Em decreto, Biden pediu ao Departamento do Tesouro que lhe envie um relatório sobre "o futuro da moeda" em seis meses, detalhando as vantagens e desvantagens da eventual criação nos Estados Unidos de uma moeda digital emitida pelo Banco Central (CBDC).
O presidente quer detalhes sobre as consequências dessa ideia sobre os sistemas financeiro e de pagamentos, o crescimento econômico, as possibilidades de acesso de todos e a segurança do país.
Ele também pediu ao Fed que continue investigando a questão e estude as etapas necessárias para um eventual lançamento do dólar digital.
De acordo com a Casa Branca, mais de 100 países lançaram moedas digitais ou pensam na possibilidade de adotar a medida.
O avanço de criptomoedas como o bitcoin e o uso crescente de sistemas de pagamento digitais provocaram o interesse da criação de uma moeda digital oficial.
Se concretizada, essa ideia pode revolucionar as finanças mundiais, onde o dólar é mestre e senhor. Mas o projeto envolve riscos para o setor bancário tradicional e a privacidade dos usuários. A moeda digital também pode ser utilizada por criminosos além dos possíveis riscos para a segurança dos países, entre outros.
"Devemos ser muito, muito cuidadosos em nossas análises porque as implicações, em caso de adoção do dólar digital, seriam muito profundas para o país cuja divisa é a principal moeda de reserva mundial", ressaltou um alto funcionário da Casa Branca que pediu anonimato.
A fonte afirmou ainda que os projetos de moeda digital mais adiantados em outros países ou zonas monetárias "não ameaçam" o domínio do dólar, que garante aos Estados Unidos uma posição privilegiada nas finanças mundiais, mas é também uma verdadeira arma estratégica, como ilustram as sanções adotadas contra a Rússia pela invasão da Ucrânia.
- Moedas e cédulas -
A moeda digital é o equivalente desmaterializado de moedas e cédulas, que são apoiados pelos bancos centrais. Portanto, se a moeda digital for oficial, poderia ser utilizada sem passar pela intermediação de um banco, o que atualmente é necessário para as moedas tradicionais. Os pagamentos digitais atualmente usam intermediários financeiros.
Os Estados querem evitar ceder espaço para atores privados ou potências estrangeiras.
A secretária do Tesouro, Janet Yellen, destacou que suas equipes "vão avaliar os riscos potenciais dos ativos digitais para a estabilidade financeira e vão determinar se existem as proteções necessárias" para avançar.
Biden quer colocar ordem na multiplicação de criptomoedas privadas, extremamente voláteis e totalmente descentralizadas (fora do controle dos bancos centrais), das quais a mais conhecida é o bitcoin.
Um alto funcionário garantiu que o governo americano "continuará combatendo de maneira forte" qualquer uso de criptomoedas que sirvam "para evitar sanções dos Estados Unidos e isso também se aplica à Rússia", que enfrenta pesadas sanções ocidentais desde que invadiu a Ucrânia.
A mesma fonte considerou, no entanto, que no caso da Rússia não pensa que "o uso de criptomoedas seja um modo viável para evitar as sanções financeira" que buscam afastar o país dos circuitos financeiros mundiais.
A Casa Branca ressaltou que, segundo alguns estudos, quase 16% dos adultos americanos investiram ou usaram criptomoedas.
"O desenvolvimento de ativos digitais oferece a oportunidade aos Estados Unidos de reforçar seu domínio nas finanças e tecnologia, mas também tem consequências importantes para a proteção dos consumidores, a estabilidade financeira, a segurança nacional e o meio ambiente", destaca o comunicado.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, e o principal conselheiro econômico do presidente, Brian Deese, enfatizaram em uma declaração conjunta que o setor privado deve se envolver para incentivar a "inovação responsável" no mundo dos ativos digitais.
Eles também garantiram que os Estados Unidos estão comprometidos em "trabalhar com seus aliados" dessa maneira.