Jornal Estado de Minas

MÉXICO

México acusa Parlamento europeu de apoiar 'estratégia golpista' por pedir proteção a jornalistas

O governo mexicano acusou o Parlamento Europeu de apoiar uma "estratégia golpista" de seus opositores, após o pedido do organismo a proteger os jornalistas e defensores de direitos humanos após o assassinato de pelo menos sete jornalistas este ano.



"É lamentável que se somem como cordeiros à estratégia reacionária e golpista do grupo corrupto que se opõe à Quarta Transformação (plano de governo)", destacou um comunicado redigido pelo próprio presidente Andrés Manuel López Obrador.

"Os legisladores europeus foram surpreendidos porque não é correto o que sustentam, é completamente falso", afirmou nesta sexta o presidente em sua coletiva de imprensa habitual, tachando a resolução de "caluniosa".

O Parlamento Europeu (composto por 705 eurodeputados dos 27 países da UE) aprovou na quinta-feira uma resolução pedindo às autoridades mexicanas "que garantam a proteção e a criação de um ambiente seguro para jornalistas e defensores dos direitos humanos".

A Câmara europeia destacou que "o México é há muito tempo o lugar mais perigoso e mortal para os jornalistas fora de uma zona de guerra oficial", e considerou que o país tem um "problema endêmico" na investigação desses crimes, já que "95% ficam impunes".



A resolução do Parlamento, que não é vinculativa, aponta para o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, por "sua retórica para denegrir e intimidar jornalistas independentes, proprietários de meios de comunicação e ativistas", segundo um comunicado de imprensa desta instituição.

Nesse sentido, os eurodeputados afirmam que a situação "se deteriorou desde as últimas eleições presidenciais em julho de 2018".

O presidente critica quase diariamente um setor da imprensa que acusa de servir a interesses privados e atacar seu governo diante da perda de "privilégios" que, segundo ele, mantinham com administrações anteriores.

Ao menos sete jornalistas foram assasinados no México este ano, segundo balanços atualizados das organizações Repórteres sem Fronteiras e Artículo 19. Um deles, o locutor Jorge Luis Camero, foi morto em 24 de fevereiro, duas semanas depois de ter deixado o cargo na prefeitura de Empalme (estado de Sonora).



"O México deve fazer seu o chamado de um aliado europeu nesta resolução aprovada quase por unanimidade", manifestou-se nesta sexta-feira a ONG Repórteres sem Fronteiras em sua conta no Twitter.

- Grave deterioração -

A resolução da Câmara, que não é vinculante, destaca que o "México é há muito tempo o local mais perigoso e mortal para os jornalistas fora de uma zona oficial de guerra" e considera que o país tem um "problema endêmico" para investigar estes crimes, já que "95% ficam impunes".

Além disso, denuncia que "o Estado de Direito está se deteriorando de forma grave" no México em meio a um clima de "violência generalizada".

"Chega de corrupção, de mentiras e hipocrisia", respondeu López Obrador em um comunicado divulgado quinta-feira à noite, dirigindo-se aos eurodeputados, no qual reforçou que no México "se respeita a liberdade de expressão e o trabalho dos jornalistas".

A exortação do Parlamento Europeu se soma ao pedido dos Estados Unidos, em fevereiro, para que o México aja com maior responsabilidade frente a crimes contra comunicadores, o que o governo de López Obrador rechaçou por considerar "intervencionista".

O presidente assegurou nesta sexta-feira que o governo registra cinco assassinatos de jornalistas e que só em um caso ainda não há detidos. Nos casos dos outros homicídios houve 17 detenções, disse.



"Evoluam, deixem para trás sua mania intervencionista disfarçada de boas intenções. Vocês não são o governo mundial", acrescenta o documento, que também pede aos eurodeputados que se informem e "leiam bem" as resoluções antes de assiná-las.

López Obrador aproveitou o contraponto para criticar o papel da Europa frente à invasão russa da Ucrânia, condenada pelo México.

"Imaginem o que é se envolver e não poder deter uma guerra e começar a querer resolver as coisas uma vez que as hostilidades começaram, ao invés de buscar o diálogo, a solução pacífica de imediato", disse nesta sexta, questionando, ainda, o envio de armas para a Ucrânia.

Cerca de 150 jornalistas foram mortos no México desde 2000, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras.

Desde 2018, ano em que López Obrador assumiu o cargo, 47 jornalistas e 68 ativistas de direitos humanos foram mortos.