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Estado de Minas VALPARAÍSO

Gabriel Boric chega à Presidência do Chile como promessa de uma nova esquerda


11/03/2022 22:05

O presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, emocionou seus apoiadores nesta sexta-feira (11) em seu discurso do palácio presidencial de La Moneda, ao mencionar o ex-presidente socialista Salvador Allende e parafrasear parte de sua última mensagem antes de se suicidar durante o golpe de Estado do ditador Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973.

"Como previra há quase 50 anos Salvador Allende, estamos de novo, compatriotas, abrindo as grandes alamedas por onde passa o homem e a mulher livres para construir uma sociedade melhor. Seguimos. Viva o Chile!", disse Boric, encerrando sua apresentação perante a multidão.

Seus apoiadores tinham se reunido horas antes na praça em frente à sede do Executivo, em Santiago, com bandeiras coloridas com seu nome, balões e cânticos para recebê-lo como um superastro da música em meio a vivas e lágrimas de emoção no encerramento do dia de troca de comando.

"São protagonistas deste processo. O povo do Chile é protagonista deste processo. Não estaríamos aqui sem as manifestações de vocês", disse o ex-líder estudantil e agora presidente mais jovem do Chile diante de dezenas de milhares de simpatizantes.

O presidente recém-empossado admitiu que não teria chegado ao cargo sem os protestos sociais que sacudiram o modelo social e econômico do país, em seu primeiro discurso após assumir o cargo.

"O povo do Chile nos julgará por nossas obras e não por nossas palavras", disse em seu discurso.

Boric fez seu discurso mais progressista desde a campanha para o primeiro turno das eleições presidenciais, em novembro do ano passado.

"Meu sonho é que quando terminemos nosso mandato, possamos olhar nossos filhos, nossas irmãs, nossos pais (...) e sintamos que há um país que nos protege, que nos acolhe, que cuida de nós, que garante direitos e retribui com justiça o aporte e o sacrifício de cada um de vocês", afirmou.

Apesar de suas palavras romperem com o sistema econômico que vigorou no país por mais de três décadas, Boric apelou à unidade entre as forças políticas.

"Vamos precisar de todos, governo e oposição", disse.

- Simbolismo -

O dia terminou como começou, cheio de simbolismos, quebras de protocolo e proximidade com os cidadãos. Boric começou seu governo rompendo os padrões vistos até então na democracia chilena, com a ideia de mudar o rumo do país.

"Diante do povo e dos povos do Chile, sim, prometo", disse Boric pela manhã na sede do Congresso, na cidade costeira de Valparaíso, a 120 km de Santiago, quando foi empossado presidente.

Posteriormente, ergueu o punho esquerdo e assinou, após um longo suspiro, o cargo de autoridade máxima do país, sem esconder a emoção de assumir com um "grande senso de responsabilidade e dever perante o povo", disse em seu discurso final em Santiago, também emocionado, aonde chegou em um carro conversível que pela primeira vez foi dirigido por uma policial feminina.

Juntamente com suas ministras (14) e ministros (10), Boric assumiu a Presidência do Chile em um dos momentos mais desafiadores desde que o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.

- Posse -

O ex-líder estudantil se emocionou ao receber a faixa presidencial junto ao conservador Sebastián Piñera, empresário milionário de 72 anos, que encerra seu segundo mandato (2010-2014; 2018-2022) como parte de um ciclo político que trouxe progresso graças a um modelo neoliberal, mas também deixou um abismo na desigualdade social que motivou protestos multitudinários de outubro de 2019.

"Da mesma forma, as pessoas desceram das colinas (de Valparaíso) para protestar (por Piñera). Agora sim, temos um presidente de verdade, Gabriel Boric se torna presidente do Chile como promessa de uma nova esquerda", disse à AFP Ana María Soto, estudante de 20 anos.

Após a cerimônia, os ministros prestaram juramento perante o presidente Boric, começando por Izkia Siches, médica de 35 anos, a primeira mulher a assumir a pasta do Interior.

Como Boric e Izkia, Camila Vallejo e Giorgio Jackson fazem parte da geração de estudantes que lideraram os protestos de 2011 pela ampliação do acesso à educação gratuita e de qualidade e expuseram as lacunas sociais deixadas pela jovem democracia chilena.

A diplomata originária da Ilha de Páscoa Manahi Pakarati recebeu como diretora de Protocolo as delegações internacionais, entre as quais estavam os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou; da Argentina, Alberto Fernández; do Peru, Pedro Castillo; Rei Felipe VI da Espanha; Luis Arce, da Bolívia; e a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, além do pré-candidato colombiano à Presidência Gustavo Petro.

- Esperança de bem-estar -

Boric pretende iniciar uma trajetória para um Estado de Bem-Estar no estilo da social-democracia europeia, para transformar o Chile, onde 1% da população possui 26% da riqueza, no "túmulo" do neoliberalismo.

"Este é um governo que chega ao poder em um clima político muito fragmentado, que não tem maioria parlamentar e, portanto, não tem a possibilidade de fazer reformas muito radicais no curto prazo", avaliou em declarações à AFP Claudia Heiss, acadêmica de Ciência Política da Universidade do Chile.

O esquerdista assume o cargo em meio a uma crise de credibilidade na política, um corte de 22,5% nos gastos públicos, previsão de desaceleração da economia para este ano, grande migração irregular e um histórico conflito fundiário não resolvido entre o Estado e o povo mapuche.

Seu governo terá que trabalhar por saúde, educação e aposentadoria, além de reduzir a desigualdade social, demandas que surgiram no surto social de outubro de 2019 que abalou o país considerado um dos mais estáveis da região.

Outro desafio será angariar apoio para o processo constitucional, que este ano deve convocar um plebiscito para aprovar, ou rejeitar, uma nova Constituição que substituirá a atual Carta Magna, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).


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