"O que temos que construir hoje, porque é o bom momento (...), é o renascimento da indústria nuclear francesa", afirmou Macron em Belfort (leste), após reconhecer os questionamentos que surgiram na década passada após a catástrofe de Fukushima (Japão) em 2011.
Seu plano passa por encomendar ao gigante energético francês EDF, de maioria estatal, a construção de seis reatores EPR2 para 2050 e analisar a possibilidade de oito adicionais, assim como prolongar a vida do maior número possível de reatores em funcionamento.
Esta última decisão implica uma mudança de rumo em relação a 2018 quando, também sob a presidência de Macron, foi estabelecido o objetivo de fechar uma dúzia, neste país que se destaca no Ocidente pela sua aposta clara pela energia nuclear civil. A Alemanha, por exemplo, fechará suas últimas usinas em 2022.
Impulsionada durante os governos de Charles de Gaulle (1959-1969) e Georges Pompidou (1969-1974), a energia nuclear gerou em 2020 70,6% da eletricidade na França, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Nos Estados Unidos representou quase 20%.
"Precisamos retomar o fio da grande aventura da energia nuclear civil na França", destacou Macron, que em outubro já anunciou o investimento de 1 bilhão de euros (1,114 bilhão de dólares) em reatores modulares pequenos (SMR), em seu plano para reindustrializar seu país.
O anúncio foi feito em uma fábrica de turbinas Arabelle, fundamentais para equipar os reatores EPR, EPR2 e SMR, pertencentes à americana GE Steam Power, mas que são incluídas no acordo de exclusividade anunciado nesta quinta-feira pelo EDF para comprar atividades nucleares desta empresa.
Desse modo, a França recupera essa estratégica fábrica para o setor nuclear que Emmanuel Macorn, então ministro da Economia do presidente socialista François Hollande, vendeu em 2015 à General Electric. "Era isso ou fechar" as atividades, defendeu ele nesta quinta-feira.
- Cinquenta parques eólicos no mar -
Desde então, a pandemia de covid-19, que paralisou temporariamente as cadeias de abastecimento mundiais, expôs a dependência da França das indústrias estrangeiras e, a nível europeu, foi adotado um plano de recuperação que passa pela transição ecológica e digital.
Embora entre a classe política francesa exista um certo consenso a favor da energia nuclear, sua inclusão pela Comissão Europeia como investimento "verde", para facilitar a chegada de dinheiro, dividiu os países da União Europeia (UE).
Essa proposta do Executivo comunitário, defendida pela França e que ainda será debatida pela Eurocâmara, foi rejeitada por Alemanha, Luxemburgo e Áustria, que anunciou inclusive um recurso na Justiça europeia, assim como ONGs e grupos ambientalistas.
Macron "está condenando a França a um século de (energia) nuclear", afirmou antes de seu anúncio o candidato ambientalista à presidência de abril Yannick Jadot, que lembrou dos 17 bilhões de euros e custos extras e o atraso na construção do EPR de Flamanville (oeste).
Essa não é a única polêmica. O EDF anunciou nos últimos meses a suspensão da atividade de vários reatores por problemas de corrosdão nos sistemas de segurança ou para realizar controles, um fato que para Macron comprova a "segurança" do seor na França.
Os novos reatores anunciados serão do tipo EPR e são considerados mais simples e baratos de construir, já que se beneficiam do efeito em série - contrução por pares - e da pré-fabricação na fábrica ou modularização.
Porém, diante do tempo de fabricação dos novos EPR2 e da emergência climática, os planos da França passam também por dobrar a produção de eletricidade de fontes renováveis até 2030, impulsionando a solar e construindo 50 parques eólicos no mar.
"Não há produção industrial estável se não houver energia estável aos preços mais competitivos", destacou Macron em seu discurso, no qual também expressou os benefícios para a "transição energética e climática", para a "soberania" e o "poder aquisitivo".
Com essa última referência, o presidente - que ainda não anunciou sua esperada candidatura à reeleição na presidencial de abril - tocou na principal preocupação dos franceses, em um contexto de aumento dos preços da energia a nível mundial.