A decisão, anunciada na quinta-feira pelo Palácio de Buckingham em um comunicado de sobriedade brutal, ocupou as primeiras páginas de todos os jornais britânicos nesta sexta-feira (14), que destacavam o desejo da rainha de "distanciar-se", mas também a humilhação que isso representa para o príncipe.
"É a sobrevivência da instituição real a todo custo", escreveu o Daily Mail.
"Era o momento de tirá-lo ainda mais dos holofotes", explicou Bob Morris, historiador da monarquia, à AFP. Segundo ele, "provavelmente é o fim" para o duque de York, que não pode mais usar seu título de Alteza Real.
A situação se tornou insustentável depois que um juiz de Nova York se recusou na quarta-feira a arquivar uma ação civil que acusa Andrew, de 61 anos, de agredir sexualmente uma menor, Virginia Giuffre, nos anos 2000, um caso ligado a sua escandalosa amizade com o falecido financista e abusador condenado Jeffrey Epstein.
Também influenciou a pressão de cerca de 150 militares que escreveram à rainha para denunciar a falta de "probidade, honestidade e comportamento honroso" de seu terceiro filho - considerado seu favorito -, nono na ordem de sucessão ao trono britânico.
- Enorme vergonha -
"Foi uma grande vergonha os militares aposentados exigirem a retirada dos títulos. Vira algo constrangedor e prejudicial para a rainha, porque senão parece que ela protege o filho", disse Penny Junor, autora de vários livros sobre os monarcas do Reino Unido.
"Era hora de partir para o plano B, para proteger a monarquia e as comemorações do jubileu" de platina, os 70 anos de reinado que Elizabeth II completará em junho, acrescentou Morris.
As festividades em homenagem à monarca de 95 anos vão durar quatro dias, com desfile militar, um concerto em Londres, um concurso de sobremesas e grandes festas populares.
A soberana, que aparece cada vez mais raramente em público, teria tomado essa decisão depois de conversar com Charles, o herdeiro da coroa, e seu neto, o príncipe William, segundo na linha de sucessão, que esteve em Windsor na quarta-feira, noticiou a imprensa britânica.
"Imagino que Charles e William a tenham forçado de alguma forma", afirmou Junor à AFP. "Era prejudicial para a monarquia".
A monarquia tem relativamente poucos críticos no Reino Unido, graças à popularidade de Elizabeth II, que tem se mantido inalterada apesar das múltiplas crises dos últimos anos.
Mas o futuro é muito mais incerto, já que seu herdeiro Charles continua sendo pouco querido pelos súditos britânicos.
- "Ovelha negra" -
Andrew teria sido convocado na quinta-feira ao Castelo de Windsor, para onde foi de carro com seu advogado. Ele mora a cinco quilômetros de lá, no Royal Lodge, a antiga casa da rainha-mãe.
"Acho que foi a coisa certa a fazer", avaliou Deborah Jane Paul, uma contadora de Londres. "Envergonha sua majestade, não é justo (...) e acho que ela se comportou muito bem" com ele.
Qualquer que seja o resultado do julgamento civil em Nova York - onde segue existindo a opção de um acordo financeiro extrajudicial - ele será dirigido "pessoalmente ao príncipe Andrew, e não à monarquia", advertiu Morris. "Andrew é a ovelha negra da família, mas a família seguirá em frente".
O príncipe já estava afastado da vida pública desde uma desastrosa entrevista na televisão em 2019, quando negou todas as acusações contra ele, sem demonstrar a menor empatia pelas vítimas ou qualquer arrependimento por sua amizade com Epstein.
Nesta sexta-feira, um funcionário do governo se recusou a dizer se seu dispositivo de segurança ainda seria pago pelos contribuintes.
Também não está claro se ele poderá participar da cerimônia na Abadia de Westminster planejada para a primavera em memória de seu pai, o príncipe Philip, que morreu em abril.
LONDRES