Flora Stepanova, de 41 anos, foi passear no pequeno parque ao lado de casa. Com os olhos vermelhos de cansaço, ela se senta em um banco para fumar um cigarro, enquanto permanece em alerta.
"Claro que é um pouco perigoso, mas acho que, se você tiver cuidado e olhar em volta, é mais seguro do que ficar o dia todo na frente da televisão, vendo o noticiário, porque você enlouquece", desabafa esta moradora da capital ucraniana.
Atrás dela, uma unidade de soldados ucranianos instalou um posto de controle. Eles controlam qualquer movimento, apontando metralhadoras para cada carro, ou pedestre. Um homem explica que saiu para comprar pão, mas não conseguiu encontrar.
"Não queremos voltar a vê-lo na rua", diz um policial que patrulha um pouco mais à frente.
Na Praça da Independência, a avenida principal de Kiev se desenha no horizonte, vazia. Os habitantes preferem evitar essa artéria, bombardeada no dia anterior pelas forças russas. Em vez disso, usam as ruas menores.
- Suspeitas -
A Prefeitura Municipal de Kiev anunciou um rígido toque de recolher das 17h de sábado (26) até as 8h de segunda-feira (horário local). Não há uma única loja ou posto de gasolina aberto. E, em tese, não se pode sair de casa.
"Todos os civis que estiverem na rua durante o toque de recolher serão considerados membros de grupos inimigos de sabotagem e reconhecimento do inimigo", ameaçou o prefeito da cidade, Vitali Klitschko.
Para limitar o avanço das forças russas na capital - algumas das quais, segundo Kiev, agem de forma encoberta, em trajes civis, com ambulâncias, ou mesmo com uniformes de soldados ucranianos - foram dadas instruções aos moradores.
As autoridades pediram à população para cobrir o número das ruas, desligar a função de localização do telefone celular e que todos os semáforos fossem desligados. Qualquer interação entre desconhecidos será vista com alguma suspeita, assim como um sotaque muito russo, uma maneira particular de andar, ou perguntas muito intrusivas.
À noite, os bombardeios se intensificaram. Kiev temia o momento fatídico, com um bombardeio da aviação russa, mas a calma voltou à cidade de madrugada.
Olena Vasyliaka aproveita essa tranquilidade para levar mantimentos de seu apartamento para o abrigo onde está instalada.
"Moramos no último andar e não vou ficar lá em cima com as crianças", explica a produtora de 50 anos, cujo marido está na "frente" do leste, desde o primeiro dia da invasão russa.
No porão, entre os tapetes, um computador está conectado ao noticiário ucraniano 24 horas por dia. Uma mulher ouve sem parar o discurso do presidente Volodimir Zelensky, agora considerado um herói.