De volta à Casa Branca após um fim de semana em família em Wilmington, Delaware, o presidente americano, usando uma máscara preta, caminhou até o Salão Oval sem dirigir nenhuma palavra, nem mesmo um olhar, aos jornalistas que o esperavam descer do helicóptero. Por ora, sua agenda não prevê nenhum comparecimento público.
Seu plano, "Build Back Better" ("Reconstruir Melhor", em tradução livre do inglês), que prevê 1,75 trilhão de dólares em reformas sociais e para favorecer os Estados Unidos no enfrentamento às mudanças climáticas e na concorrência com a China, sofreu um golpe possivelmente fatal depois que o senador democrata Joe Manchin, crucial para a aprovação na Câmara alta, decidiu votar contra.
O presidente de 79 anos limitou-se até agora a publicar um tuíte, no qual garante estar "mais decidido do que nunca" a defender esse projeto que aponta, entre outras coisas, a reduzir significativamente o custo da insulina.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, tentou levantar o moral nesta segunda prometendo, em um comunicado, "votar uma versão revisada" do plano, já "aprovado pela Câmara dos Representantes".
"Continuaremos votando até que tenhamos algo", afirmou.
No entanto, o que restará da iniciativa legislativa mais importante do presidente Biden sem o apoio de Manchin?
- "Absolutamente imperdoáveis" -
Após anunciar seu voto contrário no domingo, na Fox Nows, o canal conservador preferido do ex-presidente Donald Trump, o legislador da Virgínia Ocidental repetiu nesta segunda em entrevista à rádio West Virginia Metro News que não votaria a favor destas "reformas muito, muito ambiciosas".
O BBB visa a reduzir o custo com creches e medicamentos, melhorar o poder aquisitivo das famílias e fomentar a compra de veículos elétricos.
Este centrista, que fez fortuna com os combustíveis fósseis, teme um efeito inflacionário e considera que as ajudas deveriam ser mais focadas.
Sem ele, os democratas não possuem a maioria necessária para aprovar o plano no Senado. Além disso, não há qualquer possibilidade de contar - como Biden fez recentemente para aprovar seu gigantesco plano de gastos em infraestrutura - com o apoio da oposição, já que os republicanos consideram que o "Build Back Better" colocaria os Estados Unidos no caminho para o "socialismo", um conceito polêmico no país.
A Casa Branca expressou sua frustração no domingo com um um comunicado de virulência absolutamente sem precedentes de sua porta-voz, Jen Psaki, criticando "a mudança repentina e inexplicável" e uma "violação" dos compromissos de Manchin.
"Não é o presidente, são seus colaboradores" os que fizeram "coisas absolutamente imperdoáveis", disse nesta segunda de forma enigmática o senador, após encerrar abruptamente as discussões.
O golpe desferido contra Biden, cujo índice de popularidade já é muito baixo, é bastante grave: não só estão em perigo as suas reformas, como também não resta muito de seu crédito político, faltando um ano para as eleições legislativas de meio de mandato, cujo resultado pode ser um desastre para os democratas.
O presidente, um ex-senador que se orgulha de ter dominado o jogo parlamentar como nenhum outro, se dedicou pessoalmente ao tema, conversando diretamente com Manchin em muitas ocasiões, para desgosto dos progressistas de seu partido, que se sentem enganados.
"É hora de retirar as luvas e governar", tuitou nesta segunda-feira (20) a congressista democrata Alexandra Ocasio-Cortez, um dos rostos mais conhecidos da ala progressista do partido.
- Mensagem sobre a ômicron -
Impotente ante o senador de um pequeno estado rural de 1,7 milhão de habitantes, Biden também parece estar diante de uma nova onda de covid no país, o que acumula mais mortes desde o início da pandemia há dois anos, com mais de 800.000 óbitos até agora.
Em todo o país, as filas crescem em frente aos centros de diagnóstico, enquanto competições esportivas e espetáculos estão sendo cancelados.
Isso representa um desastre para Biden, que, depois do caos vivido durante o mandato de Trump, foi eleito com a promessa de acabar com a pandemia e proteger os americanos.
Como é possível manter tal promessa em um país profundamente dividido e no qual o poder federal é limitado e qualquer medida, seja o uso de máscaras ou a obrigatoriedade da vacina, gera tanta controvérsia e ações judiciais?
Biden prevê discursar à nação nesta terça-feira sobre a variante ômicron. Seu principal assessor sobre a crise sanitária, Anthony Fauci, anunciou no domingo a tônica: "Vamos ter semanas ou meses difíceis à medida que nos aproximemos do inverno" no hemisfério norte.
WASHINGTON