Aos gritos de "não somos um, não somos cem, somos milhões, conte-nos direito!" e "o que queremos? Cidadania, agora, agora, agora", centenas de imigrantes enfrentaram um frio congelante para dizer ao presidente Joe Biden que "se sentem decepcionados e querem que ele cumpra as promessas da campanha eleitoral", disse à AFP Carlos Eduardo Espina, o influenciador que convocou o protesto na rede social.
"Presidente, acorde, essas pessoas que levaram a frente (o país) durante a covid, que cultivaram a terra e levaram comida para as mesas, as mulheres que cuidaram das crianças, os idosos, os que trabalharam na limpeza, na lojas, na construção, as empregadas domésticas" querem ser reconhecidas, declarou no microfone Lenka Mendoza, de origem peruana.
- Os esquecidos -
"São heróis que trabalharam durante a pandemia e não podemos permitir que continuem esquecidos", acrescentou a mulher, que sabe muito bem o que significa lutar por seus ideais.
No mesmo local, em frente à Casa Branca, há oito anos, fez uma greve de fome de 18 dias para que o ex-presidente Barack Obama assinasse um programa para ajudar pais sem documentos com filhos americanos, que posteriormente seu sucessor Donald Trump encerrou.
Atualmente, estão pedindo a Biden um caminho para a cidadania. O presidente propôs uma reforma para levar cidadania a 11 milhões de imigrantes indocumentados em um país que não tem uma lei desse tipo há 35 anos, mas suas principais iniciativas estão paralisadas, sem apoio suficiente no Senado, onde ele se depara com uma oposição frontal dos republicanos e de alguns centristas.
A iniciativa "Um Dia Sem Imigrantes" - que conta com o apoio de parlamentares como Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha, e Ilhan Omar, ex-refugiada somali e muçulmana - mobilizou milhares de pessoas desde que Espina, que tem mais de 2,5 milhões de seguidores no TikTok, a convocou há menos de 15 dias.
A data escolhida corresponde ao Dia dos Namorados nos EUA. "É um dos dias de maior gasto no país. Mas se não fossem os imigrantes, esse dia tão comercial não seria possível", diz a página do movimento no Facebook.
- "É assim que nos pagam" -
O mexicano Leopoldo López, de 43 anos, foi um dos que decidiu aderir à ação e fechou sua empresa de mudanças em Nova York. "Não estamos roubando aqui, estamos criando empregos. Emprego 12 cidadãos e viajo pelo país onde preciso de mão de obra e dou trabalho", disse à AFP.
"Trabalhamos batendo de porta em porta para movimentar a votação e é assim que nos pagam, com essas injustiças", queixou-se Anselmo Salazar, referindo-se aos democratas, diante dos manifestantes que gritavam palavras de aprovação. "Quero te dizer, Joe Biden: se não cumprir sua promessa, ficará sonhando com a reeleição."
Em 2020, os latinos foram a maior minoria com participação nas urnas e, segundo algumas estimativas, votaram em torno de 70% nos democratas e quase 30% nos republicanos, embora os percentuais variem muito entre estados.
Os organizadores do protesto desta segunda-feira pedem a todos os migrantes nos Estados Unidos que liguem e escrevam para os congressistas de seu estado para solicitar que se mobilizem por "uma reforma migratória para todos, que lhes permita trabalhar legalmente e viajar livremente (...) sem risco de deportação".
"Aqui não temos lados políticos", afirma Espina. "Não apoiamos mais promessas, mas sim fatos."
WASHINGTON