Jornal Estado de Minas

GUERRA NA UCRÂNIA

Mineiro faz mutirão e ajuda refugiados na fronteira com a Ucrânia

O empresário mineiro André Spinola, de 43 anos, CEO da empresa sueca Målmarks, que detém uma fábrica na Hungria, se prontificou em ajudar os milhares de refugiados que passam pela região de Nyireghaza, cidade-sede do governo húngaro com aproximadamente 150 mil habitantes e distante 50 quilômetros da fronteira com a Ucrânia.





 

Natural de Belo Horizonte, André Spinola está há 15 anos em Estocolmo, na Suécia, comandando os negócios da empresa que fabrica embalagens plásticas para diversos tipos de indústrias europeias, como a alimentícia, automobilística e química.

 

Antes mesmo do início da guerra na Ucrânia, ele tinha viagem marcada para a Hungria. Ao saber do conflito com os russos, comunicou à esposa sueca e aos três filhos que seguiria para o país húngaro não apenas para acalmar a todos na fábrica da empresa, mas também para prestar ajuda àqueles que mais necessitavam.

 

"Antes da invasão russa acontecer já tinha passagem marcada para a Hungria. Ao ver o início do conflito me prontifiquei em deslocar para lá. Temos cerca de 100 colaboradores na fábrica na Hungria e quando cheguei lá no dia 28 de fevereiro encontrei um cenário caótico na cidade de Nyireghaza. Na fábrica, todos trabalhavam com medo porque nessa região noroeste da Hungria, bem próxima da Ucrânia, tem muitos húngaros, inclusive vivendo do lado de lá da fronteira. Muitos queriam abandonar a região e seguir para a Alemanha, Áustria e outras localidades em busca de segurança", disse.





 

Escola na cidade de Záhony, na fronteira com a Ucrânia, com capacidade para receber 400 pessoas para passar a noite (foto: Arquivo pessoal - André Spínola )
Diante do cenário encontrado, o empresário mineiro percorreu a região de carro até a cidade de Záhony, na fronteira com a Ucrânia. Lá, apesar de ter uma grande infraestrutura ferroviária e um grande posto logístico para atender o público o que se via era o caos total.

 

"Chegando lá à noite, encontrei uma situação de caos absoluto nessa cidade. Diariamente, chegam quatro trens com cerca de 400 refugiados cada um. Aqueles com passaporte húngaro, com familiares na região seguiam viagem imediatamente. Os demais passavam por uma triagem mais detalhada e depois eram liberados. Os que chegavam mais à noite eram abrigados em uma escola com capacidade para 400 pessoas dormirem. No dia seguinte, seguiam seus destinos pois novos imigrantes desembarcariam no local. A grande maioria dos refugiados mulheres, crianças e idosos devido à Lei Marcial decretada pelo governo ucraniano", contou.

 

Entrega de donativos no centro comunitário local (foto: Arquivo pessoal - André Spínola )
Ao perceber a situação de quem ali chegava, muitos com a roupa do corpo e desesperados para escapar do bombardeio russo, André Spinola se reuniu com funcionários da empresa, amigos e colaboradores para angariar donativos.





 

"Reunimos doações na empresa até a quinta-feira e retornamos até Záhony. Contamos com ajuda de amigos, colaboradores na Hungria e na Suécia e compramos mantimentos e doamos galões de água. Descarregamos todos os donativos no centro comunitário local. Lá também há auxílio da Cruz Vermelha Húngara e do governo. Todos os refugiados que chegaram ali estavam muito abalados emocionalmente claro, muitos apenas com a roupa do corpo ou uma mochila. Mulheres chorando, crianças com muito frio, pois a temperatura na região nesta época do ano fica próxima de zero", ressaltou.

 

Reflexos da guerra na economia

 

Os ataques russos rapidamente impactaram a economia global. Com o aumento do barril de petróleo, os combustíveis já alcançaram marcas recordes na região.

 

"Os preços das commodities, do barril de petróleo, dos insumos para a fabricação explodiram. Nós que trabalhamos com plástico e polietileno de alta densidade já aumentou 18% só neste mês. Considerando que esses custos serão repassados para nossos clientes e para o consumidor se mantiver nesse nível causará um problema mais grave em relação à inflação. Por exemplo, o litro da gasolina na Suécia hoje é recorde de 2,50 euros. No ano passado era 1,50 euro. Os reflexos econômicos são muito profundos por aqui", ponderou.





 

O empresário mineiro teme que a situação possa ficar mais complicada se a OTAN entrar na guerra. "O medo maior é a OTAN acabar se envolvimento diretamente neste conflito, que rapidamente se expandiria por toda a Europa", disse.

 

Ele chama a atenção para a necessidade de a população estocar alimentos, água e até combustíveis na região. "Como parte do que trabalhamos é com galões de água e de gasolina direcionados ao consumidor final, nossa demanda explodiu com aumento de 300% nos pedidos. As pessoas em toda a Europa com uma ameaça de guerra, de crise, de tragédia, de desastre natural ficam com muito medo e começam a estocar as coisas em casa".