Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Biden diz estar 'convencido' de que Putin decidiu invadir Ucrânia

Joe Biden declarou pela primeira vez nesta sexta-feira (18) que estava "convencido" de que o presidente russo, Vladimir Putin, "tomou a decisão" de invadir a Ucrânia, e que a multiplicação de confrontos visa criar uma "justificativa falsa" para o lançamento da ofensiva na próxima "semana" ou "dias".



O presidente dos Estados Unidos, porém, deixou a porta aberta para o diálogo. "Até que (Putin) o faça, a diplomacia é sempre uma possibilidade", disse Biden em um discurso televisionado da Casa Branca, anunciando que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reunirá na quinta-feira, 24, na Europa, com seu homólogo russo, Sergey Lavrov.

Por sua parte, o presidente francês, Emmanuel Macron, falará por telefone com Putin neste domingo, um dia depois de ligar para o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

Zelensky planeja participar da Conferência de Segurança de Munique, que vai até domingo e que contará com a presença de vários líderes internacionais. No entanto, Biden questionou abertamente se era "sábio" da parte do presidente ucraniano deixar seu país em meio à crescente tensão.

A Rússia nega qualquer plano de invasão, mas exige garantias para sua segurança, como a retirada da Otan do Leste Europeu, que os países ocidentais rejeitam.

- "Justificativa falsa" -

Os temores de uma intervenção militar russa na Ucrânia ficaram mais fortes do que nunca em meio a crescentes violações do cessar-fogo entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas, que lutam desde 2014 no leste da Ucrânia.



Os líderes dos territórios secessionistas pró-Rússia nesta região ordenaram a evacuação de civis para a Rússia.

"Tudo é consistente com a estratégia que os russos usaram no passado, que é criar uma justificativa falsa para intervir contra a Ucrânia", acusou Biden, após participar de outra teleconferência com seus aliados da Otan.

Um funcionário dos EUA estimou nesta sexta-feira que a Rússia mobilizou 190.000 soldados, incluindo forças separatistas na Ucrânia.

É "a maior concentração de tropas militares" desde a Guerra Fria, afirmou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, observando que a Rússia pode atacar sem aviso prévio.

- Putin acusa Kiev -

Putin, por sua vez, acusou Kiev de alimentar o conflito e apontou um "agravamento da situação em Donbass", região onde o exército ucraniano luta há oito anos contra forças pró-russas apoiadas por Moscou.

"Tudo o que Kiev precisa fazer é sentar-se à mesa de negociações com os representantes (dos separatistas) de Donbass e chegar a um acordo", afirmou o presidente russo.



O Ocidente prometeu sanções econômicas devastadoras a Moscou no caso de uma invasão da Ucrânia. Os aliados dos EUA tornariam a Rússia um "pária", disse um alto funcionário americano nesta sexta-feira.

Mas Putin voltou a minimizar a ameaça do Ocidente: "Sanções serão impostas não importa o que aconteça. Se houver uma razão ou não, eles encontrarão uma, porque seu objetivo é impedir o desenvolvimento da Rússia".

Aumentando as tensões, o Ministério da Defesa russo anunciou que Putin supervisionará pessoalmente os exercícios militares programados para este sábado, que envolvem mísseis com capacidade nuclear.

- Retirada ou não? -

Ao longo do dia, beligerantes no leste da Ucrânia acusaram uns aos outros de violar uma trégua e usar armas pesadas.

À tarde, as sirenes dos bombardeios ainda podiam ser ouvidos em Stanitsa Luganska, uma cidade sob controle ucraniano, segundo jornalistas da AFP. O local já havia sido alvo de tiros no dia anterior, que atingiram uma creche.

O líder separatista da região de Donetsk, Denis Pushilin, anunciou a evacuação de civis para a Rússia, "em primeiro lugar mulheres, crianças e idosos".



Seu homólogo da vizinha "república" de Luhansk, Leonid Passetchnik, fez o mesmo antes de convocar "todo homem capaz de empunhar uma arma para defender sua pátria".

E Putin ordenou o pagamento de 10.000 rublos (cerca de 114 euros, 129 dólares) a cada pessoa que abandonar essas áreas. Canais de televisão russos mostraram imagens de evacuações de crianças reunidas no pátio de um orfanato.

À medida que as tensões aumentam, a Rússia reiterou nesta sexta-feira que continua retirando unidades militares dos arredores da Ucrânia, uma afirmação rejeitada pelo governo de Zelensky.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou a afirmar que os militares russos estavam enviando "mais forças" e se preparando para uma intervenção "aproximando-se da fronteira, posicionando tropas, aumentando suas capacidades logísticas".

Ao mesmo tempo, Washington e Londres acusaram Moscou de ser "responsável" pelos últimos ataques cibernéticos contra sites oficiais ucranianos nesta semana, apesar das negações do Kremlin.

A Rússia diz que não se afastará da Ucrânia a menos que os países ocidentais concordem em nunca permitir que Kiev se junte à Otan e retire as forças americanas do Leste Europeu, no intuito de criar uma nova versão das esferas de influência da era da Guerra Fria.

O conflito entre rebeldes pró-Rússia fortemente armados e forças do governo ucraniano no leste do país já dura oito anos, matando mais de 14 mil pessoas e forçando mais de 1,5 milhão a fugir de suas casas.