O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que líderes mundiais terão "as mãos sujas de sangue" se não banirem a Rússia da rede de pagamentos Swift, fundamental para transações eficazes de valores financeiros ao redor do mundo.
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Em uma postagem na rede social Twitter, Kuleba disse: "Eu não serei diplomático sobre isto. Todos que agora têm dúvidas de que a Rússia deveria ser banida do Swift precisam entender que o sangue de homens, mulheres e crianças ucranianos inocentes estará em suas mãos também".
Os ministros do Reino Unido, da Estônia, da Lituânia e da Letônia uniram-se a Kuleba em sua pressão para que o acesso russo ao sistema global de pagamentos seja cortado, mas outros países europeus têm sido relutantes em tomar tal medida.
Mas como essa sanção afetaria a Rússia? E por que sua adoção é tão polêmica entre as nações ocidentais?
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- Quais sanções estão sendo impostas à Rússia e o que mais pode ser feito?
O que é o Swift?
Swift é uma artéria financeira global que permite a transferência rápida e tranquila de dinheiro através de fronteiras. Seu nome significa Sociedade para Telecomunicação Financeira Mundial entre Bancos, na sigla em inglês.
Criado em 1973 e baseado na Bélgica, o Swift conecta 11 mil bancos e instituições em mais de 200 países. Não é, porém, um banco tradicional. É uma espécie de sistema de mensagens instantâneas que informa usuários quando pagamentos foram enviados e quando eles chegaram ao destino.
Ele envia mais de 40 milhões de mensagens por dia, e trilhões de dólares passam de mão em mão entre empresas e governos. Acredita-se que mais de 1% dessas mensagens envolvam pagamentos russos.
Por que a pressão para banir a Rússia?
Expulsar a Rússia do sistema, usado por milhares de bancos, atingiria a rede bancária do país e seu acesso a recursos financeiros. Mas mutos governos temem que isso também prejudicaria suas próprias economias e empresas, conforme a compra e venda de petróleo e gás da Rússia fosse atingida, por exemplo.
O Reino Unido liderou as demandas para que o sistema fosse deligado na Rússia, embora o secretário da Defesa britânico tenha dito: "Infelizmente, o sistema Swift não está sob nosso controle. Não é uma decisão unilateral".
Acredita-se que a Alemanha seja resistente à ideia de retirar a Rússia do Swift. Da mesma forma, tanto o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire como o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disseram na sexta-feira (25/2) que a opção seria usada apenas como um último recurso.
O presidente americano, Joe Biden, disse na quinta-feira que a retirada da Rússia do Swift não estava na mesa "pois neste momento não é uma posição que o resto da Europa deseja tomar", embora tenha dito que a opção continuaria sendo uma possibilidade.
Quem controla o Swift?
O Swift foi criado por bancos americanos e europeus, que não queriam que uma única instituição desenvolvesse seu próprio sistema e tivesse um monopólio sobre essas transações.
Hoje a rede é de propriedade conjunta de mais de 2 mil bancos e instituições financeiras. É gerenciada pelo Banco Nacional da Bélgica, em parceria com grandes bancos centrais de várias partes do mundo — incluindo o americano Federal Reserve e o Banco da Inglaterra, do Reino Unido.
O Swift ajuda a tornar possível o comércio internacional seguro entre seus membros e supostamente não toma partido em disputas entre nações participantes. Entretanto, o Irã foi banido do Swift em 2012, como parte das sanções em torno de seu programa nuclear. O país perdeu quase metade de seu faturamento vindo das exportações de petróleo e 30% de seu comércio com o exterior.
O sistema afirma não ter influência sobre sanções e que qualquer decisão de impor alguma medida restritiva cabe aos governos nacionais.
Como a suspensão da Rússia do Swift afetaria o país?
Empresas russas perderiam acesso às tranquilas e eficazes transações instantâneas oferecidas pelo Swift. Pagamentos por seus valiosos produtos de energia e para a agricultura seriam seriamente abalados. Bancos provavelmente teriam de lidar diretamente um com o outro, o que provocaria atrasos e custos adicionais, e consequentemente reduziria a entrada de recursos para o governo russo.
A Rússia já sofreu a ameaça de ser retirada do Swift antes — em 2014, quando anexou a Crimeia, território ucraniano. A Rússia disse na época que a medida seria o equivalente a uma declaração de guerra.
Aliados ocidentais não seguiram em frente com a medida, mas a ameaça levou a Rússia a desenvolver seu próprio sistema de transferência entre países, porém ainda incipiente.
Moscou criou governo o Sistema Nacional de Pagamentos de Cartão, conhecido como Mir, para processar pagamentos com cartões. No entanto, poucos países o utilizam atualmente.
Por que os países que fazem oposição à Rússia se dividiram sobre o Swift?
Remover a Rússia do Swift prejudicaria empresas que comercializam bens com a Rússia, particularmente a Alemanha.
A Rússia é o maior fornecedor de petróleo e gás da União Europeia, e encontrar fornecedores alternativos não seria fácil. Com preços de energia já disparando ao redor do mundo, uma interrupção adicional é algo que muitos governos gostariam de evitar.
Além disso, empresas credoras dos russos teriam de encontrar outras formas de serem pagas. O risco de um caos no sistema bancário internacional é muito grande, dizem vários observadores.
Alexei Kudrin, ex-ministro das Finanças da Rússia, sugeriu que uma expulsão do Swift poderia provocar uma redução de 5% no PIB (Produto Interno Bruto) da Rússia.
Há, porém, dúvidas sobre o impacto na economia russa no longo prazo. Bancos russos poderiam redirecionar pagamentos através de países que não lhe impuseram sanções, como a China, que tem seu próprio sistema de pagamentos.
Há certa pressão de congressistas americanos por uma retirada da Rússia do Swift, mas o presidente Biden disse que sua preferência seria por outras sanções, basicamente devido ao impacto que essa teria sobre outros países e suas economias.
Uma decisão de bloquear o acesso da Rússia ao sistema ainda precisaria do apoio de governos europeus, muitos dos quais são relutantes por causa da possibilidade de atingir suas próprias economias.
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