Após a Rússia lançar sua invasão à Ucrânia na manhã de quinta-feira, o líder conservador falou por telefone com líderes ocidentais, dirigiu-se aos britânicos e, por fim, aos parlamentares.
"Não se trata, como diz a infame frase, de um país distante sobre o qual não sabemos nada", disse Johnson, referindo-se às palavras do antecessor de Winston Churchill, Neville Chamberlain, depois que Adolf Hitler desmembrou a Checoslováquia.
"Não podemos e não vamos fechar os olhos", acrescentou, descartando, no entanto, o envio de tropas britânicas à Ucrânia.
Johnson ordenou que a bandeira ucraniana fosse hasteada nos edifícios oficiais em Londres e que a sede do governo fosse iluminada em azul e amarelo, suas cores.
Em seus discursos, o premiê também decidiu ignorar todas as cortesias diplomáticas com Vladimir Putin, que já não descreve mais como um "presidente", mas como um "ditador" que "nunca poderá lavar as mãos pelo sangue na Ucrânia".
Em um movimento pouco comum, a oposição trabalhista se uniu a ele, ciente das preocupações dos cidadãos sobre a possibilidade do que este poderia se tornar o maior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
"Putin quer ver divisão entre nossos aliados, entre membros da Otan e entre partidos políticos aqui no Reino Unido", disse o chefe do partido trabalhista, Keir Starmer, ao canal ITV News nesta sexta-feira (25). "Não nos dividiremos", afirmou.
De fato, o partido saudou o anúncio de Johnson de que o governo planejava acelerar o projeto de lei sobre crimes econômicos. O Reino Unido é acusado de fazer vista grossa diante do fluxo de dinheiro russo de origem duvidosa que entrou em Londres nos últimos anos.
No entanto, Starmer também lamentou perante o Parlamento que o governo não tenha punido mais duramente o Kremlin, depois de ter sancionado oito empresários próximos ao governo Putin nesta semana.
- 'Distração temporária' -
Por enquanto, os legisladores conservadores mais críticos de seu líder, Johnson, decidiram manter suas reprovações para si mesmos e abster-se de questionar sua liderança após o escândalo das festas.
Há algumas semanas, o trabalho de Johnson estava por um fio após uma implacável série de vazamentos que revelaram a realização de confraternizações durante a vigência de confinamentos devido à covid-19 no país nos últimos dois anos.
O levantamento total das últimas restrições nesta semana - em especial a obrigação de se isolar ao testar positivo para o coronavírus - permitiu que os conservadores, contrários a essas medidas, se acalmassem.
Segundo o porta-voz de Johnson, o primeiro-ministro apreciou "que toda a Câmara dos Comuns tenha falado em uníssono" ao condenar o Kremlin.
Mas essa virada a favor de Johnson pode durar pouco, alertou o cientista político Tim Bale, da Universidade Queen Mary de Londres.
A polícia ainda vai divulgar suas conclusões sobre o "partygate", o escândalo das festas, que podem prejudicar Johnson. Seu próprio partido até o ameaçou com uma possível moção de censura interna.
"No momento, todos os olhos estão voltados para a Ucrânia, mas a atenção da opinião pública, sobretudo para assuntos internacionais, não é tão longa", observou o especialista.
"A menos que (a polícia) entregue seu relatório nos próximos dias, temo que isso seja mais uma distração temporária do que um respiro permanente para o primeiro-ministro", completou.
ITV