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Estado de Minas KIEV

'É o nosso lar': John e Natasha, dois americanos que decidiram ficar em Kiev


07/03/2022 09:52

No centro de Kiev, deserto, ressoam as bombas abafadas da guerra que se aproxima. Mas John e Natasha, dois americanos, caminham calmamente com seus cachorros, determinados a permanecer nesta cidade que já consideram seu lar.

Em 24 de fevereiro, as forças russas invadiram a Ucrânia e John e Natasha Sennett ouviram pela primeira vez as sirenes da guerra estremecendo seu bairro antigo de Kiev.

O pânico se espalhou. "Colocamos nossas coisas nas mochilas e descemos ao porão com os cachorros", conta Natasha, uma mulher alta, de olhos claros e 42 anos.

Foi um alerta falso nesta parte da cidade que, 10 dias depois, foi poupada dos bombardeios das forças russas, que já se encontram às portas de Kiev, a cerca de 20 quilômetros dali.

As explosões dos combates perturbam o tranquilo apartamento do casal, decorado ao estilo de Nova York. Enquanto no resto da cidade milhares de pessoas tentam fugir de trem ou pela estrada, John e Natasha decidiram ficar.

"As explosões estão longe. E com o tempo você se acostuma com elas", diz John, que tem aparência atlética, cabelo grisalho e inúmeras tatuagens.

Nesta tarde de fim de semana, a família Sennett saiu para passear: John e Natasha levam Samantha, 7, e Philly, 6, seus dois cachorros trazidos dos Estados Unidos quando o casal se instalou em Kiev no final de 2020.

Por que decidiram ficar?

Porque "pela primeira vez" nas suas vidas "sentem-se em casa" em Kiev, cidade que inicialmente escolheram para se aproximar da família de Natasha, nascida em Belarus.

- "Apaixonados" por Kiev -

"Nós nos apaixonamos por esta cidade. Você se sente livre aqui", explica John, que diz, como sua esposa, que se sente "mais ucraniano do que qualquer outra coisa". Aqui ele também pode viver intensamente sua fé ortodoxa, à qual se converteu há oito anos.

Em Kiev, o casal comprou este apartamento no último andar bastante degradado e o reformou completamente. "Gastamos todas as nossas economias. Esses 54 m2 são tudo o que temos", diz John.

"Aqui decidimos estabelecer nossas vidas. E se nosso destino é morrer aqui, que assim seja", acrescenta.

Ambos trabalham remotamente com os Estados Unidos: ele administra um serviço de táxi-limousine em sua cidade natal, Filadélfia; ela trabalha como professora de inglês.

"Nós não ganhamos muito, mas vivemos confortavelmente aqui", afirma John.

Outro fator influenciou sua decisão de ficar: "Não temos filhos", explica Natasha.

Os dois americanos frequentemente se mostram ao lado dos soldados ucranianos na luta contra os russos. John, que passou dois anos no exército quando tinha 18 anos, publica poemas glorificando esses combatentes locais que usam as cores "azul e amarelo" da bandeira ucraniana.

"Essas pessoas estão dispostas a morrer pelo seu país, são uma fonte de inspiração para nós", explica, dizendo que está disposto, como a sua mulher, a "pegar uma arma", se necessário.

No entanto, os Sennetts não descartam a possibilidade de fugir com seus cães "se as coisas ficarem muito ruins".

Na entrada de seu apartamento, duas pequenas mochilas estão prontas, caso isso aconteça. No dele, John colocou um laptop, carregadores, um cobertor, mas também um pé de cabra e um martelo para que possa "forçar portas ou quebrar janelas" de um porão ou outro lugar para encontrar abrigo.

Por enquanto, John confia na sua fé. Ele vai uma vez por semana à igreja vizinha, reza pelos soldados ucranianos e se confessa. Quando "a morte está próxima", garante, "é melhor sair com a alma limpa".


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