Jornal Estado de Minas

SAN SALVADOR

Juiz ordena prisão de ex-presidente salvadorenho por morte de jesuítas

Um juiz ordenou nesta sexta-feira a prisão do ex-presidente de El Salvador Alfredo Cristiani (1989-1994) por vínculos com o assassinato de seis padres jesuítas e duas colaboradoras cometido pelo Exército em 1989, durante a Guerra Civil, informou a Procuradoria.



A Procuradoria Geral da República conseguiu "que o Tribunal 3º de Paz de San Salvador decretasse que os réus no caso Jesuítas passem à etapa de instrução, entre eles o ex-presidente Alfredo Cristiani e o ex-deputado Rodolfo Parker, em prisão provisória", publicou no Twitter a instituição judicial. A ordem também compreende quatro coronéis.

O ex-presidente, que se encontra fora do país e cujo paradeiro é desconhecido, negou as acusações e atacou o procurador Rodolfo Delgado. "O procurador-geral, de má fé e com claro desrespeito à verdade, acusou-me publicamente de omissão e encobrimento. A verdade é que eu nunca soube dos planos que eles tinham para cometer esses assassinatos", afirmou Cristiani, que, na qualidade de presidente, também era comandante-geral das Forças Armadas.

Os militares "nunca me informaram ou pediram autorização, porque sabiam que eu jamais teria autorizado que se causassem danos ao padre Ellacuría ou a seus irmãos", acrescentou o ex-presidente, ressaltando que, "neste momento, não há garantias processuais em El Salvador, porque a maioria dos magistrados, juízes e promotores são impostos e completamente servis ao poder presidencial".



- Crime múltiplo -

Na madrugada de 16 de novembro de 1989, em meio a uma ofensiva guerrilheira em San Salvador, efetivos do agora banido batalhão Atlacatl cometeram assassinatos no campus da Universidade Jesuíta Centro-Americana (UCA). A Procuradoria de El Salvador havia apresentado no mês passado a um tribunal um requerimento contra Cristiani e um grupo de militares por envolvimento no assassinato.

Nesta sexta-feira, o juiz também ordenou a prisão provisória dos coronéis Óscar León Linares, Nelson López, Joaquín Arnoldo Cerna e Inocente Orlando Montano. Este último cumpre pena de 30 anos de prisão na Espanha pelo crime múltiplo.

No caso dos generais Juan Rafael Bustillo, Rafael Larios e Juan Orlando Zepeda, assim como dos coronéis Manuel Antonio Rivas e Camilo Hernández, o tribunal ordenou medidas alternativas, devido às suas condições de saúde. O general René Emilio Ponce e o coronel Francisco Elena Fuentes já morreram.

Em setembro de 1991, um tribunal de San Salvador julgou nove militares que figuravam como autores materiais, sem levar em conta os autores intelectuais, segundo organizações humanitárias. Nesse julgamento, apenas o coronel Guillermo Alfredo Benavides foi declarado culpado de todos os assassinatos, e o tenente Yusshy René Mendoza foi responsabilizado pela morte da menor Celina.

Ambos os policiais reconquistaram a liberdade com a lei de anistia de 1993, mas Benavides foi preso novamente para concluir sua pena de 30 anos depois que a anistia prescreveu, em 2016.

Em 16 de janeiro de 1992, sob a mediação da ONU, o governo e a então guerrilha Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN, esquerda), assinaram os acordos de paz que abriram caminho para a democracia. A guerra civil, iniciada em 1980, em meio à injustiça social, ao fechamento de espaços de participação política e à repressão militar, deixou mais de 75.000 mortos, 7.000 desaparecidos e prejuízos milionários para a economia.