Jornal Estado de Minas

RIO DE JANEIRO

Polícia do Rio realiza megaoperação para 'recuperar' controle do Jacarezinho

Centenas de policiais foram enviados nesta quarta-feira (19) para a comunidade do Jacarezinho para "recuperar" o controle do território dominado por organizações criminosas, o mesmo local em que foi realizada a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, em maio de 2021.



Desde muito cedo pela manhã, 1.200 policiais fortemente armados entraram na comunidade situada na Zona Norte da cidade, considerada um bastião do Comando Vermelho, informou a Polícia Militar no Twitter.

"O Governo do Estado inicia uma retomada de território na comunidade do Jacarezinho. Comunidades que estão no entorno também serão ocupadas", afirmou a força em uma de suas postagens na rede social, acompanhadas de fotos e vídeos dos agentes patrulhando as ruas.

É "uma intervenção nesta zona conflagrada para que possamos implementar um projeto do governo do Estado. A segurança é o primeiro passo", disse Ivan Blaz, porta-voz da Polícia Militar, à AFP.

"Os passos seguintes farão a diferença: a chegada de serviços sociais, emprego, saúde, educação e acolhimento social", acrescentou Blaz, que havia dito anteriormente que a situação era de "aparente tranquilidade" e não há registro de "tiroteios" entre criminosos e autoridades.

As ruas do Jacarezinho - -onde vivem cerca de 90.000 pessoas, de acordo com associações de moradores - estavam vazias e o comércio fechado, em meio a um ambiente tenso e ao medo dos moradores, que não quiseram dar entrevistas, conforme constatou uma equipe da AFP.



- Reformulação das UPPs -

A megaoperação é parte de um programa do governo estadual, batizado de Cidade Integrada, para transformar "as comunidades do estado do Rio" em que atuam organizações criminosas e narcotraficantes, segundo detalhou o governador Cláudio Castro (PL) no Twitter.

"As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança", afirmou.

Castro, que assinalou que dará mais detalhes no próximo sábado, disse na semana passada que a iniciativa, com foco social e urbanístico, seria diferente das implementadas em outras épocas, quando as autoridades aplicavam uma estratégia militar contra os grupos criminosos.

Esse enfoque militar é alvo de muitas críticas dos especialistas em segurança e violência, pois apresentam poucos resultados e resultam em um alto índice de letalidade.

O projeto Cidade Integrada substituirá as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), criadas em 2008 durante governo de Sérgio Cabral, que cumpre pena desde 2016 por corrupção.



Com a presença permanente de policiais nas comunidades, as UPPs conseguiram inicialmente reduzir a violência, mas a situação se deteriorou com o tempo, em particular devido à grave crise financeira que afetou o estado do Rio depois dos Jogos Olímpicos de 2016.

Além das comunidades dominadas pelo tráfico, o novo programa abrangerá territórios onde atuam milícias vigilantes, grupos que ganharam espaço nos últimos anos ao controlar bairros inteiros com base em extorsão, venda ilegal de serviços básicos e disputas armadas.

Segundo a Rede de Observatórios de Segurança, formada por organizações acadêmicas e da sociedade civil, a Cidade Integrada "repete uma fórmula fracassada de ocupação militar e não tem um programa social desenhado".

"Não há articulação setorial, nem muito menos diálogo com os moradores", acrescentou a ONG, que a qualificou de jogada eleitoral por parte do governador, pré-candidato à reeleição em outubro.



- Operação mais mortal da história -

O Jacarezinho foi cenário, em maio do ano passado, de uma controversa e violenta incursão policial que deixou 28 mortos, entre eles um agente das forças de segurança.

A operação tinha como objetivo desarticular uma organização criminosa que recrutava crianças e adolescentes para traficar drogas, roubar, sequestrar e assassinar.

Organizações de defesa dos direitos humanos a classificaram como a operação policial mais mortífera da história de Rio e fizeram denúncias de execuções extrajudiciais, que a ONU pediu que fossem investigadas.

Desde outubro do ano passado, dois agentes estão sendo processados na Justiça por homicídio.

Na época, o presidente Jair Bolsonaro, conhecido por seu discurso de linha dura contra a criminalidade e por sua defesa de policiais e militares, apoiou a operação.

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