Os houthis, da minoria zaidi do islamismo xiita e cuja base tradicional é o norte montanhoso do Iêmen, controlam a capital Sanaa e outras partes do país.
O Iêmen é uma sociedade profundamente conservadora, mas os houthis, apoiados pelo Irã, impõem sua versão rigorosa da religão, segundo testemunhas.
Belkis, que usou um pseudônimo por medo de represálias, contou como um oficial houthi a parou em um posto de controle de Sanaa quando ela estava viajando de ônibus com suas amigas.
Todas com cerca de 20 anos, mas Belkis disse que o oficial se referiu a elas como "menores".
"Ele nos fez perguntas e gritou", contou. "Nos acusou de violar a moralidade pública".
Elas estavam vestidas de forma simples, mas não com as vestes pretas e véus faciais tradicionalmente usados em Sanaa.
"A maneira como estávamos vestidas o incomodava" porque as roupas eram muito coloridas, disse Belkis.
As violações dos direitos das mulheres em áreas controladas pelos houthis tornaram-se "mais graves" no ano passado, de acordo com a ONG iemenita Mwatana.
As restrições às liberdades incluem a proibição do uso de contraceptivos e a limitação do direito das mulheres ao trabalho.
"A situação é ruim para as mulheres em todo o país, mas é pior nas áreas sob controle houthi", declarou Noria Sultan, da Mwatana, à AFP.
- Prisão e humilhação -
Uma moradora de Sanaa, que pediu anonimato, disse que os rebeldes usam até mesmo a menor violação de suas regras como desculpa para "espancar, prender e humilhar mulheres".
No caso de Belkis, os rebeldes se opuseram a que as mulheres viajassem sem um guardião masculino, o que, embora não seja a lei no Iêmen, é exigido pelas forças houthis.
"Antes era normal as mulheres viajarem", disse.
E quando informaram que planejavam cruzar as linhas de frente para chegar ao porto de Áden, controlado pelo governo, as coisas pioraram.
O oficial respondeu: "Se Deus quiser, vocês irão para o inferno'", lembrou a jovem.
As forças houthis apreenderam seus documentos de identidade e as enviaram de volta à capital.
"Senti que estava sendo interrogada como uma criminosa". Os rebeldes olhavam para elas de forma desagradável, acrescentou.
"Se houvesse instituições adequadas, poderíamos ter exigido nossos direitos, mas não há ninguém a quem reclamar", lamentou Belkis. "É humilhante".
A guerra civil do Iêmen, que eclodiu em 2014 depois que os houthis capturaram Sanaa, opõe rebeldes ao governo reconhecido internacionalmente, apoiado por uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.
Centenas de milhares de pessoas morreram como consequência direta ou indireta do conflito e milhões foram deslocadas, no que a ONU chamou de pior crise humanitária do mundo.
As autoridades houthis se recusaram a responder aos pedidos de comentários da da AFP.