Jornal Estado de Minas

SANÇÕES

Guerra na Ucrânia: banco do Brics suspende empréstimos para a Rússia

O New Development Bank (NDB), também conhecido como "Banco do Brics" suspendeu empréstimos e financiamentos à Rússia. O anúncio foi feito na quinta-feira (03/03) em um comunicado divulgado pelo banco. A medida foi tomada em meio ao agravamento da invasão russa à Ucrânia e às recentes sanções econômicas impostas por países como Estados Unidos, Reino Unido e pela União Europeia.





 

 

A decisão suspende a aprovação de novos projetos apresentados pela Rússia e os desembolsos para projetos já aprovados e que dependiam do repasse de recursos do banco.

 

No anúncio, o banco não cita a guerra na Ucrânia, mas menciona um cenário de "incertezas e restrições".

O NDB foi fundado em 2015 pelos países que formam o grupo Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

 

Ele foi criado como uma alternativa aos países do bloco para obterem financiamento de projetos em áreas como infraestrutura e desenvolvimento fora dos principais mercados financeiros do mundo. Cada um dos países aportou pelo menos US$ 10 bilhões para a formação do capital inicial do banco.





 

"À luz do desdobramento de incertezas e restrições, o NDB suspendeu novas transações com a Rússia. O NDB vai continuar a conduzir negócios em total conformidade com os mais altos princípios de compliance como uma instituição internacional", diz um trecho do comunicado divulgado hoje pelo banco.

 

A BBC News Brasil apurou que a decisão foi tomada pela gerência da instituição, comandada pelo ex-secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo. Ele foi indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em 2020.

 

Uma fonte ouvida pela reportagem afirmou que a decisão foi "técnica" e que o governo brasileiro não chegou a ser consultado sobre ela. A medida foi comunicada pela diretoria do banco a membros do governo brasileiro em uma reunião na manhã desta sexta-feira.





 

Ainda segundo essa fonte, os principais motivos para a suspensão das operações com a Rússia foram as dificuldades projetadas para que o país venha a cumprir seus compromissos financeiros após uma série de rodadas de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

 

Como o NDB repassa e recebe recursos por meio de bancos internacionais, a avaliação é de que, em meio às sanções, os canais financeiros com a Rússia deverão ficar comprometidos. Além disso, pesou na decisão o fato de as principais agências de classificação de risco terem rebaixado a nota do país.

 

Na quinta-feira, a Standard & Poors baixou a nota da Rússia de BB+ para CCC-. A redução da nota é um indicativo para investidores sobre a capacidade de um país arcar com seus compromissos.

 

A BBC News Brasil enviou questionamentos ao banco, mas até o fechamento desta matéria, nenhuma resposta havia sido enviada.





Banco é presidido por Marcos Troyjo, ex-secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia (foto: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL)

Cerco financeiro se fecha

O anúncio do NDB fecha mais uma opção para os russos de conseguir financiamento internacional.

De acordo com dados oficiais, a Rússia tem projetos aprovados junto ao banco no total de US$ 4,8 bilhões, e equivalente a R$ 24,3 bilhões.

 

O valor corresponde a 17% de todo o valor que o banco emprestou aos países membros do banco desde a sua criação, que totaliza US$ 29 bilhões. O dinheiro vinha sendo usado para financiar projetos de infraestrutura em diferentes partes da Rússia.

 

A decisão do banco chama atenção porque, nos últimos dias, membros do Brics mostraram hesitação em condenar abertamente as ações tomadas pelo presidente russo, Vladimir Putin.

 

Na quarta-feira, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução condenando a ação russa. Dos cinco países que compõem o Brics, apenas o Brasil votou a favor da medida. China, Índia e África do Sul se abstiveram. A Rússia, obviamente, votou contra a resolução.





 

Apesar da posição brasileira na ONU, o presidente Jair Bolsonaro não condenou publicamente as medidas tomadas pelo presidente russo. Questionado sobre se aplicaria sanções à Rússia, Bolsonaro disse, na quinta-feira (03/03), que a posição mais sensata para o país era manter o equilíbrio em relação ao conflito.

 

"Não temos a capacidade de resolver esse assunto, então o equilíbrio é a posição mais sensata do governo federal", disse.

 

Nos últimos dias, ele citou o fato de o Brasil ser dependente das exportações de fertilizantes russos usados pelo agronegócio brasileiro.

Sanções e impactos econômicos

Em meio à escalada de violência na região, diversos países anunciaram rodadas de sanções econômicas contra a Rússia. Na quarta-feira (02/03), a União Europeia anunciou a suspensão de sete bancos russos do Swift, um sistema global de transações financeiras usado pelas principais instituições bancárias do mundo. A medida afeta a capacidade de transferir recursos para dentro ou para fora da Rússia.





 

A medida, segundo o bloco, visa atingir bancos que tenham ligação com a ação militar. Os Estados Unidos também impuseram sanções a bancos russos e criou medidas para impedir que a Rússia possa financiar sua dívida soberana no país e junto a aliados europeus. Além disso, operadoras de cartão de crédito como Visa e Mastercard anunciaram a suspensão de suas atividades no país.

 

Na quinta-feira, outro banco multilateral, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês) anunciou a suspensão de seus projetos com a Rússia e com a Belarus, país aliado ao regime de Vladimir Putin.

 

Desde o início das sanções, o Rublo (moeda russa) registrou quedas históricas do seu valor em relação ao Dólar.

 

Em Moscou e em outras cidades do país foram registradas filas de clientes tentando sacar dinheiro em caixas automáticos numa tentativa de evitar as consequências de um eventual colapso do sistema bancário local.





 

A invasão da Rússia à Ucrânia começou no dia 24 de fevereiro. Segundo o presidente russo, a ação visa a "desnazificação" da Ucrânia. O governo ucraniano, por outro lado, alega que a invasão tem o objetivo de controlar o país.

 

A invasão tem sido condenada internacionalmente por diversos países e organismos internacionais. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), mais de um milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia em direção a países como a Polônia, Romênia e Hungria.

 

O número de mortos não pode ser verificado de forma independente, mas de acordo com a ONU, pelo menos 227 civis já foram mortos. A quantidade de soldados vítimas do conflito também não pode ser verificada, mas o governo ucraniano afirmou, há dois dias, que pelo menos cinco mil soldados russos já haviam sido mortos desde o início do conflito. A Rússia não confirma esses dados.





 

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