"Eu sou da Ucrânia, uma jovem ucraniana que ama muito muito seu país". É assim que se apresenta Maryana Chopysk, 38 anos. Ela nasceu em Ivano-Frankivsk, no norte da Ucrânia e vive há seis anos em Barcelona, na Espanha, onde trabalha no setor hoteleiro.
Maryana é uma das cerca de 20 pessoas acampadas na Plaça Catalunya desde o início da invasão russa à Ucrânia. Entre elas, estão também dois jovens ucranianos, Ostap Petrushchak e Mykhailo Pashyn, que estão em greve de fome pelo fim da guerra desde a última sexta-feira.
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"Estamos em guerra contra a Rússia há muitos anos. Para o mundo inteiro é algo que começou há pouco tempo, mas estamos em guerra há nove anos. Putin afirma para a Rússia, e para o mundo, que há uma guerra civil na Ucrânia. Mas no final das contas, o mundo agora sabe que não é uma guerra civil. Veja, o que existe é uma guerra entre Ucrânia e Rússia", desabafou.
"Agora podemos dizer mais sobre o que está acontecendo de fato: uma guerra entre dois mundos. O mundo da dignidade e da luz, e o mundo das trevas", disse.
Maryana explica que o exército ucraniano não tem coletes a prova de balas para os soldados, por exemplo. Segundo ela, os militares do país não estavam preparados para uma guerra contra qualquer outro país, no que diz respeito ao armamento e treinamento necessários, muito menos para para enfrentar uma invasão e defender-se de um ataque de uma potência como a Rússia.
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"Somos o povo de paz, e nunca pensamos que enfrentaríamos uma guerra contra qualquer país. Pedimos ao mundo a paz que a Ucrânia quer. Não estamos prontos para uma guerra e precisamos do apoio de todos. O pior é que agora a Ucrânia está muito só nessa guerra. Os ucranianos estão lutando muito. Pessoas muito corajosas, que estão dando suas vidas pelo futuro de seu país", afirmou.
Ela aproveita para fazer um apelo pela entrada da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, no conflito. "A verdade é que o que precisamos mesmo é de mais armas. Precisamos que a Otan feche o espaço aéreo, porque em terra somos fortes, os ucranianos não têm medo, estamos dando tudo pelo país em terra, mas não pelo céu", disse, emocionada, misturando palavras em espanhol e ucraniano.
Uma guerra pela Europa
Na avaliação de Maryana Chopysk, os ucranianos não estão em combate apenas pelo seu país, mas também pela Europa, já que países como Polônia, Lituânia e Moldávia estão sob ameaça também. "Temos que parar isso agora. O mundo tem que ouvir os ucranianos. Basta de 'vamos conversar', de 'vamos esperar'. Não! O que temos que fazer agora é fazer agora, já é 'para ontem' temos que ir em frente, e em frente para vencer", afirmou.
Ela afirma que o presidente russo, Vladimir Putin, é quem quer uma guerra, e destaca que o objetivo dele é reconstruir, em termos geográficos, o território da antiga União Soviética. "Sem a Ucrânia, ele não pode fazer isso. A Ucrânia é como a jóia da coroa. E ele quer a coroa. Mas podemos ver agora que ele está destruindo tudo. Eles não são um exército russo. Eles são como terroristas. Como assassinos. Eles não parecem estar lutando por algo específico. Tenho a sensação de que eles só querem destruir tudo, matar a todos. Eles não têm, nenhum plano, como uma ideia clara, apenas destroem e matam", lamentou.
Pauta das manifestações de apoio à Ucrânia nas principais cidades da Europa, uma eventual entrada da Otan na guerra tem o apoio de Maryana. Ela descarta que isso causaria uma III Guerra Mundial. "A guerra já está aí, não se pode comparar a II Guerra com uma III Guerra Mundial. Já estamos em outro século, e a guerra tem outra forma. Temos que abrir os olhos e deixar claro que a III Guerra Mundial já está aqui e se atrasarmos, seremos todos massacrados. Temos que agir agora para evitar que o pior aconteça, vindo de todos os lados. A Otan tem que agir. As pessoas têm que parar de ter medo. Putin não vai parar. Você tem que reconhecer que ele não vai parar. A verdade é que se o exército russo não resgata nem seus soldados mortos na Ucrânia, eles os deixam lá como se eles não fossem nada. Com o quê este homem se importa? Somente poder, poder e matança. Parece que sua única estratégia é avançar matando, e matando, e destruindo tudo e todos", criticou.
Ajuda aos fugitivos da guerra
Segundo Maryana, também é preciso que os países europeus ajudem quem teve que abandonar o país e tudo o que construiu nos últimos anos de liberdade.
"Você precisa saber que nós, ucranianos, não queremos ser refugiados. Queremos ser ucranianos e viver no nosso país. Agora, somos forçados a deixar a Ucrânia, porque temos duas opções: morrer, ou deixar a Ucrânia. Mas por quê? Por que temos que deixar a Ucrânia? Por que deveríamos? O mundo tem que fazer todo o possível para que os ucranianos permaneçam na Ucrânia. Porque os ucranianos não querem ser refugiados."
"Neste momento em Barcelona, muitas pessoas se oferecem para receber as crianças, sem seus pais, porque os pais não podem sair da Ucrânia, querem lutar. E as mulheres não querem deixar seus homens. Elas também querem ser parte da proteção da Ucrânia. Não queremos ser refugiados. Queremos ser ucranianos vivendo na Ucrânia livre".