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Estado de Minas TRADIÇÃO

O povo da Colômbia que celebra o Natal em fevereiro e com um Menino Jesus negro

Tradição tem raízes na época da escravidão e foi preservada pelos moradores de uma cidade afrodescendente na Colômbia


25/12/2021 12:56 - atualizado 25/12/2021 13:18

Participantes afrodescendentes colombianos seguram um presépio com o Menino Jesus em Quinamayó, departamento de Valle del Cauda, %u200B%u200BColômbia, 18 de fevereiro de 2018
No centro das celebrações está uma estátua de madeira de um Menino Jesus negro (foto: AFP)

Os moradores da cidade de Quinamayó, na Colômbia, celebram o Natal em fevereiro com uma procissão que inclui o boneco de um Menino Jesus negro.

Os afrodescendentes locais dizem que a tradição remonta aos tempos da escravidão, quando seus ancestrais eram proibidos de comemorar o Natal em 24 de dezembro.

Eles escolheram, então, uma data em meados de fevereiro — o terceiro sábado do mês — um costume que se preservou desde então.




As celebrações contam com apresentações teatrais, fantasias coloridas, fogos de artifício, música e dança.

"As pessoas que nos escravizaram comemoraram o Natal em dezembro e não nos foi permitido ter aquele dia de folga, mas nos disseram para escolher outro", disse o coordenador do evento, Holmes Larrahondo.


Boneco de Menino Jesus negro
Boneco de Menino Jesus negro é parte central das comemorações do Natal em Quinamayó (foto: AFP)

"Na nossa comunidade, acreditamos que uma mulher deve jejuar 45 dias após o parto, por isso celebramos o Natal não em dezembro, mas em fevereiro, para que Maria possa dançar conosco", acrescentou Larrahondo.


Fogos de artifício nas 'Adorações ao Menino Jesus' em Quinamayó, 18 de fevereiro de 2018
Fogos de artifício são parte fundamental das comemorações (foto: AFP)

Balmores Viáfara, professor de 54 anos, disse ao jornal local El Colombiano que, para ele, 24 de dezembro é "como qualquer outro dia" , enquanto as Adorações ao Menino Jesus, como são conhecidas as celebrações, são uma festa "em que nós negros celebramos adorando nosso Deus, à nossa maneira".

Elas combinam as crenças católicas, fruto da evangelização europeia, com outras formas de expressão e rituais que os escravos trouxeram da África.


Menina afro-colombiana vestida de anjo participa da celebração Quinamayó, 18 de fevereiro de 2018
Moradores afirmam que gerações mais jovens têm sido chave para manter tradição viva (foto: AFP)

São "celebrações de resistência", resumiu Viáfara ao El Colombiano.

No âmbito das celebrações, os moradores vão de casa em casa em peregrinação "à procura" do Menino Jesus — representado por um boneco de madeira — cantando e dançando.


Moradores assistem a dança em Quinamayó, 18 de fevereiro de 2018
Dança imita passos de escravos acorrentados (foto: AFP)

Assim que é "encontrado", o boneco é carregado em procissão ao redor da cidade por participantes de todas as idades vestidos de anjos e soldados, que finalmente a colocam na manjedoura.

Os dançarinos realizam uma dança chamada "la fuga", na qual os passos arrastados de escravos acorrentados são imitados.

As festividades — que incluem recitações conhecidas como loas, dança e bebida — continuam até as primeiras horas da manhã.


Crianças afro-colombianas participam das Adorações ao Menino Jesus em Quinamayó, 18 de fevereiro de 2018
Tradição remonta aos tempos da escravidão (foto: AFP)

Durante o restante do ano, o boneco do Menino Jesus fica sob custódia na casa de um dos moradores.

Essa responsabilidade recai sobre Mirna Rodríguez, uma parteira de 55 anos, que herdou de sua falecida mãe a tarefa de manter o boneco em perfeitas condições.

"Todos participamos do evento desde pequenos (…) então acho que a tradição nunca vai acabar", disse Rodríguez ao El Colombiano.

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