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Estado de Minas OSLO

Talibãs e membros da sociedade civil afegã 'quebram o gelo' em Oslo


23/01/2022 16:15

Na véspera das conversas com diplomatas ocidentais, os talibãs "quebraram o gelo" neste domingo(23) em Oslo ao se reunir com membros da sociedade civil afegã, com foco em direitos humanos.

Liderados por seu ministro das Relações Exteriores, Amir Khan Mutaqqi, os talibãs dedicaram o primeiro dos três dias ao encontro com militantes feministas e jornalistas.

Na delegação de 15 membros do Talibã, todos homens que chegaram na noite de sábado a bordo de um avião norueguês, está Anas Haqqani, um dos chefes da rede Haqqani, considerada pelos Estados Unidos um grupo terrorista.

O encontro foi a portas fechadas no hotel Soria Moria, nos arredores de Oslo.

Uma das ativistas feministas, Jamila Afghani, disse que a reunião foi um "quebra-gelo positivo".

"Os talibãs mostraram boa vontade", disse ela em mensagem enviada à AFP. "Vamos ver se as palavras deles se traduzem em ação".

Os participantes enfatizaram que "todos os afegãos devem trabalhar juntos para melhorar a política, a economia e a segurança do país", tuitou o porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, no que classificou como uma "declaração conjunta".

Assim, os presentes na reunião reconheceram que "a compreensão e a cooperação conjunta são as únicas soluções para todos os problemas no Afeganistão", disse o porta-voz.

Na segunda-feira, a delegação talibã se reunirá com autoridades dos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália e União Europeia. A terça-feira será dedicada a contatos bilaterais com as autoridades norueguesas.

Nenhum país até agora reconheceu o governo talibã e o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Anniken Huitfeldt, enfatizou que as negociações "não constituem legitimação ou reconhecimento".

"Mas temos que falar com as autoridades que de fato governam o país. Não podemos deixar que a situação política leve a um desastre humanitário ainda maior", disse.

"A formação de um sistema político representativo, a resposta a crises humanitárias e econômicas, preocupações de segurança e antiterrorismo, e direitos humanos, em particular a educação de meninas e mulheres", estarão na mesa, disse o Departamento de Estado americano.

O Talibã, que foi deposto em 2001, mas voltou ao poder em agosto, espera que as negociações ajudem a "mudar a atmosfera de guerra... para uma de paz", disse à AFP um porta-voz do governo islâmico Zabihullah Mujahid.

Desde agosto, a ajuda internacional que financia cerca de 80% do orçamento afegão foi cortada repentinamente e os Estados Unidos congelaram US$ 9,5 bilhões em ativos do banco central afegão.

O desemprego disparou e os funcionários públicos não são pagos há meses, em um país já assolado por uma seca severa.

A fome agora ameaça 23 milhões de afegãos, 55% da população, segundo a ONU, que pediu aos países doadores US$ 4,4 bilhões este ano.

- "Apartheid de gênero" -

"Seria um erro infligir punição coletiva aos afegãos apenas porque as autoridades de fato não estão se comportando bem", reiterou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na sexta-feira.

Mas a comunidade internacional está esperando para ver como os fundamentalistas islâmicos planejam governar o Afeganistão, já que violaram os direitos humanos durante sua primeira passagem pelo poder entre 1996 e 2001.

Apesar das promessas, as mulheres são excluídas dos empregos no serviço público e a maioria das escolas secundárias para meninas permanecem fechadas.

Nargis Nehan, ex-ministra afegã de Minas e Petróleo, agora refugiada na Noruega, recusou-se a participar das negociações, temendo que elas "normalizem o Talibã, o fortaleçam sem mudar nada".

"Que garantia temos de que desta vez eles cumprirão suas promessas?", pergunta ela, indicando que as prisões de ativistas e jornalistas feministas continuaram em seu país nos últimos dias.

O analista político Davood Moradian criticou a iniciativa de paz, que considera um "espetáculo" para o país anfitrião.

"Receber um alto funcionário do Talibã lança uma sombra sobre a reputação da Noruega como um país que se preocupa com os direitos das mulheres, enquanto o Talibã instituiu de fato um apartheid de gênero", disse.


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