Jornal Estado de Minas

KIEV

Rússia ocupa grande central nuclear da Ucrânia e aumenta preocupação mundial

As tropas russas ocuparam nesta sexta-feira (4) a maior central nuclear da Ucrânia e da Europa, após um ataque que provocou um incêndio sem consequências para os níveis de radioatividade, mas que paralisou o mundo diante do temor de uma nova catástrofe atômica.



"Sobrevivemos a uma noite que pode acabar com a história. A história da Ucrânia. A história da Europa", disse o presidente ucraniano Volodimir Zelensky depois que bombas russas atingiram a usina nuclear de Zaporizhia, a cerca de 150 quilômetros de distância, ao norte da península da Crimeia.

Bombeiros apagaram o fogo que deflagrou num edifício e num laboratório depois que projéteis russos atingiram nas primeiras horas de sexta-feira as instalações da central nuclear de Zaporizhzhia, que fica 150 quilômetros ao norte da península da Crimeia.

Após algumas horas de alerta, nas quais o presidente ucraniano Volodimir Zelensky apontou para um possível desastre "10 vezes superior ao de Chernobyl", em referência ao catastrófico acidente nuclear de 1986 no país, os serviços de emergência conseguiram controlar as chamas, segundo as autoridades de Kiev.



"Não foram registradas mudanças no nível de radiação", afirmou a agência de inspeção das centrais atômicas da Ucrânia, que confirmou que as tropas russas ocuparam a área da usina.

Dos seis blocos, o primeiro foi retirado de operação, os número 2, 3, 5 e 6 estão em processo de resfriamento e o 4 permanece operacional.

"É necessário impedir que a Europa morra de um desastre nuclear", afirmou o presidente ucraniano, que pediu sanções mais duras contra Moscou.

"É necessário endurecer imediatamente as sanções contra o Estado terrorista nuclear", declarou Zelensky em um vídeo, no qual também pediu aos russos que "saiam às ruas" para exigir o fim dos ataques de seu país a usinas nucleares ucranianas.

O ataque russo provocou uma grande comoção no mundo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com o colega ucraniano e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou a "irresponsabilidade" da Rússia.

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira em Nova York a pedido do Reino Unido para estudar as consequências desses bombardeios, disseram diplomatas.



Em 24 de fevereiro, no início da invasão russa, os combates eclodiram perto da antiga usina de Chernobyl, cerca de 100 quilômetros ao norte de Kiev, que está nas mãos das tropas russas desde então.

- Novas negociações -

No nono dia da ofensiva, a perspectiva de cessar-fogo parece distante. Em uma segunda rodada de negociações, os dois países concordaram apenas com a criação de corredores humanitários.

A Ucrânia está contando com uma terceira rodada de negociações com a Rússia neste fim de semana, disse um dos enviados ucranianos, Mikhailo Podoliak.

Essa informação foi confirmada pelo gabinete do chanceler alemão, Olaf Scholz, que conversou por telefone com Putin.

Mas o diálogo só é possível se "todas as demandas russas" forem aceitas, alertou Putin nessa conversa, segundo o Kremlin.

Putin também negou que as forças russas estejam bombardeando cidades ucranianas, apesar das imagens de destruição nos últimos dias em Kiev, Kharkiv (leste), Mariupol (sudeste) e outras cidades.



Em uma conversa com o presidente francês Emmanuel Macron na segunda-feira, Putin exigiu "o reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia (anexada em 2014), a desmilitarização e 'desnazificação' do Estado ucraniano e a promessa de sua posição neutra".

Moscou justifica sua invasão como uma operação para proteger a população das regiões separatistas de Donbas, no leste da Ucrânia.

- "Um inferno" -

Aparentemente em ritmo de desaceleração em Kiev e em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana (noroeste do país), a invasão russa avança no sul.

Zelensky pediu aos países ocidentais para "fechar o céu" ucraniano às aeronaves russas e que forneçam aviões à Ucrânia.

Mas a Otan garantiu nesta sexta-feira que os seus aviões não vão atuar na Ucrânia, fechando assim a porta à criação de uma zona de exclusão aérea.



"Achamos que, se fizermos isso, acabaremos tendo algo que pode se tornar uma guerra total na Europa, engolindo muitos outros países e causando muito mais sofrimento humano", disse Stoltenberg.

Até o momento, os países ocidentais forneceram armas à Ucrânia, mas concentraram a resposta em uma série de sanções para isolar a Rússia nas áreas diplomática, econômica, cultural e esportiva.

Nesta sexta-feira, tiros foram ouvidos em Bucha, a noroeste de Kiev, onde era possível ver blindados russos destruídos.

A leste, a fumaça podia ser vista subindo de armazéns bombardeados, segundo fotógrafos da AFP. A cerca de 350 km a leste da capital, a situação também virou um "inferno" em Okhtyrka, e é "crítica" em Sumy, segundo autoridades locais.

No porto estratégico de Mariúpol (sudeste), a situação humanitária é "terrível" após 40 horas de bombardeios ininterruptos, incluindo escolas e hospitais, disse o vice-prefeito, Sergei Orlov, à BBC.

Na quinta-feira, os russos consolidaram a conquista de Kherson (290.000 habitantes, sul), sua primeira grande vitória até o momento, e intensificaram o bombardeio de outros centros urbanos.



Pelo menos 47 pessoas morreram no mesmo dia em um ataque a áreas residenciais, incluindo escolas, em Chernigov (norte), informaram as autoridades nesta sexta-feira em um novo balanço revisado para cima.

Mais de 1,2 milhão de refugiados fugiram da Ucrânia para países vizinhos desde o início da invasão e milhões de outros ficaram deslocados internamente, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

- Mordaça à imprensa -

Na política interna, Moscou intensificou nesta sexta-feira o controle sobre a imprensa e aumentou a repressão contra ONGs de defesa dos direitos humanos e ajuda a migrantes.

O acesso aos sites em russo da BBC e da alemã Deutsche Welle e outros meios independentes foi "limitado", segundo a agência que regula os meios de comunicação (Roskomnadzor).

Diante dessa decisão, a BCC anunciou que estava retirando seus jornalistas da Rússia.

Os deputados russos aprovaram nesta sexta-feira um texto que prevê duras penas de prisão, de até 15 anos, e multas para pessoas que publicam "informações falsas" sobre o exército.

O texto só precisa ser assinado pelo presidente, Vladimir Putin, para que entre em vigor.

Duas ONGs famosas, a emblemática Memorial (defesa dos direitos humanos) e o Comitê de Assistência Cívica (dedicada a ajudar os migrantes), foram alvos de operações da polícia em Moscou, segundo as próprias organizações.

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