Moise Kabagambe, de 24 anos, que chegou ao Brasil em 2011 fugindo da violência na República Democrática do Congo, morreu no dia 24 de janeiro à noite em um dos quiosques da praia da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, onde trabalhava por diárias.
De acordo com relatos de familiares e imagens de uma câmera de segurança divulgadas pelo jornal O Globo, Kabagambe foi agredido por pelo menos três homens após discutir com o gerente, de quem exigia o pagamento de duas diárias em atraso.
"Ele queria seu dinheiro para voltar para casa e não quiseram dar a ele. Eles começaram a discussão (...) e o dono do estabelecimento pegou um pedaço de madeira para bater nele, ele pegou uma cadeira para se defender", disse à AFP Sammy Kabagambe, irmão de Moise de 28 anos, que também mora no Rio de Janeiro.
Após ameaçá-lo, o gerente chamou outras pessoas, que atacaram o jovem por vários minutos com pedaços de madeira e um taco de beisebol e amarraram seus pés e mãos com cordas, contou Sammy, a partir do relato de um primo de Moise e um advogado, que viram imagens das câmeras de segurança.
O trecho do vídeo publicado pelo O Globo, de quase quatro minutos e com cortes, mostra que após o espancamento, os homens tentaram reanimá-lo, sem sucesso.
O caso gerou uma onda de indignação nas redes sociais, onde vários artistas, atletas e autoridades exigiram justiça.
Caetano Veloso disse no Twitter que chorou ao ler sobre o crime e que o fato do quiosque se chamar "Tropicália", nome do movimento cultural dos anos 1960 de qual foi um dos maiores expoentes, aprofunda "a dor de constatar que um refugiado da violência encontra violência no Brasil".
"Esse não é o Rio que aprendi a amar e que me recebeu de braços abertos!!! Queremos justiça, não podemos normalizar crimes como esse!!", tuitou, por sua vez, o jogador Gabigol, atacante do Flamengo.
A imprensa informou que uma pessoa que confessou ter participado do crime se entregou às autoridades nesta terça-feira.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) da Polícia Civil informou que está investigando o caso. "A perícia foi realizada no local e imagens de câmeras de segurança foram analisadas. Diligências estão em curso para identificar os autores", disse em um e-mail enviado à AFP.
- "Como um bicho" -
Moise chegou ao Brasil junto com parte de sua família em 2011, fugindo da insegurança na República Democrática do Congo, que é palco de conflitos armados há décadas.
"Desde então estávamos procurando começar uma nova vida, estudar, depois trabalhar (...) Mas agora não há mais vontade nem de ficar nesse país", lamentou Sammy Kabagambe.
Moisés morava com outros irmãos e sua mãe, Ivana Lay, em Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro.
"Não podem matar as pessoas assim. Eles quebraram as costas do meu filho, quebraram o pescoço. Eu fugi do Congo para que eles não nos matassem. No entanto, eles mataram o meu filho aqui como matam em meu país. Mataram o meu filho a socos, pontapés. Mataram ele como um bicho", exclamou a mãe em comovente depoimento ao O Globo.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou nesta terça-feira que "o assassinato de Moise Kabamgabe é inaceitável e revoltante".
"Tenho a certeza de que as autoridades policiais atuarão com a prioridade e rigor necessários para nos trazer os devidos esclarecimentos e punir os responsáveis", acrescentou.
audima