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Estado de Minas #PRAENTENDER

Rússia x Ucrânia: entenda as origens dos conflitos e o contexto histórico

Presença da Otan, bases militares estratégicas e laços culturais são alguns dos pontos essenciais para entender os bastidores da guerra entre os países


24/02/2022 08:28 - atualizado 25/02/2022 06:16


Desde sua independência, em 1991, a Ucrânia oscila entre o Ocidente e a Rússia, vizinho que, nos últimos anos, tem manifestado repetidamente sua oposição à aproximação da ex-república soviética da União Europeia (UE). Entender sua história é saber por que a Rússia está invadindo a Ucrânia. Passado entre os países gera tensão constante e riscos de guerra na Europa e preocupam integrantes da Otan e de Moscou.

Confira o que faz da Ucrânia um país de grande interesse para Vladimir Putin e se tornou em 24/2 palco de novo conflito com a Rússia, após as tropas russas invadirem regiões e entrarem em conflito com o Exército ucraniano.

Independência da Ucrânia

Em 1º de dezembro de 1991, ainda integrada à então União Soviética (dissolvida em 25 de dezembro de 1991), a Ucrânia vota, em um referendo, a favor da independência. O resultado desta consulta foi imediatamente reconhecido pelo então presidente russo, Boris Yeltsin.

Em 8 de dezembro, Rússia, Ucrânia e Bielorrússia (que se tornará Belarus) assinam um acordo que estabelece uma Comunidade de Estados Independentes (CEI). Nos cinco anos seguintes, porém, a Ucrânia tentará se libertar da tutela política de seu grande vizinho, iniciada há três séculos.

Veículos militares ucranianos passam pela Praça da Independência no centro de Kiev em 24 de fevereiro de 2022
Veículos militares ucranianos passam pela Praça da Independência no centro de Kiev (foto: Daniel Leal/AFP)


A Ucrânia não se compromete totalmente com a CEI, percebida como uma estrutura dominada pela Rússia, que tenta agregar as ex-repúblicas soviéticas.

Em 5 de dezembro de 1994, Rússia, Ucrânia, Belarus, Cazaquistão, Estados Unidos e Reino Unido assinam o Memorando de Budapeste sobre garantias de segurança.

Nele, os signatários se comprometem a respeitar a independência, a soberania e as fronteiras da Ucrânia, em troca do abandono das armas atômicas herdadas da União Soviética.

Tratado de amizade

Em 31 de maio de 1997, Rússia e Ucrânia assinam um tratado de amizade e cooperação, que não elimina, porém, a ambiguidade das relações de Kiev com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O Kremlin se opõe fortemente a que Ucrânia, ou qualquer outra ex-república soviética, ingresse na Aliança Atlântica.

Leia também: as guerras da Rússia desde a queda da União Soviética, em 1991 

O tratado e os textos anexos resolvem, em particular, a espinhosa disputa sobre a distribuição da antiga frota soviética no Mar Negro, ancorada em Sebastopol, na Crimeia.

O presidente russo, Vladimir Putin, preside uma reunião de grandes empresas no Kremlin, em Moscou, em 24 de fevereiro de 2022
O presidente russo, Vladimir Putin, reuniu grandes empresas no Kremlin nesta quinta, 24/2 (foto: Alexey Nikolsky/SPUTNIK/AFP)


A Rússia mantém a propriedade da maioria dos navios, mas pagará à Ucrânia um aluguel modesto pelo uso do porto de Sebastopol.

À época principal parceiro comercial de Kiev, a Rússia manterá, contudo, sua "arma econômica" frente à Ucrânia, muito dependente do petróleo e do gás russos.

Em 2003, Kiev assina um acordo para a criação de um Espaço Econômico Comum com Rússia, Belarus e Cazaquistão.

A União Europeia reage, afirmando que o acordo pode dificultar a aproximação da Ucrânia com o bloco e sua integração à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Um presidente pró-Ocidente em Kiev

arte de capa do praentender
(foto: Aris Messinis/AFP)
Em novembro de 2004, o candidato pró-Rússia Viktor Yanukovych vence a eleição presidencial na Ucrânia, denunciada como fraudulenta pela oposição. Uma mobilização em massa, a chamada Revolução Laranja, consegue que a eleição seja anulada pela Suprema Corte.

Em 26 de dezembro, o líder da Revolução Laranja, o opositor pró-Ocidente Viktor Yushchenko, que sofreu um misterioso envenenamento durante a campanha, abre uma nova era política no país. Põe fim aos dez anos de Presidência de Leonid Kuchma (1994-2005), que pendulava entre UE e Moscou.

 

Yushchenko reitera a vontade da Ucrânia de aderir à União Europeia, apesar das objeções de Bruxelas e da OTAN.

Em 2008, na cúpula de Bucareste, os líderes dos países da OTAN concordam com que a Ucrânia tem vocação para ingressar na Aliança Atlântica, o que provoca a ira de Moscou.

Rússia e Ucrânia travam várias guerras político-comerciais. Uma delas foi a do gás, de 2006 a 2009, que interrompeu o abastecimento de energia da Europa.

A Revolta de Maidan

Em 2010, Viktor Yanukovych é eleito presidente e lança uma espetacular política de aproximação com a Rússia. Ele garante que a elaboração de um "acordo de associação" com a UE continua sendo a prioridade.

Fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv, em 24 de fevereiro de 2022
Fumaça preta sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv, na Ucrânia (foto: Aris Messinis/AFP)


Em novembro de 2013, no entanto, Yanukovych se nega a assinar, no último minuto, o acordo com a União Europeia e reativa as relações econômicas com a Rússia. Esta mudança de política deflagra um movimento de protesto pró-Europa, que tem como símbolo a manifestação na Praça Maidan (Praça da Independência), em Kiev.

A rebelião termina em fevereiro de 2014 com a destituição e a fuga de Yanukovych para a Rússia, após a repressão do protesto de Maidan, durante a qual morreram cerca de 100 manifestantes e 20 policiais.

Anexação e guerra

Em resposta, as forças especiais russas assumem o controle da Crimeia, território que a Rússia decide anexar em março de 2014.

Em abril de 2014, separatistas russos ocupam os lugares mais importantes de Dombas, a região de língua russa do leste da Ucrânia. Uma nova guerra começa em maio. Desde 2014, este conflito causou a morte de mais de 14.000 pessoas.

Fumaça sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, perto de Kharkiv, em 24 de fevereiro de 2022
Fumaça sobe de um aeroporto militar em Chuguyev, na Ucrânia (foto: Aris Messinis/AFP)


Kiev e países ocidentais afirmam que a Rússia organizou a separação das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, em represália à guinada pró-Ocidente da Ucrânia.

'Operação militar'

Depois de concentrar dezenas de milhares de soldados em sua fronteira com a Ucrânia, o presidente Vladimir Putin reconhece, em 21 de fevereiro de 2022, a independência de Donetsk e de Lugansk e ordena o destacamento de tropas para estes territórios.

Na madrugada de 24 de fevereiro, Putin anuncia uma "operação militar" na Ucrânia, descrita pelo ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, como uma "invasão em grande escala".


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