Jornal Estado de Minas

SEU BOLSO

Análise: como a guerra na Ucrânia encarece a comida do brasileiro

As pesadas sanções impostas por Estados Unidos e Europa sufocam financeiramente a Rússia, mas americanos e europeus pouparam as atividades produtivas e comerciais temendo sofrer eles mesmos as consequências dessas medidas, uma vez que juntas, Rússia e Ucrânia, respondem por cerca de 30% do trigo comercializado no mundo, 19% da oferta de milho e 80% do comércio de óleo de girassol.



É ainda o segundo maior produtor de gás natural e o terceiro em extração de petróleo, detendo 12% do mercado mundial de óleo. É responsável também por 13% do mercado global de fertilizantes. A princípio, as operações comerciais envolvendo esses produtos não sofreram sanções, mas, na prática, o embargo à economia russa vai afetar a oferta desses produtos, elevando os preços das commodities.

Leia: Invasão da Rússia à Ucrânia chega ao 6º dia sem avanço em negociação

As maiores empresas de navegação do mundo, Maersk e MSC Cargo, anunciaram nessa segunda-feira (28/2) a suspensão temporária de todas as operações de embarque de cargas para a Rússia, deixando as reservas de operações com destino ou procedentes do país paralisadas.

Na semana passada, as gigantes do comércio de alimentos no mundo, Bunge, ADM e CHS paralisaram suas atividades em solo ucraniano. Essas decisões afetam as exportações russas e deixam o mundo em expectativa em relação à extensão do conflito e dos impactos econômicos da guerra. Em todo o mundo, mas especialmente para o Brasil, a invasão da Ucrânia pela Rússia ocorre em um momento de escalada da inflação de custos no agronegócio e vai salgar os preços dos produtos agrícolas na mesa dos brasileiros.





Com o estresse da guerra, os preços do trigo começaram esta segunda-feira no maior valor em 14 anos e já acumulam alta de mais de 20%. Como o Brasil importa 50% do trigo que consome basicamente da Argentina, não interfere na oferta, mas não tem como segurar os preços. Mas a maior preocupação hoje diz respeito aos fertilizantes, que no ano passado já sofreram fortes aumentos por causa do desequilíbrio nas cadeias de suprimentos no mundo. 

Apenas a ureia teve alta de US$ 200 a tonelada nos últimos dias, passando de US$ 500 para US$ 750, sendo que no ano passado a alta já havia sido de 70,1%. Outros fertilizantes, como MAP (fosfato monoamônico) e KCL (cloreto de potássio) tiveram aumentos de 74,8% e 152,6%, respectivamente. Apesar de ser o maior produtor de alimentos, o Brasil depende em mais de 60% de adubos importados.

Sem eles, a produção agrícola, que enfrentou seca no Sul e enchentes no Sudeste, será reduzida por uma menor produtividade por área plantada. Produção menor no Brasil diante de uma demanda mundial de grãos crescendo mais de 30% ao ano. Defensivos também ficaram mais caros, como o glifosato, por exemplo, que teve alta de 126,8%.





A continuidade do conflito nos próximos dias e a permanência das sanções sobre a Rússia vão pressionar preços de commodities, elevando a inflação em praticamente todo o mundo, movimento esse que obrigará bancos centrais das grandes economias e de países emergentes, leia-se Brasil, a elevar as taxas de juros de forma mais rápida. É cedo para prognósticos, mas a economia mundial crescerá menos do que o previsto este ano e não se pode descartar uma recessão técnica no Brasil. Vendo a economia crescer menos ou mesmo retroceder, os brasileiros terão de conviver com a comida mais cara nas mesas.