brexit, David Frost, renunciou na noite de sábado depois que o jornal The Mail on Sunday divulgou a notícia.



Enquanto isso, as negociações com a União Europeia sobre a implementação do protocolo da Irlanda do Norte não foram concluídas e devem ser retomadas em janeiro.

- Foto comprometedora -

Dois anos depois de uma vitória eleitoral apoiada na promessa de alcançar o Brexit, Johnson se vê cercado de escândalos e esta semana sofreu uma revolta de seu grupo político devido a medidas contra a pandemia, seguida pela perda de um reduto conservador em uma eleição parcial na Inglaterra.

Além disso, o jornal The Guardian publicou neste domingo uma foto comprometedora do líder conservador com três colaboradores bebendo vinho e comendo queijo no jardim de sua residência oficial em maio de 2020, quando tais encontros estavam proibidos.

Segundo o governo, tratava-se de uma reunião de trabalho. Mas a foto se soma a outras acusações de descumprimento de restrições sanitárias pelos círculos do poder em 2020.

No início de dezembro, o governo anunciou uma investigação interna sobre as festividades de Natal realizadas em Downing Street.

Johnson está enfrentando ainda um surto de casos de covid-19, causado pela variante ômicron.

Em sua carta de renúncia, divulgada na noite de sábado por Downing Street, Frost apontou as novas restrições de combate ao coronavírus, o aumento de impostos e a política aplicada para alcançar a neutralidade de carbono em 2050, ao explicar sua saída.



Boris Johnson afirmou que "lamentava" a saída de David Frost, expressando sua gratidão pelo trabalho realizado.

Neste domingo, o ministro da Saúde, Sajid Javid, disse ao canal Sky News que "entende as razões" que levaram Frost, "um homem de princípios", a deixar seu cargo.

- "Momento decisivo" -

Na Radio Times, a ex-primeira-ministra da Irlanda do Norte, Arlene Foster, pressionada a deixar seu posto em abril por ser considerada moderada demais, descreveu a renúncia de David Frost como "muito, muito decepcionante", pois ele "compreendia" os problemas criados pelos novos acordos pós-Brexit na Irlanda do Norte.

Na bancada da maioria conservadora, o parlamentar Andrew Bridgen afirmou que para Johnson se trata de um "momento decisivo". "Ou muda ou vai embora", disse ele à Radio Times. Este fervoroso 'brexiter' também tuitou que o primeiro-ministro "está ficando sem tempo e amigos para cumprir suas promessas e a disciplina de um verdadeiro governo conservador".



Partidário de uma linha dura com a UE, David Frost liderou as negociações de Londres sobre o Brexit, especialmente no que diz respeito à implementação do polêmico protocolo para a Irlanda do Norte.

Este último estabelece um novo regime aduaneiro para a província britânica, que na prática a mantém no mercado único e na união aduaneira europeia.

O Reino Unido e a UE tentam há meses chegar a um acordo sobre como implementar o texto, em vigor desde o início do ano. Embora Frost tenha assumido uma posição inflexível, exigindo que todos os recursos à justiça europeia para a resolução de disputas fossem contornados, em vez disso, o governo ultimamente parece ter suavizado sua posição sobre o assunto.

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