“Consegui. Maldito seja o Almirantado. Atravessamos o inferno, mas não perdi nenhum homem”, diz o texto com letras já quase apagadas, escrito no diário de bordo do explorador britânico, Ernest Shackleton. Há 106 anos, o experiente marinheiro e sua tripulação embarcavam no veleiro Endurance, rumo às águas geladas da Antártica.
Vestindo somente roupas de lã, munidos de mantimentos, 18 sacos de dormir de pele e cinco tendas de linho, Shackleton e outros 28 homens protagonizaram o que se tornaria um dos maiores casos de superação e sobrevivência da história marítima. À deriva no gelo, o barco acabou preso e a tripulação lutou por 497 dias para sobreviver às temperaturas negativas da Antártica.
O mítico veleiro, que cedeu à pressão do gelo, acabou naufragando em outubro de 1915. Nesta quarta-feira (9/3), os destroços do Endurance foram, enfim, localizados. No fundo do Mar de Weddell, a Leste da Península Antártica, a três mil metros de profundidade e usando drones submarinos, uma equipe de aventureiros, arqueólogos marinhos e técnicos encontrou o que restou da embarcação.
- Foi em 8 de agosto de 1914 que Shackleton deu início à maior expedição da sua vida. Com o sucesso do norueguês Roald Amundsen, que chegou ao Polo Sul em dezembro de 1911, o explorador britânico decidiu mudar de objetivo e se propôs a fazer a travessia a pé, de quase 3 mil quilômetros, entre a costa do mar de Weddell e o mar de Ross. Shackleton embarcou com 28 homens, 69 cães de trenó, dois porcos e um gato no grande Endurance, navio que os conduziria até a Antártica.
- Em 5 de dezembro de 1914, o Endurance ficou preso em um banco de gelo, logo após deixar a Geórgia do Sul - próximo da Argentina - em direção à baía de Vahsel. O navio ficou à deriva por 9 meses, esperando a chegada da primavera para poder seguir viagem.
- Em setembro de 1915 o cenário mudou. Quando o gelo começou a quebrar, com a chegada da primavera, uma forte pressão atingiu o casco da embarcação. Inicialmente, Shackleton esperava que o Endurance se soltasse do gelo, mas percebeu que o navio estava afundando e ordenou o abandono da embarcação.
- Em 27 de outubro de 1915, depois de nove meses, o navio não suportou a pressão e o convés começou a se partir. A tripulação já não estava mais a bordo e vivia no Acampamento Paciência, a 500 metros do local do naufrágio, dividida em cinco tendas de linho e vestidos só com roupas de lã. Com uma oscilação de temperatura que chegava a quase 30ºC negativos, havia apenas 18 sacos de dormir de pele, que foram sorteados entre os 28 tripulantes. Com um pouco de madeira que restou da embarcação, improvisaram uma mini cozinha, onde cozinharam focas e pinguins. Em momentos de escassez, foram obrigados a sacrificar os cães da expedição.
- Em 24 de abril de 1916, Shackleton partiu, com outros cinco homens, para uma viagem de 1,3 mil quilômetros em um barco salva-vidas de 6 metros, em direção à Geórgia do Sul. O objetivo era chegar à estação baleeira de onde haviam partido um ano e quatro meses antes.
- Após 17 dias em alto mar, o pequeno barco chegou à baía King Haakon, na ilha Geórgia do Sul. A localização, no entanto, estava equivocada. O grupo aportou a 240 quilômetros por mar das estações baleeiras mais próximas. Shackleton e outros dois tripulantes decidiram que atravessariam, então, pelas montanhas, cobertas de gelo, para buscar socorro. Sem nenhum equipamento de segurança, levaram 36 horas para chegar à estação.
- Em meio à Primeira Guerra Mundial, a expedição para resgatar o restante da tripulação, ainda acampada na costa da Antártica, foi dificultada. Sem embarcações disponíveis, somente em 30 de agosto de 1916, quatro meses depois de chegar à ilha da Geórgia do Sul, que o restante do grupo foi finalmente resgatado. Encontrados vivos, os 22 homens que ficaram para trás foram encontrados com vida.
Em 5 de janeiro de 1922, aos 47 anos, Ernest Shackleton morreu de um ataque cardíaco na Geórgia do Sul, quando liderava mais uma expedição para a Antártida.
Quem foi Ernest Shackleton?
Nascido em 15 de fevereiro de 1874 em Kilkea, na Irlanda, Ernest Shackleton consolidou seu nome na história da navegação mundial e se tornou um dos maiores exploradores da Antártica. Naturalizado na Inglaterra, liderou a expedição Transantártica Imperial - a bordo do navio Endurance - com o objetivo de fazer a travessia a pé, de quase 3 mil quilômetros, entre a costa do mar de Weddell e o mar de Ross.
