- O problema central: a Otan rumo ao leste
A expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste europeu parece ser o nó que compromete todo o resto.
A Rússia, que se considera ameaçada em seu flanco ocidental, pede que os Estados Unidos e os países da Otan se comprometam a não ampliar a Aliança Atlântica (artigo 6 da proposta de tratado com a Otan, e artigo 4 da proposta aos Estados Unidos).
Ao que a Otan responde que se comprometeu com "a política de portas abertas" a outros membros potenciais da Aliança (artigo 8.2 da resposta), uma posição evidentemente apoiada pelos Estados Unidos.
O presidente russo, Vladimir Putin, denuncia "a falta de vontade da Otan em responder de forma adequada às preocupações legítimas da Rússia" sobre sua segurança, segundo um comunicado do Kremlin.
A Rússia também pede que a Otan se abstenha de qualquer atividade militar na Ucrânia, assim como "na Europa do Leste, no Cáucaso do Sul e na Ásia Central" (artigo 7 do tratado proposto à Otan).
Em resposta, a Otan pede "a retirada das tropas russas de Ucrânia, Geórgia e Moldávia", em alusão, respectivamente, à anexada península da Crimeia, assim como às regiões pró-russas da Ossétia e da Abkházia (na Geórgia) e da Transnístria (na Moldávia).
Aceitar as demandas russas de não ampliação da Otan significaria para os países envolvidos ficar "com uma soberania limitada, usando um termo dos tempos de Breznev", avalia o analista François Heisbourg, do Internacional Institute for Strategic Studies (IISS) em Londres, em alusão à doutrina do ex-dirigente soviético Leonid Breznev durante a Guerra Fria, que limitava a soberania dos países do bloco soviético.
- O tema da "segurança indivisível"
Este é outro tema de desacordo entre as duas partes, que não parecem analisar o conceito da mesma forma, mas se dizem dispostas a discutir. A ideia de "segurança indivisível" significa que a segurança de cada país está ligada de forma indivisível à dos demais.
Para os russos, muito apegados a este conceito, "isso quer dizer não adesão à Otan", aponta Jean de Gliniasty, especialista do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicos (Iris) e ex-embaixador da França em Moscou.
"Que os Estados Unidos aceitem falar sobre isso é novo", acrescenta, embora não seja presságio de nada. "Estamos dispostos a discutir a indivisibilidade da segurança e nossas interpretações deste conceito", afirmam os Estados Unidos na introdução de sua resposta.
Para o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, no entanto, as posições ocidentais "mostram sérios desacordos na compreensão deste princípio (...) fundamental para o conjunto da arquitetura de segurança europeia".
- A redução das forças convencionais
Em seu artigo 4 da proposta enviada à Otan, a Rússia propõe que ambas as partes voltem a um nível de mobilização de forças na Europa equivalente ao de 27 de maio de 1997, ato fundacional das relações entre a Otan e a Rússia.
A Otan, em seu ponto 9.10, propõe que a Rússia volte a aplicar o tratado sobre as forças armadas convencionais na Europa (FCE ou CFE em inglês), que suspendeu em 2007.
- Os mísseis de curto e médio alcance
Isso se refere à relação entre os Estados Unidos e a Rússia. No artigo 6 de sua proposta, a Rússia deseja a proibição do deslocamento de mísseis de curto e médio alcance fora do território nacional e em áreas de onde possam atingir o território da outra parte.
Os Estados Unidos Unidos dizem "estar dispostos a iniciar discussões" a respeito, mas se mostram preocupados com os descumprimentos russos ao tratado FNI sobre as forças nucleares intermediárias, que expirou em 2019 e tentava desmantelar este tipo de mísseis, que transportam cargas convencionais ou nucleares.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos se dizem "dispostos a discutir um mecanismo de transparência para confirmar (para os russos) a ausência de mísseis de cruzeiro Tomahawk" nos sistemas de defesa Aegis Ashore, atualmente deslocados na Polônia e na Romênia, ao mesmo tempo em que pedem reciprocidade.
- Aberturas possíveis?
Os dois lados se dizem favoráveis a criar procedimentos de redução de conflitos para evitar erros, estabelecer relações telefônicas privilegiadas, encontrar meios de entendimento no mar e no ar, etc.
"Pode haver assuntos acessíveis", especialmente sobre o tema dos mísseis, diz Heisbourg, embora considere que será difícil para Putin vender como vitória diplomática o que obteria em temas secundários com relação ao problema central.
Para Alexander Clarkson, do King's College de Londres, "os documentos têm elementos que podem servir de apoio para encontrar uma porta de saída para os russos, se quiserem usá-la. E isso não se pode saber".
"Se este fosse o caso, seria uma guinada russa muito importante", avalia Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS).
PARIS