Antes que seu pedido realmente resulte em um dólar virtual, haverá vários impactos e riscos importantes a serem considerados.
- Qual seria a forma de um dólar digital? -
Ainda seria um dólar emitido pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), como todas as notas e moedas dos Estados Unidos em uso agora, mas em um formato digital acessível a todos, não apenas às instituições financeiras.
Ao contrário do dinheiro depositado em uma conta bancária, ou gasto por meio de aplicativos como Venmo e Apple Pay, ele iria para contas do Federal Reserve, e não para um banco.
Ao mesmo tempo, o dólar digital valeria o mesmo que sua contraparte em papel. Esta seria uma diferença em relação às criptomoedas, cujas cotações ainda são altamente voláteis.
As principais questões permanecem sem resposta, entre elas, a de se um dólar digital seria baseado em tecnologia blockchain, como o bitcoin, ou se seria vinculado a algum tipo de cartão de pagamento.
Se o governo decidir seguir em frente, pode levar "vários anos" até que seja possível usar um dólar digital. As autoridades terão de explorar, por exemplo, qual tecnologia usar, disse Darrell Duffie, especialista em moedas digitais da Universidade de Stanford, na Califórnia.
- Por que lançar um dólar digital? -
Isso reduziria, ou até eliminaria, os custos de transação, já que as transações deixariam de passar apenas por bancos, cartões bancários, ou aplicativos que cobram taxas em cada pagamento.
Os defensores da ideia dizem que ela ajudaria pessoas sem contas bancárias, cerca de 5% das famílias nos Estados Unidos, e poderia facilitar o pagamento de benefícios sociais.
Existem riscos como uma falha no sistema, ou um ataque cibernético. Também há preocupações com a privacidade, pois o governo, em tese, poderia ter acesso a todas as transações.
O sistema bancário também pode ser prejudicado, já que os bancos, hoje, usam depósitos de clientes para fazer empréstimos para outros. Com um dólar digital, podem ter menos dinheiro à sua disposição.
- Como as finanças globais serão afetadas? -
Muitas vezes demoradas e caras, as transferências internacionais poderiam ser bastante facilitadas.
Uma negociação que atualmente leva dois dias para ser validada poderia ser feita em uma hora, disse Marc Chandler, especialista em câmbio da corretora Bannockburn.
Para Chandler, o papel geopolítico do dólar americano não seria alterado pela introdução da versão digital.
Um dólar digital representaria "uma evolução natural, e não uma revolução", afirmou, lembrando que mais de US$ 6,5 trilhões já são trocados eletronicamente todos os dias no mercado de câmbio.
Mesmo que a China lance um iuane digital em larga escala, ele não acredita que isso vá mudar o papel de Pequim na economia mundial, pois "sempre haverá questões de confiança, transparência (e) profundidade dos mercados".
Já para Duffie, de Stanford, se os Estados Unidos quiserem continuar se beneficiando do status do dólar como moeda dominante nas reservas do Banco Central e nos pagamentos internacionais, é essencial que o governo aja com cautela.
"Os Estados Unidos precisarão garantir que permanecerão em uma posição de liderança nos fóruns internacionais que discutem padrões para fazer pagamentos transfronteiriços com moedas digitais", observou.
- Estados Unidos podem se garantir? -
Outros países já estão trabalhando em versões digitais de suas próprias moedas, da zona do euro à Índia, mas "não há evidências que sugiram que ser o primeiro no mercado ofereça vantagens significativas, ou materiais", comentou Jamiel Sheikh, fundador do "think tank" CBDC Pense Tanque.
Pelo contrário, o fracasso por consequências não intencionais, devido ao seu funcionamento, uso e outros problemas, pode minar a confiança na instituição emissora, advertiu.
"O domínio esmagador do dólar dá aos Estados Unidos o luxo de aprender com outros países", concordou Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell.
- Dólar ou criptomoedas? -
Se projetado corretamente, um dólar digital pode ser preferível para uso doméstico do que uma criptomoeda, opinou Duffie.
Para transferências internacionais, porém, o especialista se mostrou "cético de que os grandes bancos centrais, como o Fed ou o BCE (Banco Central Europeu), os da China ou do Japão, concederiam contas em bancos centrais a pessoas de todo mundo".
Se os Estados Unidos fizerem isso, frisou, podem destruir o sistema monetário de pequenos países, cujos habitantes prefiram usar o dólar digital, em vez da moeda local.
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