Experiente marinheiro, Shackleton desempenhou sua profissão desde os 16 anos de idade Aos 24, em 1898, foi qualificado pela Marinha Britânica a comandar qualquer navio da frota do Reino Unido. Em 1901, por sua experiência, embarcou junto à tripulação do navio ‘Discovery’, que partiu, pela primeira vez, em direção à Antártica.
Em 1907, Shackleton embarcou novamente rumo ao sul, desta vez no comando do seu próprio navio, o Nimrod. Com mais três tripulantes, desistiu a 180 quilômetros do Polo Sul, em janeiro de 1909. “Nosso último dia para a frente. Fizemos o máximo de esforço e estamos na latitude 88º 23’ S”, escreveu em seu diário. Embora sem sucesso, a expedição alcançou um novo recorde de aproximação e, ao retornar à Inglaterra, recebeu o título de "Comandante da Real Ordem Vitoriana do rei Eduardo VII".
Expedição Transantártica Imperial: nove meses em deriva
Em 8 de agosto de 1914, em mais uma empreitada, Shackleton deu início à maior expedição da sua vida. Com o sucesso do norueguês Roald Amundsen, que chegou ao Polo Sul em dezembro de 1911, o explorador britânico, desafiado, decidiu mudar de objetivo e se propôs a fazer a travessia entre a costa do mar de Weddell e o mar de Ross - portanto, a pé.
As condições de navegação daquele ano estavam particularmente difíceis e, em 5 de dezembro de 1914, o Endurance ficou preso em um banco de gelo ao deixar a Geórgia do Sul - próximo da Argentina - em direção à baía de Vahsel. O navio ficou, então, à deriva por 9 meses, esperando a chegada da primavera para poder seguir viagem.
Em setembro de 1915 o cenário mudou. Quando o gelo começou a quebrar, com a chegada da primavera, uma forte pressão atingiu o casco da embarcação. Inicialmente, Shackleton esperava que o Endurance se soltasse do gelo, mas percebeu que o navio estava afundando e ordenou o abandono da embarcação.
Acampamento Esperança
Em 27 de outubro de 1915, depois de nove meses, o navio não suportou a pressão e o convés começou a se partir. A tripulação já não estava mais a bordo e vivia no Acampamento Paciência, a 500 metros do local do naufrágio, divididos em cinco tendas de linho e vestidos com roupas de lã - pouco apropriadas para a intensidade do frio externo ao barco.
Com uma oscilação de temperatura que chegava a quase 30ºC negativos, havia apenas 18 sacos de dormir de pele, que foram sorteados entre os 28 tripulantes. Com um pouco de madeira que restou da embarcação, improvisaram uma mini cozinha, onde prepararam focas e pinguins para comer. Em momentos de escassez, foram obrigados a sacrificar os cães da expedição.
No dia 23 de dezembro de 1915, depois de dois meses vivendo no gelo, a tripulação desmontou acampamento para tentar alcançar um lugar mais seguro. Munidos de botes, marcharam com dificuldade na esperança de conseguir um ponto sem gelo e lançá-los no mar. Sob péssimas condições de tempo, avançaram somente 12 quilômetros e decidiram, mais uma vez, levantar acampamento e esperar a fragmentação do gelo para outra tentativa.
Resgate: esperança na espera
Com quatro meses instalados no novo acampamento, à mercê do movimento da banquisa, Shackleton decidiu pôr fim à espera e partiu, com outros cinco homens, para uma viagem de 1,3 mil quilômetros. Em 24 de abril de 1916, embarcaram em um barco salva-vidas de 6 metros, em direção à Geórgia do Sul. O objetivo era chegar à estação baleeira de onde haviam partido um ano e quatro meses antes.
Após 17 dias em alto mar, o pequeno barco chegou à baía King Haakon, na ilha Geórgia do Sul. A localização, no entanto, estava equivocada. O grupo aportou a 240 quilômetros por mar das estações baleeiras mais próximas. Shackleton e outros dois tripulantes decidiram que atravessariam, então, pelas montanhas, cobertas de gelo, para buscar socorro. Sem nenhum equipamento de segurança, levaram 36 horas para chegar à estação.
“Atravessamos o inferno, mas não perdi nenhum homem”
Em meio à Primeira Guerra Mundial, a expedição para resgatar o restante da tripulação, ainda acampada na costa da Antártica, foi dificultada. Sem embarcações disponíveis, somente em 30 de agosto de 1916, quatro meses depois de chegar à ilha da Geórgia do Sul, que o restante do grupo foi finalmente resgatado. Os 22 homens que ficaram para trás foram encontrados com vida.
Sedento por novas conquistas, Ernest Shackleton voltou a embarcar rumo à Antártica liderando mais uma expedição de exploração. Sua aventura, no entanto, chegou ao fim. Em 5 de janeiro de 1922, aos 47 anos, morreu de um ataque cardíaco na Geórgia do Sul.