Jornal Estado de Minas

BERLIM

Alemanha endurece o tom frente à Rússia sobre crise na Ucrânia

O chefe de Estado alemão destacou, sem rodeios, a "responsabilidade" da Rússia no risco de que comece uma "guerra" na Europa pela situação na Ucrânia, ao tentar esclarecer a posição de seu país, às vezes acusado de ser complacente com Moscou.



"Lanço um apelo ao presidente (russo, Vladimir) Putin: afrouxe a corda do pescoço da Ucrânia! E busque conosco a forma de preservar a paz na Europa!, exclamou Frank-Walter Steinmeier, neste domingo (13).

O presidente deu estas declarações coincidindo com sua reeleição para o cargo, na véspera de o chefe de governo, Olaf Scholz, viajar a Kiev e Moscou. O chanceler advertiu que as sanções ocidentais serão "imediatas" se a Rússia decidir invadir a Ucrânia.

Na Alemanha, o cargo de presidente é sobretudo protocolar, mas o fato de seu titular, uma figura muito respeitada, fazer estas declarações não é insignificante.

- Risco de conflito -

"Há um perigo de um conflito militar, uma guerra no leste da Europa, e a Rússia tem responsabilidade nisso", disse Steinmeier, após ser reeleito para mais cinco anos no cargo.

Social-democrata próximo ao chanceler Olaf Scholz, o presidente alemão conseguiu se reeleger graças à esmagadora maioria obtida por um eleitorado especial, composto sobretudo por deputados federais e regionais.

Ele obteve 1.045 votos dos 1.045 depositados, sendo apoiado por todos os grandes partidos de centro esquerda e centro direita.



Fazendo alusão a um "distanciamento" crescente da Rússia em relação à Europa, Steinmeier, que esteve à frente da diplomacia alemã durante anos, pediu firmeza frente a Moscou.

"Como vemos, a paz não pode ser dada como certa. Sempre se tem que agir para preservá-la, no diálogo. Mas, quando for necessário, é preciso dizer as coisas claramente, mostrando dissuasão e determinação", frisou.

Ele respondeu desta forma às muitas críticas feitas nas últimas semanas à posição do governo alemão em relação ao Executivo russo.

"Já é hora de a Alemanha tirar seus óculos russos em (...) sua política em relação à Ucrânia, pois turvam a visão", disse o embaixador ucraniano em Berlim, Anrij Melnyk, neste domingo, durante entrevista à rádio pública alemã.

Na mesma linha do chefe de Estado, o chanceler Olaf Scholz também se mostrou firme neste domingo, véspera de sua viagem a Kiev. Na terça-feira, ele seguirá para Moscou.

"No caso de uma agressão militar contra a Ucrânia, que poria sua soberania e sua integridade territorial em risco, isso levaria a sanções duras, que preparamos cuidadosamente e que poderemos aplicar imediatamente com nossos aliados na Europa e na OTAN", declarou Scholz à imprensa, após a reeleição de Steinmeier.



- Situação "crítica" -

Em um sinal da crescente preocupação de Berlim com a situação na Ucrânia, uma fonte oficial reconheceu que "a preocupação (do governo) aumentou" quanto a uma eventual invasão.

"Nossa preocupação é grande (...) Pensamos que a situação é crítica, que é muito perigosa", destacou esta fonte que conversou com a imprensa sob a condição do anonimato, em alusão às advertências lançadas pelos Estados Unidos sobre uma invasão russa iminente.

"Muitos elementos apontam, de forma muito preocupante, na direção" dos temores atuais, frisou.

Mas, apesar de tudo, a Alemanha continua se negando a enviar armas "letais" à Ucrânia, escudando-se em uma política instaurada após a Segunda Guerra Mundial no país, que proíbe este tipo de vendas em áreas de conflito.