"A opção mais sensata é deixar a Ucrânia agora", diz o empresário marroquino Aimrane Bouziane no aeroporto de Borýspil, em Kiev, enquanto suspira aliviado ao ver que seu voo não foi cancelado. Embora em nível internacional as tensões estejam crescendo, no aeroporto, o clima é de tranquilidade. Enquanto aguardam seus voos, os passageiros tomam café e degustam doces.
O governo ucraniano prometeu neste domingo (13/2) manter aberto o espaço aéreo, mas na véspera, a companhia aérea holandesa KLM suspendeu todas as conexões que sobrevoam o país.
Com 130.000 militares russos concentrados na fronteira ucraniana, os Estados Unidos alertam que uma invasão russa pode acontecer a "qualquer momento e sem aviso". A Alemanha qualificou a situação de "crítica" neste domingo.
"Temo pela minha vida"
O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, avaliou neste domingo que havia um certo "cheiro de Munique no ar", em alusão ao acordo de 1938 com a Alemanha nazista, que lhe permitiu anexar os Sudetos, mas em evitar uma guerra."Sim, vou embora por causa da situação, porque tenho pela minha vida", explica Aimrane Bouziane, de 23 anos. "O que pode acontecer? Uma invasão. Putin poderia invadir. Já o fez, então pode voltar a fazê-lo", afirma.
Denis Lucins, técnico de futebol americano, acaba de voltar dos Estados Unidos para se encontrar com a mulher e o filho de 7 anos que moram em Mykolaiv, no sul da Ucrânia, ignorando as recomendações de Washington de deixar o país.
"Há um certo nível de preocupação. Mas sabem, vivi aqui em 2014, vi a anexação da Crimeia, o conflito no Donbass. Esperemos para ver o que acontece. Lá onde moro, em Mykolaiv, esperamos que não aconteça nada de mau", explica.
"Tropas russas em Kiev? É demais"
Enquanto o presidente americano, Joe Biden, é considerado alarmista demais, até mesmo pelas autoridades ucranianas, Denis Lucins acredita que sua estratégia é a correta."Tinha razão quando disse há alguns meses, 'Veja, há 100.000 soldados russos na fronteira'. Penso que está certo que os Estados Unidos tenham dito 'Não podem invadir'. E a Grã-Bretanha e outros os seguiram", diz.
"Pessoalmente, não penso que algo vá acontecer, mas infelizmente, ninguém pode ler a mente de Vladimir Putin", acrescenta.
Para o viajante da Armênia Armen Vartanian, de 36 anos, Kiev não tem nada a temer.
"Penso que Putin poderia pegar um pouco mais do leste", onde o exército ucraniano luta desde 2014 contra os separatistas pró-russos apoiados por Moscou, que controlam parte das regiões de Donetsk e Luhansk, na bacia carbonífera do Donbass.
"O Donbass sim, já está separado, estão usando rublo, as tropas russas já estão lá. (Putin) poderia tomá-lo", reflete Vartanian.
Mas, "tropas russas em Kiev? Não, não acho que isso ocorra. Seria a Terceira Guerra Mundial, é demais".
O encarregado de comunicação do aeroporto Borýspil, Olexandre Demtchyk, quer acalmar os ânimos. "A situação é essa. Está muito tenso, mas não sentimos nenhum pânico. Acho que tudo vai ficar bem".