Jornal Estado de Minas

KIEV

Nova tentativa de instaurar corredores humanitários para retirar civis da Ucrânia

Os civis começaram a ser retirados a conta-gotas, nesta terça-feira (8), da cidade ucraniana de Sumy, perto da fronteira com a Rússia, em uma nova tentativa de instaurar corredores humanitários para que as pessoas cercadas pelos bombardeios possam ficar em segurança.



Os bombardeios aéreos contra esta cidade, que fica 350 km ao nordeste de Kiev e é cenário de violentos combates há vários dias, mataram 21 pessoas - incluindo duas crianças - na segunda-feira à noite, segundo o Ministério Público regional.

Dezenas de ônibus saíram de Sumy com destino a Lokhvytsia, 150 km ao sudoeste, informou o governador interino, Dmitry Lunin.

Horas depois, o ministério ucraniano da Defesa acusou a Rússia de não respeitar o corredor humanitário em Mariupol, uma cidade portuária estratégica do sul do país.

"O inimigo executou um ataque exatamente na direção do corredor humanitário", denunciou o ministério em sua página do Facebook. O exército russo "não permitiu que crianças, mulheres e idosos abandonassem a cidade", acrescenta o texto.

A Rússia anunciou nas primeiras horas de terça-feira um cessar-fogo para permitir a saída dos civis das grandes cidades ucranianas, incluindo Kiev, Sumy, Mariupol, Járkov e Chernógiv.

- "Três mortos em minas terrestres" -

A instauração dos corredores humanitários foi o principal tema da terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia na segunda-feira, mas na frente de batalha as tropas russas prosseguem com o avanço ao redor das grandes cidades, o que inclui bombardeios em alguns casos, segundo as autoridades ucranianas.



Depois de meses acumulando tropas nas proximidades da fronteira da ex-república soviética, o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão alegando querer proteger a população de língua russa dos territórios rebeldes do leste da Ucrânia, que lutam contra Kiev desde 2014.

O chefe de Estado da Rússia exige a desmilitarização da Ucrânia, um status neutro para o país, atualmente inclinado ao Ocidente, e garantias de que Kiev nunca integrará a Otan.

O Ministério da Defesa ucraniano afirmou que o general russo Vitali Guerassimov morreu perto de Kharkiv, informação que as autoridades russas não confirmaram e que foi impossível verificar com uma fonte independente.

De acordo com um porta-voz do exército russo, Igor Konashenkov, as forças russas tomaram um aeródromo militar em Jytomyr, 150 km a oeste de Kiev, e os separatistas pró-russos de Lugansk e Donetsk continuaram avançando.

Em uma estrada na região de Chernigov, ao norte de Kiev, três adultos foram mortos e três crianças ficaram feridas em uma explosão de mina terrestre, anunciaram autoridades ucranianas.



- "Todos os dias há bombardeios" -

Em Irpin, nos arredores de Kiev, a AFP viu centenas de pessoas esperando na fila para atravessar um rio em tábuas estreitas de madeira, chapas de metal e paletes.

"Eu não queria sair, mas não há mais ninguém nas casas ao meu redor e não há água, gás, eletricidade", disse Larissa Prokopets, 43 anos. A mulher decidiu sair depois de vários dias "escondida no porão de casa", que tremia de vez em quando devido aos bombardeios.

Em Mikolaiv, perto de Odessa, no sul, carros formaram filas de vários quilômetros enquanto os combates avançavam, confirmou outro jornalista da AFP.

Em frente ao hospital central da cidade, Sabrina, 18 anos, esperava a mãe, carregando um gato, um cachorro e várias malas. "Vamos deixar a cidade o mais rápido possível. Todos os dias há bombardeios, é aterrorizante", disse ela.

- Mais de dois milhões de refugiados -

O conflito provocou o êxodo mais acelerado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de dois milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde 24 de fevereiro e seguiram para países vizinhos, sobretudo para a Polônia, anunciou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).



O balanço mais recente da ONU registra 406 civis mortos na invasão, mas este número certamente está muito abaixo dos dados reais de vítimas da guerra.

A justiça alemã anunciou que está investigando possíveis crimes de guerra na Ucrânia.

Pouco depois, a promotoria espanhola fez um anúncio semelhante, anunciando a abertura de uma investigação sobre "graves violações do direito internacional humanitário" derivadas do "ato de guerra injustificados" cometido pela Rússia na Ucrânia.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) abriu na semana passada uma investigação sobre o tema e o governo dos Estados Unidos afirmou que tem informações "muito confiáveis" sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia.

- Embargo ao petróleo ? -

Em resposta à ofensiva, os países ocidentais impuseram sanções sem precedentes contra empresas, bancos e magnatas russos nos últimos dias, mas Kiev insiste em pedir um boicote às exportações russas e a imposição de uma zona de exclusão aérea para impedir os bombardeios.

O setor de energia ainda não foi afetado por essas sanções, especialmente porque a Europa é altamente dependente do gás russo e, principalmente, da Alemanha.

No entanto, de acordo com a imprensa dos EUA, o presidente americano, Joe Biden, anunciaria um embargo às importações de petróleo russo e gás natural liquefeito nesta terça-feira. A Casa Branca afirmou que Biden anunciaria "ações para continuar sancionando a Rússia".



Neste contexto, o preço do petróleo voltou a disparar nesta terça-feira: o barril do Brent do Mar do Norte, o petróleo de referência na Europa, subiu mais de 5%.

Durante o dia, o grupo anglo-holandês Shell anunciou que planeja se afastar do petróleo e gás russos, "gradualmente" e de acordo com as "novas diretrizes do governo" britânico em resposta à invasão russa da Ucrânia.

A bolsa de metais de Londres (LME) suspendeu a negociação de níquel de maneira temporária, depois que o preço superou por alguns minutos US$ 100.000 por tonelada, diante do risco de escassez caso a Rússia não consiga exportar sua produção.

O presidente chinês, Xi Jiping, pediu "muita cautela" no conflito ucraniano durante uma ligação com seu colega francês, Emmanuel Macron, e chanceler alemão, Olaf Scholz, expressando sua "profunda preocupação".